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Poesias-->Nada! -- 11/05/2004 - 02:17 (Márcia Possar) |
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Olha-se no espelho
e pode-se ver exclusivamente nada!
E o nada fica naquele lugar tão frio,
tão penoso, úmido e tão engolido
pelo escuro da imagem apagada,
que não se vir é até consolo
- desafogo para o seu vulto nebuloso.
Quando se está completamente preenchida
por esse vulto nebuloso e nota que
talhou-se desse legado apequenado e aquoso.;
e se atreveu a imaginar-se feito alguma coisa emplumada,
é quando se pode encontrar
finalmente oca - o seu eu truncado!
Vem com as mãos abanando.
É o seu próprio eu caminhando no nada,
se possuindo, se reconhecendo
e se amealhando calada.
É como estar-se em pé diante do breu,
porque sabe-se calabouço,
com a sua medida e o seu tamanho.
Lá mesmo, onde você está, evitando chocar-se.
Até se chegar ao nada não se percebe a luta.
Tão inserida que se está nisso.
Então começa-se a cuspir.
E, como fosse o seu próprio gosto,
o gosto de coisa alguma
escorre de você.
Você se cospe.
E por mais que se cuspa,
não consegue ver sair a sua alma.
Tudo que você queria:
Livrar-se da sua alma e ser somente corpo
- é o que importa afinal de contas...
Mas ela não se deixa escarrar,
precisa do tempo em suspenso.;
precisa dessa tortura momentânea,
para transformar-se em alguma coisa
que seja mais e melhor do que nada.
Corre-se, então, de um lado para o outro
e não se encontra,
não se vê e não se sente.
Grita-se por dentro e não se ouve.
Perde-se a força e parece que a luz também
- se é que o nada possui luz.
Precisa tirar-se de cada canto,
apagar-se das paredes
onde se rasgou em sonhos e sentidos.;
apagar-se dos lugares onde andou
e construiu pontes,
porque elas agora são nada.
Precisa reduzir-se a nada...
Para, somente depois,
poder fazer alguma coisa de você.
»«2004»« Janeiro/31
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