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Poesias-->Farofas ao Vento -- 24/04/2003 - 00:16 (Jactâncio Futrica) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos


Farofas ao Vento





De rumores é que se faz o caráter do homem. De rumores é que se faz a roda das civilizações, que passam sempre na esperança do novo, pra encontrarem (sempre!) a boca desdentada da ilusão. De rumores é que se fazem os massacres e também os amores onde se casa uma boneca tricotada com um cachorro de pelúcia assustado. Cúmulos de acúmulos! Fomos fisgados vivos pela mediocridade que bóia à superfície da mente. Personagens fajutos numa história louca, peixinhos ornamentais a pedalar bicicletas no arco-íris, fascinantes calhordas a partilhar a existência com nossos encantadores irmãos na pujante Indústria da Fraternidade Planetária. Mas ouça este sobressaltante rumor que se aproxima! _ encoste a orelha na televisão desligada e você poderá ouvir perfeitamente... (cá pra mim, desconfio que ele seja mais louco do que se pensa!). Ouça o jingle frenético, o tropel de anjos dançantes a celebrar a próxima empreitada dos deuses: um exemplar e acachapante ataque final à dignidade das massas.



Encontrei Frei Leonardo Boff, bêbado e ensangüentado num botequim. Ele gritava furiosamente, empoleirado numa mesa, pregando pra dois ou três sem-terra, também bêbados e ensangüentados.



“Infalivelmente acorrentados à desgraça eterna, nós, os rancorosos e injustiçados, assistiremos nossos carrascos ascenderem aos céus, leves e iluminados! Ineptos demais pra aprimorar a biologia do plástico, seremos subjugados pelo peso descomunal de nossos próprios traseiros!! Sim... quando nossos carrascos e feitores forem arrebatados ao seio de Jeová, aí sim... livres!.. libertos enfim!.. seremos prosaicamente nocauteados pelo peso de nossas próprias bundas!!! Não sucumbiremos pelas mãos do cavaleiro de olhos de sangue, não desfrutaremos a pompa dum sacrifício a Baal, nem veremos prodígios nos céus! Nossa gloriosa buzanfa _ ela mesma! _ é quem nos conduzirá à Casa de Nossos Antepassados: a cafua encantada, o egrégio cenáculo, o hierático silogeu onde cadáveres ainda não totalmente putrefatos guincham frases em nome de uma realeza remota!!!”



Ao ver minha cara de pasmo, ele se deteve e apontou em minha direção: “Ei, você aí! Você mesmo!.. Tua mãe te procura pra levá-lo pra cama!” Houve um silêncio interrogativo... Ele deixou cair os braços e arrematou, com súbita e desalentada ternura: “Se você for... eu bem que vou entender...”





(Ricardo / César Valério Machado)





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