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Poesias-->PEDAÇOS E OUTROS ESTÔMAGOS -- 23/01/2003 - 03:02 (PAULO FONTENELLE DE ARAUJO) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Adorar

e assim alimentar-te

da perna de uma, da boca de outra

transeunte anônima.

Amar

e por isso sorver com afinco

a derrière de uma, os olhos de outra

pedestre qualquer.

Venerar

para depois mastigar

novamente a perna de uma, a boca de outra

moradora que passa.

Ah, sem hesitações

respirar regaços que chegam,

sentindo uma gula maior

pelas naturezas mortas que te cercam,

pelo sabor acre de todas as coisas.

E no desfecho digerir.

Digerir e esmorecer,

que talvez o amor provoque apenas

uma ligeira catarse

no fim do intestino,

uma purificação de tripas,

uma complexa apendicite

terminal.



DO LIVRO:"BORBOLETAS NOTURNAS NÃO EXISTEM"

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