LEGENDAS |
(
* )-
Texto com Registro de Direito Autoral ) |
(
! )-
Texto com Comentários |
| |
|
Poesias-->NAS ÁGUAS DESTE RIO [Em memória de meu pai] -- 05/03/2004 - 11:28 (M a r t i n h o J C B r a n c o ^^^@r 2005) |
|
|
| |
NAS ÁGUAS DESTE RIO
Em memória de meu pai
Nas águas deste rio refresco as mãos e o olhar. Nas linhas imaginárias destas folhas
quero escrever e sonhar. Nos dias desta ou de outra futura vida, desejo voltar a
encontrar-te, falar-te e viver a teu lado no teu mundo solidário e amigo.
Como se fosses um rio vigoroso, caminhaste, pai, para outros campos de palavras e de
sonhos. No silêncio das vidraças, deixaste o teu refúgio, a tua pequena e bela aldeia, no
sopé de uma Serra. Numa corrente adversa, navegaste sem medos. Desfraldaste velas ao
vento e foste profeta de muitos e belos sonhos de menino. Colheste ondas de trigo e
semeaste tantas emoções em campos de outras marés...
Meu pai conheceu minha mãe numa tarde de não sei qual, estava eu sentado, jogando às
cinco pedrinhas com a minha irmã, no degrau da porta da casa onde nasci, mais tarde,
de parto natural. Confuso, não é?
Como frutos proibidos ali estávamos fora de tempo, num tempo que existindo não
existe e não vivi, mas conheci e recordo...
Meu pai, marinheiro dos sete ventos, viajava de bicicleta, com pedais de pensamento, da
praia dos nazarenos à terra de minha mãe...
Como um rio, acho eu, fiquei à espera do tempo prometido, debaixo duma figueira, para
os lados de Alvados. A figueira dos namorados...
O tempo passou por entre caracóis, tesouras e ondas. Por entre sustenidos, bemóis e
filarmónicas. Sonhámos. Crescemos e fomos felizes, à nossa maneira. É verdade! É
lentamente que vamos sendo desejados e amados...
Pai!...
Voltaste a partir, ó pai!...
Vês?
Tu tens tantos amigos, que até as nuvens choraram por ti nesse dia tão triste...
Pai...ó pai!...
Martinho Branco
[do livro "A Barca das Gaivotas",
2º lugar no PRÉMIO LITERARIUS 2003
do Racal Clube de Silves - Algarve -Portugal]
|
|