Eu vejo o meu povo escandalizar-se pelas esquinada da cidade.
Pessoas flageladas,
Pessoas maltrapilhas, sujas, sem roupas, sem nada.
Pessoas desempregadas andando na corda bamba, andando em círculos, procurando a sorte, cansados de procurar indo para o norte.
Pessoas desencorajadas, pessoas perdidas nas praças.
Pessoas simples, aceitando a vida, aceitando. Já sem auto-estima, sem teto, sem vigor, sem mágoa.
Vazias, totalmente vazias em suas celas solitárias, de carne, ossos e dores.
Eu vejo o seu povo...
Respirando com fome, esmolando a morte, sem respeito pela vida.
Sem luz, sem rosto...nas calçadas, olhando através da vitrine.
Nas altas horas da madrugada, a chuva castigando o solo, molhando, fazendo nascer, molhando as flores e seus espinhos, nunca cansados de falar do amor, de nos oferecer. E um silêncio soturno vem me dizer que os pais perderam os filhos, que a noite perdeu a lua, que meninos e meninas perderam os olhos, que o homem moderno perdeu o coração e o nosso país segue ainda sem rumo.
Tomara que os próximos dias, diante da insanidade de tantos atos, de tantas vidas, a alma, por si só devolva a luz ao corpo e a sanidade a uns poucos.
Tomara essa minha esperança possa, além de mim, fazer sonhar, outros sonhadores.
Quem sabe, após a chuva a lama e a água não limpam os olhos desse sofrido povo!