Na praça surda e abandonada, recém pintada, mal cuidada, mas visitada pela graça da revoada e aonde o sol todos os dias, sem pudor vem chamar o homem pra vida. Na mesma praça, cuja sombra viceja no passado as idéias e os sonhos, nascidas de suor,de lágrimas e de sangue ...vagam três meninos.
A hora passa, a bandeira tripudia no alto da autarquia. O rio mar lá em baixo assola a orla,faz dançar a canoa com a sua valsa sem parar.
Se não me falha a memória é quarta- feira e esses meninos deviam estar na escola.
A hora passa...
Em alguns minutos alguém grita, gente se aglomera, gente se aglomera...
Alguém liga pra polícia!
Eu posso ver em seu semblante a felicidade do feito,o riso sarcástico e inebriante.
Alguém aponta para um rapazinho moreno, de sandálias, de bermuda verde e camisa branca a se afastar sorrateiro, que o guarda, sem demora o algema.
Surge de uma esquina um carro e contra mão da curva mais outro...
Aquele carro cinza, com sirenes vermelhas.; aqueles homens cinzas...
Aqueles homens cinzas, com algemas e armas de fogo a tirar de dentro do trailer dois meninos, que a espreita estavam roubando.
Por que não estavam na escola ?!...
Poderiam ser seus filhos ?
Poderiam ser meus filhos!
Mas a hora passa, no ar o silêncio é interrompido por vozes e medo.
A praça logo fica cheia, e todos apontando, e todos gesticulando e todos xingando e todos sorrindo, E todos dizendo a culpa é do governo.