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Poesias-->Coroa de Sonetos -- 13/06/2003 - 03:50 (Cristina Pires) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Ao conjunto de 15 sonetos, entrelaçados entre si, chamamos de Coroa de sonetos.



Diz Geir Campos (in Alberto de Oliveira, Rio, Editora Agir, 1959 - Nossos Clássicos, pg. 53): Composição poética em que o soneto funciona como estrofe, aparecendo em número de quinze, dos quais o último é formado pelos quatorze versos finais dos anteriores e estes começam, cada qual, pelo último verso do anterior. Esta definição coincide com as de Péricles Eugênio da Silva Ramos (in Coutinho, Afrânio, Souza, J. Galante de. Enciclopédia de literatura brasileira, Rio, FAE, 1990, v. I).; Leodegário A. de Azevedo Filho (in A Técnica do verso em português, Rio, Acadêmica, 1971).; Raul Xavier ( in Vocabulário de poesia, Rio, Imago/INL, 1978).



O poeta cearense Otacílio Colares publicou, em 1979, Entre o bem e o mal, coroa de sonetos que segue esse esquema. No entanto, deixou de rimar o soneto final.



Este meu trabalho foi baseado na Coroa de Sonetos de João Justiniano da Fonseca, que conseguiu a proeza de fazer rimar todos os versos do poema, inclusive o 15º!











Coroa de Sonetos



Cristina Pires

06/2003







I - Beijo de canela







Fecho os olhos ! Sinto o cheiro do cinamomo,



Que nos fartava nas horas de galanteio !



O meu olhar absorvido por entre o enseio,



E a tua cabeça repousava no meu pomo.







Que esplêndidas são as noites de juventude,



Quando o silêncio casa-se com o desejo !



Ah ! Desses belos tempos eu ainda latejo...



As auroras fugidias, fartas de inquietude.







Rochedos com passados já não voltam mais,



Admoestação dos beijos em mares de ais,



Iluminam o farol em sinal de alarme.







Volto então àquele meu Inverno ressequido,



Marcado pela essência do coração fluido,



Daquele incendiário beijo pleno de charme !











II - Beijo primaveril







Daquele incendiário beijo pleno de charme,



Ainda guardo nos meus lábios como uma alfaia,



Vai o Inverno, e fica a Primavera catraia,



Desenvolta em sedosas pérolas de carme.







Navegarei sem bússola nesse alto mar,



Insubordinada onda da maré vazante,



Desfolhado livro, perdido numa estante



Desses lábios que foram a Pátria estelar !







Ah ! Lábios sedutores, Senhores do Lar



Da minh’alma, Gladiadores do meu pesar...



Sou a escrava dócil dessas alfaias lembranças !







Na arena dispo-me do albor da madrugada,



Ao som do ritmo fátuo, e na manhã calada,...



Enterradas no peito ficam as tuas danças.











III - Beijo arrebol







Enterradas no peito ficam as tuas danças,



Na minh’alma o cunho forte do teu olhar.



O vento desvairado leva-me a sonhar,



Que os beijos teus, são mais que vagas esperanças !











Sim ! São poderosos ósculos de arrebol,



Que me castigam...,levemente envenenados,



Pelas veias da poesia, sobem. Amaldiçoados



Sejam, os teus beijos, dados ao pôr-do-sol !







Oh meu Senhor, Dono do meu deserto corpo,



Fonte de mel mata esta sede a cada sorvo.



Fonte Primaveril, mortalha das estanças...







Alcova dos remotos sonhos esquecidos,



Outrora vesti desejos adormecidos,



Hoje trajo-me tão só de velhas lembranças !











IV - Beijo salgado







Hoje trajo-me tão só de velhas lembranças,



Como um ancião soneto que resiste ao tempo,



Em cadência, ritmo da dança do lamento,



Nas harpas suaves, acordes e ressonâncias.







Salteador implacável foste dos meus véus,



Trovador de lira, cancioneiro do luar,



Amo da lisonja, ático do meu pecar.



Excomungada serei dos valentes céus,







Se enxugar o sabor a sal do meu caminho.



Ébria solitária, cálice em desalinho,



Recuso veementemente a oferenda alarde.







Ao lado do orvalho do cardo das saudades,



Encaro o maligno Deus das Tempestades,



Onde deixei solitário e virgem, o carme !











V - Beijo infernal







Onde deixei solitário e virgem o carme,



Será um segredo pelos Deuses guardado,



Num leve roçar de lábios rubros roubado...



Ah ! Esse calor infernal irá matar-me !







Morrerei é certo ! Mas morrerei feliz,



De sorver os teus segredos mais íntimos,



De escavar as terras, sobrados ínfimos,



Longe do alcance das águas do chafariz.







Mas água pra quê, se as raízes do fervor,



Calcinadas em solo fértil deste amor,



Não temperam as novas searas dum céu pardo ?







Cultivemos, então, o canto de um novo vento,



Deitados à sombra dos ramos do relento...



Nas folhas dos álamos..., nas horas do aguardo !











VI - Beijo cuidado







Nas folhas dos álamos..., nas horas do aguardo,



Oscilo pelo canto alegre da cigarra.



Acordes que dormem nas curvas da guitarra,



Fretenir de ternura de um beijo abençoado.







Que hino será esse que cantam os povos,



Que vai de boca em boca, sem nunca morrer,



Essa Espiga cintilante que faz sofrer,



Quando ceifada brutalmente pelos fogos ?







Cometeremos sempre de modo inocente,



Pecados capitais ao furtar a semente,



Da gula de trigo, adiando o joio estragado ?







Mas na Providência vivem o Bem e o Mal.



Ontem navegámos no tenaz temporal,



E hoje figuram as marcas do resguardo !











VII - Beijo profano







E hoje figuram as marcas do resguardo,



Nos rostos carcomidos pela vil demência,



De pensar que cada beijo alimenta a ausência,



Da liaça que preserva cada novo fardo.







Assim fui ! Demente ! Ávida de prazer !



Febre delirante..., obcecação pelo achaque.



Fui larápia e profana. Ah ! Ignorei o vate.



Choro os pesares sem saber o que fazer.







Ilumina-me neste empedrado caminho,



Deus das Trevas, cede-me as hastes do azevinho,



Sucumbirei aos castigos por tanto vicejo.











Saberei reprimir esta minha avareza,



Quando adormeço nua no seio da natureza,



Na noite..., sob o luar prateado de desejo !











VIII - Beijo sem pejo







Na noite..., sob o luar prateado de desejo,



À hora em que as bruxas rodopiam sem parar,



Fluorescentes pirilampos vêm anunciar :



« Cuidado ! Esse beijo é desprovido de pejo. »







Que seja então ! Calai-vos vozes da razão,



Quando o riacho corre desenfreado pro rio,



E nas águas límpidas adormece o frio,



No retumbar dos tambores do coração.







Os castanheiros curvam-se diante de nós,



Perante o sacramento dos corpos sem voz,



E os seus ramos oferendam um belo canto.







Sim!... O canto das águas, águas insubmissas !



E caíram as barragens das noites noviças,



Quando me banhava sob o nenúfar branco.







IX - Beijo do Inferno







Quando me banhava sob o nenúfar branco,



Mergulhada nesse quadro renascentista,



Pintado em cores ocres no silêncio artista,



Comovida por um esquecido quebranto !







Chegou um beijo nas asas da libelinha,



E poisando suavemente na minha face,



Depositou uma aliança do fiel enlace...



Em segmentos vermelhos e carnudos vinha !







Ah ! Perco-me nessas linhas tão perigosas,



Sem medo de adentrar as encostas sinuosas,



Nem esse vulcão em ebulição. E, enquanto,







As chamas do martírio queimavam o mal,



Eu ardia no suplício desse beijo Infernal,



Que de tão incendiário, desbastava o pranto !







X - Beijo inocente







Que de tão incendiário, desbastava o pranto...



Ardiam as lágrimas na palha das campinas,



Ocultas na sombra dos chapéus das meninas,



Que viviam no sonho de um ocaso acalanto.







Ai quem me dera viver sempre em primavera,



Nascer flor silvestre, para nunca sofrer,



Da ausência das borboletas ao amanhecer,



Quando me trocarem por uma nova hera.







Fujo do Inverno negro, e mesmo acinzentado...



Dessas noites vazias sentada no sobrado,



Olhando a poesia na lareira do desejo.







Ai quem me dera voltar aos tempos de outrora,



Nos braços da voluptuosidade da aurora...



Ah ! Que ainda hoje rememoro esse beijo,











XI - Beijo curativo







Ah ! Que ainda hoje rememoro esse beijo,



Perscrutante das entranhas mais escondidas,



Curandeiro das minhas profundas feridas,



Moldaste nas tuas mãos este esquecido seixo.







Seixo do fundo do rio, seco de passado...



Ressuscita agora o manancial turbulento,



Eleva-se mansamente ao sabor do vento,



A cupidez, a luxúria, a ira e o pecado !







Sim !... Sei bem que são sacrilégios capitais,



Que pagarei em confissões dominicais !



Mas antes deixo voar a mente...o pensamento.







Debruçada na janela da luxúria,



Solto as amarras do meu ser que no andamento,



Flutuava nas alamedas do firmamento !











XII - Beijo do pecado







Flutuava nas alamedas do firmamento,



De mãos dadas com a cupidez e o pecado.



Que mais me dá se me ofertam o mau olhado



Se é o teu beijo que me invade o pensamento ?







Permaneçam com o meu corpo!... Tanto dá !



Essa não é essa a minha maior preocupação.



Que deixem a minha alma viver na monção...



Modesta moradia que a Terra engolirá.







Para ver-te chegar vestido de canela,



Nem os ventos me arredarão desta janela,



Nem os Diabos afastarão esta quimera,







Recolher esses teus doces lábios nos meus.



Impávida vejo-os passar esses ateus,



À janela, vestida de carmim e hera.











XIII - Loucos beijos







À janela, vestida de carmim e hera,



Brincos de rocio..., aroma d áurea das cidades



Rompia a primavera no rasto das idades



Uma e mais uma, adentravam na nova era.







Serei tão patética neste meu sonhar,



De defender eternamente o beijo teu,



Semeado nos malmequeres que Deus me deu,



Quando desfolham os bem me quer sem parar ?







Ah ! Que tresvario desenfreia a tua imagem,



Que até as rosas brancas saem da folhagem,



E enlaçam-se na promiscuidade da hera.







Quanto jubila o meu coração silvestre,



Ao auscultar o teu madrigal campestre,



Quando, eufórica, ficava à tua espera...















XIV - Beijos líricos







Quando, eufórica, ficava à tua espera,



À janela via as andorinhas passar...



Vestidas de gala voando no versejar,



Voam, como eu voo, nas esquinas da primavera !







Ficam os tempos, vão-se as cálidas vontades,



De abraçar o tempo fútil, desperdiçado



Em retóricas infecundas do passado,



Que só voltam nas asas livres das saudades !







Ah ! Quem me dera viver a vida outra vez,



Lutar arduamente contra esta timidez,



E deixar de enaltecer tantos sofrimentos !







Cortar as asas do abutre venenoso,



Morrer no antídoto do beijo amoroso...



Ah ! Aprazíveis eram aqueles momentos !







XV - Reminiscências desse beijo







Ah ! Aprazíveis eram aqueles momentos,



Quando, eufórica, ficava à tua espera



À janela, vestida de carmim e hera,



Flutuava nas alamedas do firmamento.







Ah ! Que ainda hoje rememoro esse beijo,



Que de tão incendiário, desbastava o pranto,



Quando me banhava sob o nenúfar branco,



Na noite..., sob o luar prateado de desejo,







E hoje figuram as marcas do resguardo,



Nas folhas dos álamos..., nas horas do aguardo



Onde deixei solitário e virgem, o carme.







Hoje, trajo-me tão só de velhas lembranças…



Enterradas no peito ficam as tuas danças,



Daquele incendiário beijo pleno de charme.



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