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Poesias-->OPUS MAGNUM -- 03/11/2003 - 01:56 (Jactâncio Futrica) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Tá amarrado!





O poema viadíssimo que reproduzo logo abaixo é de autoria dum conterrâneo aqui de Campinas, cujo nome _ Astolfo Foletti Utiuka _ me dou a liberdade de apontar, mesmo correndo o risco de um processo judicial. Versinhos, por sinal, merecedores da medalha de ouro no 18º Festival da Poesia Homoerótica de Pelotas, 1993. Antes de tudo, leia com atenção, e sinta a quantidade de frescura que pode caber num só indivíduo. Vai ser viado assim lá na puta que o pariu! Depois eu conto o resto...





C H A M E G O . M O L H A D O

(o amanhecer do amor em mim)



ai, Paulão

moléstia minha

mameluco psicopata

que me alucina a razão

e me faz pantera

louca

desvairada

desavergonhadamente TUA

astronautas do amor

abjulindamentesentirprazerprazersentirdor

qual pirilampos do sexo

ou lua

assim assim

só de repente

duas locomotivas da paixão

ou estrela

quiçá cores e bocas

benga

bunda

côncavo convexo

desvirginando a madrugada do meu ser

a cavalgar loucuras

djavanear delírios

no ectoplasma do afoxé



Pisa!

pisa este peito puto

coração bandoleiro

vem meu mal

mal mel

vem meu ursão cabeludo é no oceano

dos teus

múscu

los

que eu sou mais eu

vem

e me faz gostoso

me faz puta

rameira

faz com força

que eu quero mais

me arregaça com jeitinho

me enche de sevícias

faz-me sentir menina

judiada

perdida

translucidamente mente lúcida transa

e ressucita-me no vai-e-vem

desse chouriço moreno



nao gosto de melancia

eu quero a tua fragrância

te quero ainda

te quero nu

tu rela angu

purucutu



ai Paulão!



* * * * * *



Pois bem. Essa tetéia desmilingüida que escreveu esta palhaçada aí acima, um belo dia teve uma grande desilusão amorosa. O problema começou pelas finanças. Seus rendimentos como professor de dança flamenca e conselheiro da ONG Desbunde Global, não mais bastavam pra sustentar a boa vida do Paulão, que se tornava cada dia mais exigente. Só com coquetéis de anabolizantes, o mocetão já consumia quase metade da renda do nosso poeta. Já há algum tempo ele só acordava de lua virada.; a regular mesada que vinha recebendo não mais bastava pra aplacar seu mal gênio. (Convenhamos porém que este gênio destemperado tinha lá o seu encanto pro Astolfo, sabe-se lá porque. Mas tudo tem limite...) Às vezes Paulão dava um ataque mais severo, quebrava tudo, gritava que não ia usar aquela porra de sapato ou aquela camisa ridícula, pois já os tinha usado uma vez no último mês. E para piorar as coisas, caíra no ouvido de Astolfo algumas fofocas sobre as galinhagens do Paulão _ hipótese que o torturava, de minuto a minuto, pois não podia sequer imaginá-lo nos braços de outro alguém.



Um dia, Astolfo resolveu blefar:



_ Paulão... o que você acha de darmos um tempo?.. Acho que estamos precisando repensar nosso relacionamento, reavaliar nossos sentimentos, nosso projeto de vida a dois...



O gatão bombado nem se fez de rogado:



_ Tudo bem. _ disse com indiferença, sem ao menos afastar o copão de vitamina dos lábios. E na seqüencia, meteu-lhe a manzorra no bolso, sacou-lhe a carteira, esvaziou-a (essas atitudes cruéis davam um friozinho gostoso na barriga do Astolfo) e dirigiu-se ao telefone.



Vinte minutos depois, ao ouvir o som duma buzina lá embaixo, na portaria do prédio, Paulão pula do sofá, dá uma ajeitadinha apressada nos cabelos e sai sem dizer nada _ não sem antes usurpar-lhe o isqueiro e o maço de cigarros.



Astolfo olha pela janela e vê seu Apolo embarcando num Mitsubishi vermelho reluzente, pilotado por uma estilosa morena. Aquilo caiu como uma bomba! Ele percebeu que Paulão já estava enredado no adultério, não era de hoje.



Desvairado, fora de si, Fofoletti resolve atear fogo na coleção de CD’s de seu amásio.; chorando, dando chilique, fazendo uma zorra desgraçada. Em seguida, engole umas dúzias de Prozac e Diazepan. Quando o síndico e alguns vizinhos arrombaram a porta, atraídos pelo cheiro da fumaça, encontraram-no desacordado, trajando um robe de chambre de seda escarlate, o rosto primorosamente maquiado em tons carnavalescos.; as cartelas vazias de remédio espalhadas ao lado de uma garrafa de Honolulu Cocktail, e na ‘vitrola’, suspiros plangentes de Adriana Calcanhoto, no último volume. Levaram-no ao pronto-socorro onde foi feita uma lavagem intestinal e providenciada a internação.



Ele se safara por pouco, mas _ do fundo do coração _ preferiria que os vizinhos intrometidos o tivessem deixado se estuporar em paz naquele dia. Sua alma, ainda presa da mais cruel tortura, clamava por libertação. A cada dia se lhe tornava mais claro que ele não podia, não, não podia mesmo, viver sem os abusos e porradas do Paulão! Este, em questão de dois ou três meses havia encaretado, engordado e assumido um relacionamento convencional com a morena pintosa. Além de lhe terem roubado o bofe, haviam-no transformado numa criatura insossa, um réles mauricinho saudável. Aquele menino travesso que fora o sol de seu viver, achava-se agora travestido de executivo... havia passado pro lado de lá! O pior é que, apesar de balofo, teatralmente sisudo e metido num terno-e-gravata, alguma coisa de misteriosamente perversa ainda lhe fascinava naquele pedaço de homem. Debaixo daquela calça de linho ainda repousava a velha tatuagem em letras góticas, ‘LEMBUCO’, que quando devidamente acariciada se transformava em ‘LEMBRANÇAS LINDAS DE PERNAMBUCO’.



Um dia, após sair do trabalho, Astolfo pára num boteco e enche a cara de cana. Saiu dali tão porrado que nem pagou a conta (o cara do bar deixou pra lá, abestalhado com o estado de loucura da odalisca). E lá se foi, desgovernado, beliscando azulejo pela noite de Campinas. Nervoso, xingava e agredia quem topasse pelo caminho.; não precisava mais disfarçar seu ódio a tudo e a todos, pois estava imbuído do mais firme propósito de se matar, novamente _ só que desta vez substituiria o drink por querosene.



Em seu desatino, entrou sem perceber num desses templos faraônicos da Igreja Universal. Um dos obreiros, ao ver aquele figura doidaraço, revirado do avesso, foi logo lhe catando pelos cabelos e o arrastou até o picadeiro, onde o pastor gritava imprecações contra o capeta. Jogou-o de quatro sobre o luxuoso tapete, aos pés do sacerdote. Este _ um tipão nada refinado _ engatou-lhe uma chave de pescoço e começou a berrar.



_ Das minhas mãos estão saindo labaredas de fogo! Conclamo todas as falanges do Senhor a me assitirem neste momento ungido! Das minhas mãos estão saindo labaredas de fogo!!! Queima, Cabrunco!!! Queima, Legião!!! Sai dessa vida, Porco Imundo!!! Das minhas mãos estão saindo labaredas de fogo!!! Mil labaredas!!! Dez mil labaredas!!! Um milhão de labaredaaaaaaaaas!!!!!”



Não deu outra! Astolfo deu um tremelique e desmaiou. Quando voltou a si, o pileque havia sarado, a munheca parara de abanar, e a imagem de Paulão, por incrível que pareça, parecia-lhe uma lembrança remota. Em suma, sua viadice havia sido varrida pros quintos dos infernos.



Obrigado, muito obrigado, bispo Macedo! Graças à tua santa doutrina, hoje em dia _ seis anos depois _ Astolfo Utiuka é um ser liberto dos caprichos da Pomba Gira e do Neguinho da Aruanda! Largou a cocaína, a macumba e aquela mania de “o que entrar é lucro”! Agora é o Astolfão, o desmancha-samba do Morro do Futum! Homem probo! Leal dizimista! Já acabou com muito baile funk, no grito, com uma Bíblia debaixo do braço! Mas, acima de tudo, Astolfo é um pai-de-família exemplar.; um cabra acima de qualquer suspeita! Dois filhos no talo! E mais: um pedreiro de mão cheia, pau pra toda obra!



De vez em quando ele ainda tem pesadelos com o Paulão fungando no seu cangote. Acorda suadão, soluçando, mas depois se acalma: “Afi, creindeuspai!.. Sonho é sonho... tem nada a ver!”



Eu, que sou membro da Igreja Fudistérica do Apocalipse, sei bem como é foda a luta contra as forças do Inferno. Só não entendo por que o Demônio (um espírito tão ilustre e poderoso) não se cansa de passar a eternidade inteira perseguindo uma cambada de bundas-sujas miseráveis e barangas histéricas. Imagine um homem eminente que passasse a vida inteira obcecado na tarefa de perseguir e torturar baratas e formigas. Pois o Satã dos hebreus se presta a isso! Vamos então orar para que o Astolfo agüente firme e não volte a pisar na bola.; porque o Demo é mesmo um sujeitinho insistente!.. a gente larga ele, só que ele não larga a gente. (Quanto mais aqui, nesta louqueeeésima Campinas!).







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