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Poesias-->Cinco quarteirões -- 11/08/2003 - 19:10 (Ademir Garcia) |
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CINCO QUARTEIRÕES
Esquisito,
aquele dia em que nada fluia direito,
que direito ele tinha de resmungar,
mas resmungava a sorte de nada fazer,
e nada fazendo é que nada fluia.
Um amigo,
que outro amigo esquisito tinha,
aproximou a idéia de fazer fluir,
e poderia fluir se fosse feito direito,
o que o amigo esquisito queria fazer.
Resolveram fazer,
armados de um pouco de sorte,
talento e armas de fogo também,
pareceu-lhe que agora algo iria fluir,
bastava de assalto tomarem alguém.
A hora errada,
aquele dia nada poderia fluir,
e já não adiantava nem mesmo resmungar,
pois logo de pronto alguém mais viu,
e resolveu de imediato a policia chamar.
A primeira vez,
era mesmo a vez primeira que fazia,
só porque naquele dia fatídico,
o amigo do amigo esquisito garantiu,
que fazendo direito tudo certo daria.
Foi amargar,
um tempo foi amargar na cadeia,
embolado no meio da bandidagem,
onde a defesa era o mais bandido ser,
porque lá não há a tal da camaradagem.
Se defender,
em própria defesa todos viram que foi,
quando numa briga que se armou,
entre sua vida e a de outro bandido,
o outro bandido foi ele quem matou.
Amargar mais,
isso no que deu o novo processo,
que aquele amargar um pouco virou,
pois somando as duas penas cruéis,
na cadeia vinte e dois anos ele passou.
Hoje caminha,
bem do meu lado caminha contando,
que naqueles vinte anos que tinha,
se pouco sabia das coisas da vida,
na vida fechada foi que tudo aprendeu.
Aprendeu muito,
pois nada fluia nos seus dias de ateu,
e contou que hoje é portador do vírus HIV,
mas que isso ele vai tirar de letra,
porque no cárcere foi que Deus conheceu.
Cinco quarteirões,
caminhando a meu lado chegou a chorar,
pois em cinco quarteirões isso me contou,
e acreditava que não houvesse ninguém,
a quem pudesse sua história desabafar.
Em silêncio,
creio que no meu silêncio também chorei.
AdeGa/98
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