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Poesias-->Aprendi a história nordestina -- 29/01/2003 - 17:15 (Geraldo Alves) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Aprendi a história nordestina

na cartilha poética do sertão.

Geraldo Alves



Aprendi na cabana improvisada,

que o acento é a pedra cor-de-chumbo,

o armador é um gancho de mofumbo

e o cabide a forquilha da latada.;

a copeira, uma vara descascada

e a mala de roupa é um caixão.;

e três pedras num canto é o fogão,

e a gamela de barro é a piscina.

Aprendi a história nordestina

na cartilha poética do sertão.



Trabalhei, senti dor, fiquei aflito

vendo a terra tremer ensolarada,

e a cigarra apitando detonada

no cenário da seca aonde habito.

Me tornei cantador, ouvindo o grito

da corneta matuta do carão,

o piado da gaita do cancão,

e o prelúdio do galo-de-campina.

Aprendi a história nordestina

na cartilha poética do sertão.



Se nascer no sertão foi mais divino,

onde o pai conservava as tradições,

e avisava com doze foguetões

se nascesse do sexo masculino.;

ritual puramente nordestino

avisar através de foguetão,

mas o sexo mudava a condição:

eram seis, se nascesse uma menina.

Aprendi a história nordestina

na cartilha poética do sertão.



Aprendi na escola da aranha,

tecelã sem ter bilro e almofada,

faz o teto de renda desenhada,

ninguém sabe, por isso, o qu’ela ganha.;

engenheira arquiteta da montanha

faz a rede tecida de cordão.;

sem ter fuso enganchado em sua mão,

sem tear, sem ter máquina e sem bobina.

Aprendi a história nordestina

na cartilha poética do sertão.



Aprendi no nordeste da carência,

chove um ano e, sem chuva, passam quatro:

o sertão, sem querer, vira teatro

do elenco das frentes de emergência.

Os humildes da lei da penitência

sobrevivem na triste sequidão,

sem ouvir a palavra do trovão

e sem visita dum pingo de neblina.

Aprendi a história nordestina

na cartilha poética do sertão.



Aprendi no sertão fora de norma,

que tem pouco prazer, mas sobra mágoa.;

tem chão fértil, mas tá faltando água.;

sobra terra sem atos de reforma.

Humilhado e sofrido, se conforma

com promessas de haver transposição.

Vai passando esse filme de ilusão,

entra século, sai século e não termina.

Aprendi a história nordestina

na cartilha poética do sertão.



Me criei no sertão, vendo o projeto

da formiga, engenheira que Deus cria.;

João-de-Barro fazendo a moradia

sem tijolo, sem prumo e sem concreto.;

por ser mestre, servente e arquiteto,

faz a planta da sua construção.;

mostra a casa que faz, a planta não,

porque faz em segredo e Deus assina.

Aprendi a história nordestina

na cartilha poética do sertão.



Aprendi no sertão pobre e disposto,

coroado de seca, fome e peste.;

por ser filho legítimo do nordeste,

afilhado da dor, pai do desgosto,

traz as marcas de luta no seu rosto

soterrado no mau da precisão,

incluído na lei da repressão

e revoltado com quem lhe discrimina.

Aprendi a história nordestina

na cartilha poética do sertão.



Aprendi no sertão que me consola,

onde existem talentos inegáveis.;

onde os gênios sagrados são notáveis,

o repente é a base da escola.

Se sustenta a potência da viola

como marco de grande tradição:

grandes mestres fiéis da profissão

da cultura real que predomina.

Aprendi a história nordestina

na cartilha poética do sertão.

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