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Poesias-->O ANJO LIBERTADOR -- 19/01/2004 - 10:45 (adelay bonolo) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
O ANJO LIBERTADOR



Enquanto isso, num país distante,

Cuja realidade nem de longe vislumbramos,

As tragédias se multiplicam...



Mãe e filha se escondem

No estreito buraco escuro sob a casa,

Cavado há pouco pelo marido ausente.



A filhinha, apertada fortemente ao peito da mãe,

Choraminga entre soluços cortados pelos trovões.

A cada relâmpago a coitadinha se comprime mais...



O peito da mãe arfa, sobre o coração disparado.

As lágrimas silenciosas espargem-se, como chuva,

Sobre os cabelos, cor de tâmara, da inocentinha...



Os relâmpagos, implacáveis, aproximam-se rapidamente,

Rapidamente e ferozes, seguidos de infernais estrondos.

— Mãezinha, se nunca chove, por que relâmpagos?



— É a visita do anjo que nos vem libertar!

Ele vem em forma de luz

E nos livra do jugo satânico...



— Se nos livra é do bem! Por que os estrondos?

— Os estrondos, filhinha, são as gargalhadas do monstro,

Do monstro esmagado pela luz que liberta...



— O papai também será libertado?

— Ele já o foi no último clarão da madrugada

E quem sabe já nos espera no Reino da Liberdade...



Lá fora, outra mãe, a de todas as bombas,

Sobre hospitais, praças, ruas e mercados,

Produz salvação em massa, destruindo a História...



De repente, um clarão mais forte incandesce o buraco:

—Mamãe, grita a filhinha, cadê você?

Cadê você? Cadê você? Cadê vo...



E o buraco negro se faz luz e escombros,

Luzes e escombros da liberdade!

Alá seja louvado!



abril/2003



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