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Poesias-->Poema Vazio -- 05/09/2003 - 16:27 (Roberto Ponciano Gomes de Souza Júnior) |
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Poema Vazio
Não sei onde foi parar aquela poesia que me vinha do fundo da alma
Como o abraço recebido pelo exilado
Na volta à terra amada.
Onde está calor, a energia que me abalava o corpo
E me fazia da vida um defensor.
A fé se foi e me deixou a angustia
De um dia poder ver com outros olhos meu país.
Uma terra de seres que sejam humanos
E que não sorriam ao saborear seus cafés
Assistindo meninos lambendo restos no lixo.
Não imagino onde se escondeu minha verdade,
Nem quando comecei mentir assim.
Talvez o cinismo seja um vírus televisivo, a la Paulo Francis,
Ou apenas falta de caráter de quem perdeu o trem da historia.
Gostaria de, ao acompanhar minha geração, saber onde vamos.
Também no sexo sentir um encontro, carinho
Não ser um monte de impulsos que obedeço, tentar decifrá-los.
Talvez eu compre um tênis Reebok
E me veja assim lindo na vitrine do novo shopping,
Quem sabe através do ar, refrigerado,
Eu não sinta minh alma sufocar.
Será que me sentirei eu?
Tenho reflexos desconexos de mim mesmo.
Não me vejo refletido no espelho.
Os heróis do meu tempo não comem marmitas frias
Nem palitam os dentes em restaurantes baratos.
Sequer falam português.
Quem os serei?
Um calidoscópio de propagandas formará o novo high-tec man .
Não precisarei mais ligar o televisor
Ligar-me-ei na tomada,
E os anuncio, eu os serei.
Comerei cada mac lanche e sairei com todas as modelos
Em cada ano, no carro modelo do ano seguinte.
Serei feliz como as famílias das novelas do horário nobre
E não pensarei em nada que me faça pensar.
Assim escreverei um novo poema,
Cheio de marketing, imenso, onde as letras,
Em neon, combinem formando sempre novas palavras insonsas.
Um poema moderno, de sucesso, pop.
Escreverei um poema vazio.
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