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Poesias-->Morte no jardim -- 11/04/2004 - 16:16 (Isaias Zuza Junior) |
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Morte no jardim
Há morte no jardim. Há desencanto no jardim.
Histórias de seres não mais há, pois os livros
fecharam-se e suas páginas não mais contam a
história do mundo, a fantasia dos homens ou o
nascimento de seus filhos como algo fantástico.
Quem antes andava perdeu seu rumo e trancou
seu coração numa máquina de números, nada
mais que um livro virtual sem beleza, sem rosto
ou cérebro conduzindo entre o sangue toda lama
vinda do pó, natureza humana, como flor na terra.
A beleza era como morrer num retrato, onde não
gira a roda da fortuna, onde caem os castelos e o
vento grita apenas para as folhas de papel, soltas
como não houvesse mais nenhum templo de ninfas
a guardar mitologias, obras raras e discípulos nus.
Silêncio. Silêncio no meio do mundo. E foi só que
se fez a morte de cada flor, o frio do inverno e os
luminares caindo do nada para as telas que dão cor
luz emancipada nas letras da pena e do coração seus
– O cantor era só, era só... a mulher, e não resta flor –
Em todos os cantos soava tristeza e vulcão, tornado e
maremoto, e não havia em tudo sequer um movimento
de condição humana, pois não havia já mais alguma
gente (não era mais o sofrimento, não era mais a rosa,
como não era a alegria, na terra nada mais ficou), era
apenas um vale desencantado o chão, canção triste era...
E ficou de tudo eu, e ficou de tudo quem continuou ser
de aço e silício num pouco de plástico substituindo os
papéis avulsos, conjuntos de obras e mesas de trabalho
por números e tudo o que não há mãos sem os olhos, os
afazeres de menina no fundo de um jardim desencantado.
Se a pele de cada flor secou, não há como saber, se o pó
e o brilho não produzem mais estrelas na alquimia das telas
e das fotografias, se não há euforia nas luzes, é que ficam
os encantados pela vida menos mundano, menos criança e
abrem os lábios, sangram de espinho e tiram a beleza do rosto.
Sem livro que conte a fúria de cada homem, resta
apenas uns muros de cristal como castelo de areia
na beira do mar, na ponta do céu, na volta da lua e
sob tudo isso morrem as mulheres e as crianças como
se esvai dos pulmões da gente o vento da terra seca.
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