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Poesias-->Morte total -- 22/01/2003 - 13:34 (gisele leite) |
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Morrer duas vezes
no corpo e de alma
Morrer a cada outono
Morrer plenamente
sem deixar vestígios,
um triste bilhete,
uma máscara quebrada,
uma flor murcha
guardada entre
as páginas de um livro
Morrer submersa em lágrimas,
afogada em angústias,
na saudade,
no espanto e,
depois na
imediata resignação de
todos que vivem ...
morrer assim sem deixar obra errante ou inacabada,
morrer sem deixar marcas, um relevo,
sombra ou lembrança
em nenhum coração,
em nenhuma alma,
ter merecido a tatuagem de um pensamento,
um toque especial na epiderme,
um longo abraço
ou mesmo uma breve despedida
Morrer é ato solitário,
conciso e inteiro
morrer ainda que por entre a relva
que insiste em encobrir a lápide
morrer ainda que diante das formigas,
dos miniscúlos insetos,
morrer tão completamente
que se um dia
num instante vascilante qualquer
alguém ao ler em voz alta seu nome,
pergutará extasiado e surpreso:
"Quem foi?"
ainda que tropeçem diariamente
em milhões de migalhas suas espalhadas pelo
vasto caminho da existencia |
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