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Poesias-->18. O TEMPERO DO VERSO -- 10/03/2003 - 07:45 (wladimir olivier) |
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Não posso dar total satisfação,
Nesta passagem pela tua vista.
Também não posso dar um simples “não”,
Pois simpatia a guerra não conquista.
Numa amizade boa, sem sermão,
Toda alegria há de ser benquista.
Vou temperar o verso com amor,
Caso dê conta d’arte de compor.
Sempre imagino qual será o tema
De preferência de meu caro irmão.
Talvez prefiras ler outro poema,
Que tudo diga, sem hesitação,
Pois agitar aqui o teu problema
Vai desfazer a nossa reunião:
Se me intrometo muito em tua vida,
Terás razão em procurar saída.
Quando requeiro força para o verso,
A turma toda se reúne e fala:
— “Este está bom, de modo incontroverso!
Se a rima é pobre, hás de exercitá-la!
Este está mau, do modo mais perverso!
Caso repitas muito a mesma fala,
Espantarás o amigo que te leia,
Que fugirá da trova: — Coisa feia!”
Eu digo para o mestre que este intento
Pode causar angústia no leitor.
Por muito queira eu, jamais invento
Alguma imagem nova e de valor
Que possa dar à trova movimento,
Sem revelar a arte de compor.
Aí, ao fim da estrofe, a coisa feia
Demonstra que o poeta titubeia.
Meus sentimentos são muito terrenos —,
Podem pensar os que me lêem agora.
É que procuro os temas mais amenos,
Para mostrar que a lei que aqui vigora
Pode tornar o mais, um simples menos,
Aliviando as dores de quem chora.
Embora eu crie um galo em minha testa,
Vou de cabeça, em busca dessa festa.
Pareço ver alguém já deplorando
Não dar melhor destino a esta trova.
Caso estivesse aqui, no meu comando,
Teria de mostrar como renova
A rima, o verso, o metro, tudo em bando,
Que a mente deve ser fértil e nova,
Para causar o endosso do leitor,
Que julgará do tema p’ra compor.
Preocupei-me, assim, com tal assunto,
A ponto de fazer muito rascunho.
Chamei um bom amigo p’ra estar junto
(É que eu queria um nobre testemunho)
E disse para ver que eu não assunto,
Sem pensar na rima que eu rascunho:
Obsessão, angústia, sofrimento
E toda forma inútil de tormento.
Aí, um pé-de-vento leva tudo
E eu aqui, pamonha, a ver navios.
Embora pobre o verso, eu não me iludo,
Pois tenho de enfrentar os desafios,
Que não são dos leitores, sobretudo,
Mas da consciência, que se põe em brios,
Pois menosprezo que não foi o meu,
Posto no verso, o mal não resolveu
Eu vou levando, assim, a melhor rima
Que aqui possa empregar, por este dom.
Já chega de chorar este mau clima.
Seja qual for a sorte deste som,
Eu vou buscar aquele que me estima,
Mesmo sabendo que não seja bom.
Quem sabe, juntos, pondo força aos remos,
Os corações e as mentes melhoremos.
Precisas perdoar-me, bom leitor,
Que a irreverência é triste, bem que eu sei.
Também eu não consigo aqui dispor
Os tópicos preciosos desta lei.
Então, eu vou pedir ao benfeitor
Que reze a melhor prece pela grei,
Rogando a Jesus Cristo me ilumine,
Para fazer um verso que ele assine.
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