Um corpo de mulher

estende-se sobre a plataforma continental

e obstrui a entrada

da baía da Guanabara;

um corpo de mulher,

os seus dois seios mastreados

confundem-se com as torres

do castelo da Ilha Fiscal

e sua cabeleira errante

passa ao largo em veia oceânica;

um corpo de mulher

é a única embarcação com lastro

que boia na hora inicial dos desejos,

e desembarca,

no porto do Rio de Janeiro,

uma carga de olhares,

volúpia contrabandeada.

E o amor é emoção insular;

é sensação mal percebida

através dos elementos;

provoca gestos esquivos.

Encontra-se em tua dura escarpa muscular

Do livro: Boroboletas noturnas não existem