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Poesias-->O Ser que dança -- 22/03/2003 - 09:33 (Eloise Petter) |
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I
O ser-aí não está aqui,
caí no mundo.
Que mundo?
Sou o nada.
Falam em paradigmas reais,
constroem reinos, impérios.;
constroem mente e corpo,
verdades, mentiras,
bem e mal.
Fora do absoluto não existe realidade.
O sentido da existência
limita-se pela constatação do "absurdo".
II
Meus gritos giram
no anel do tempo.
Infinitamente
no espaço negro azul.
Via-láctea de dentritos.
Via-láctea de axônios.
Pensamentos roçam minha consciência,
quem está a pensar:
não sou eu!
A inaudita singularidade existencial me apunhala.
Sinto meu sangue deslizando nas nebulosas vazias.
Vivo uma vida que não é minha.
Meus gritos giram
no anel do tempo:
eco mudo de um andarilho cosmológico.
III
Apenas imagens.
surgem e ressurgem em meus contemplativos enleios.
Hoje mesmo, não sei se sonho ou se estou acordada.
Queria gritar tão alto,
despertar repentinamente.
A náusea me incita para um buraco negro em chamas.
Atordoante necessidade de me encontrar,
de saber quem sou,
de achar numa filosofia supérflua
o sentido sem sentido das palavras.
Aquele menino nunca me compreendeu...
IV
O que é que é e não é?
Sou eu!
A negação de mim mesmo,
o não para mim mesmo,
o nada que vem antes do ser.
Tudo se resume em Palavras?
O que sinto?
O que penso?
Estou condenada a estar enclausurada nos verbos!
Estou aí, sem sentido, sem porquê,
mas eu não quero sentido,
sentido é só uma palavra.
Eu quero viver,
mas viver também é só uma palavra.
Tudo se resume em palavras!
V
Eu sei e você sabe:
uma coroa foi jogada aos céus,
as estrelas são imortais
e um beijo pode ultrapassar o horizonte de eventos do ser.
Fujamos então, tu e eu,
para as altas nebulosas vazias,
lá os deuses ressuscitaram
e o homem ressurgiu embriagado.
Fujamos então, tu e eu,
para além das supernovas obscuras,
onde a singularidade do amor
tornou-se uma rosa amarela.
O Acaso é um amante aleatório
e as probabilidades são levadas ao infinito.;
talvez este sonho nunca acabe!
Talvez a realidade não exista!
Eu sei e você sabe:
a vida é um jogo de dados,
um único segundo de amor é eterno,
então não precisamos chorar.
VI
Você quer ir comigo?
Você quer ir até as profundezas do mar?
Você quer ir até o labirinto azul?
Até o ponto mais negro e absurdo do universo?
Você quer dançar ao som das ondas interiores?
Quer rir da sua sabedoria?
Quer brincar com sua angústia?
Tudo bem...
Não precisa ir.
Toda loucura quer profunda solidão.
Toda solidão quer uma triste e rápida despedida.
VII
Violinos e suspiros me alucinam.
A vida é uma louca melodia...
O absurdo é o meu melhor amigo:
...dança...dança...até o final do dia!
...dança.. dança.. até o final do dia!
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