O Vinho
Eu, sozinho,
E o vinho.
Ninguém me olha;
Pra ninguém eu olho.
Pra o que me cerca, o desprezo;
A indiferença.
A luz que inda pouco eu via,
Ao entardecer, e assistia,
Atirou-me à sombra,
E eu mergulhei na sombra.
Como as minhas mãos tremem...
As minhas mãos tremem.
Como sempre, me fazem tremer
As sombras.
Um doce em volta:
- O vinho.
Eu o sorvo aos goles
A doçura única à volta
Como se a tua língua fosse,
Úmida e doce
Tal qual o vinho, e amarga.
Ao mesmo tempo doce e amarga.
Ah, esta luz...
Desde o que quer que é, não sei,
Eu não vejo.
Somente o reflexo na taça,
Passiva, branca, e serena
Tal o vinho na taça branco e sereno.
A minha sombra escurece, e,
Tremulo, eu silencio o que eu sinto, e
Calado, sufoco e emudeço o que me aflige:
O grito: O silêncio desta hora.
Do vinho doce transmudado em fel.
– E agora...
Agora, amo-te.
Em cada gole, em cada sorvo.
E como em tuas ninfas, boca, olhos e face,
Eu lambo a taça, e
Num impulso nervoso engulo o vinho todo.
Engulo o vinho, tonto, e loucamente.
02.11.2000
Erbon Araújo
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