Cobrindo barracas de lavradores incrustadas às margens.
Do outro lado da ponte sobre córrego seco,
Desce a ladeira a princesa daquele povoado.
Pisa forte, passadas largas, senhora de si,
Cabeça erguida, altiva, mulher moderna(1).
Traja roupa de pobre, vestido simples,
Não muito colado ao corpo, quase solto.
É nova, rosto bonito, cabelos ao vento,
Sorriso maroto, muito safadinho!
Seios duros, pontiagudos, como acúleos de “paineira”(2) ,
Se insinuam no balanço da roupa
Movida pelo vai-vem das ancas graciosas,
Cuja silhueta os panos, como seda, quase não escondem.
Quanta riqueza perdida nos cerrados,
Quanta beleza sutil não desvendada!
Aquela moça, talvez sem se dar conta,
Faz do seu mundo um paraíso!
Vejo tudo num relance a quase 100 km por hora!
Maldita velocidade que me priva do céu!
Ah, quanta felicidade não teria se pudesse
Revê-la na próxima ladeira da vida!
E desce firme, livre, concupiscente, lânguida,
Ela, sem terra, sem teto, sem quase nada,
Dona, porém, de muitos homens,
É a rainha do mundo, mas não sabe disso!
agosto/2003
(1)Lembrei-me aqui da “moça da vinólia” – conhecida propaganda comercial de cosméticos voltada para a mulher moderna, altiva, cabeça erguida, passos fortes e vigorosos, passando sobranceira entre multidão de homens admirados!
(2)Paineira - Grande árvore da família das bombacáceas (Chorisia speciosa), peculiar às matas, provida de grandes acúleos (espécie de espinho) no grosso tronco, folhas digitadas e enormes flores róseas, altamente ornamentais, e cujos frutos fornecem a paina.; paina-de-seda, barriguda, Muitos a confundem com a barriguda (até o próprio Aurélio!), árvore parecida, também de flores belíssimas, mas sem, ou quase nenhum, espinhos no tronco!(3)
3)Barriguda - Bot. Árvore da família das bombacáceas (Cavanilesia arborea), de tronco muito grosso, com grande reserva de água, e flores vermelhas, sendo o fruto uma grande cápsula alada.; embaré, árvore-da-lã, castanha-do-ceará.