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Poesias-->ARTES OU VÍCIOS -- 23/01/2000 - 17:06 (Paulo Pereira Nascentes) |
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Artes e ofícios coleciona
minha vizinha parda (olhos de espera)
o marinheiro de olhos ébrios
de vinho e mar
deitou-lhe âncoras profundas
no profundo pélago.
Ia e vinha o ébrio marujo
no seu vaivém de ondas do mar.
Afirmava o pedreiro de olhos concretos
ter-lhe dado marretadas
no fim-de-semana ao luar.
Picareta, foi duro e fundo
o pedreiro da angústia assalariada.
O padeiro - bem, o padeiro -
com seus olhos-fuligem
apenas meteu a mão na massa
dos seu arrepios mais sinceros.
O pianista de olhos ágeis
feito mãos de pianista
inventou partituras inéditas
naquele quente regaço
mas seu concerto-fracasso
foi sinfonia inacabada...
Buscando a síntese incansável
de todas as vocações
Parda anelava estreitar
em seu leito messalina
o supra-sumo abstrato
das presenças masculinas.
Parda, a vizinha de olhos-vulva,
organizou procissão de santos
bêbedos moleques
romaria de incontáveis
profissões em leque
em torno do seu umbigo.
Visitaram-lhe as carícias
gozando fatais delícias
dos cheiros mais delicados
o ancião pipoqueiro
de olhos saltitantes
e nenhuma penetração
o bicheiro olhos felinos
e manias de menino
em contínua masturbação
o motorista olhos-estrada
aprontou-lhe um caminhão
de derrapantes libidinagens
o lutador de boxe olhos-porrada
numa de suas esquivas
e após rude contrataque
nocauteou-lhe o pardo coração amante
- esfrangalhado -
E a síntese se fez epitáfio
lapidar no mármore frio do esquecimento:
"Aqui jaz
uma consciência profissional
com seus olhos-vento".
PAULO NASCENTES, In: Letras vivas: os poetas no rádio. Rio de Janeiro: Hossanah, 1984.
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