Não sabia ao certo onde me achava naquele espaço fragmentário de tempo. Fluidos sibilantes penetravam-me o corpo e carcomiam-me até a última célula. Espectros invisíveis de dimensões alienatórias, monstros terríveis atormentavam minha mente doentia. No espaço etéreo, eternidades se passavam em segundos.
Pobre e imprestável, via um planeta. Um ciclópico monstro a vagar entre luzes eternas. Em sua superfície, fatos inóspitos e traumatizantes, num espetáculo sem cor, iam-se, perdiam-se na poeira dos tempos. Movimentos magmáticos, massas flamantes como o cobre candente, ocasionando a destruição por onde passavam.
Mas eu, em um mundo distante, inimaginável e obscuro que se entrevia na integração perfeita e universal dos corpos, sob ondas eletromagnéticas difusas no opaco de meu cansado cérebro. Os segundos, em metamorfoses incríveis, eram horas. O infinito tempo se transforma em algo ameaçador. Lembranças de um passado remoto, de uma memória perdida, enevoam-me a visão.
Como um ínfimo e nojento grão de pó, vagando entre abismos incomensuráveis no negro absoluto do cosmo. Era o que fui naquele instante do contínuo. A abiose perfeita. Estava ofuscado por atmosferas brilhantes e de azuis cristalinos espaciais.
Nas esferas suspensas do nada, raios cósmicos trespassavam-me a cabeça. O meu crânio, já esfacelado por horríveis germes do incrível, guardava em seu interior o fluido enigmático da memória. A inconcebível inteligência humana, marcada por acontecimentos sempre hostis. A incerta e constante vontade de saber invadia-me. Mas a presbiopia enchia-me os olhos, e no lapso de tempo, em que mal há tempo, senti-me imensamente só, no frio glacial do espaço interestelar, onde sóis coloridos passavam naquele novo instante, levando emoção ao meu ser totalmente gélido e inerte. No momento estático, definem-se novas figuras, alegres, surgindo um novo ser energético, de onde transbordava a vida. Não sabia ao certo...