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Poesias-->CALLE -- 05/11/2000 - 09:31 (João Ferreira) |
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CALLE
Jan Muá
5 de novembro de 2000
Eu te procuro
Com a curiosidade de um poeta
E te vislumbro nas tuas formas gregas índias
Africanas e orientais
Nas tuas marcas de cultura
No teu élan vital
Quero olhar-te
Acompanhando teus passos
Teu movimento de textos e contextos
Intermináveis
Como se fosses palavra-chave
De étimos e raízes
De conjugação de verbos regulares e irregulares
Com paciência de Jó farei a leitura
De teu texto e intertexto
Buscarei a semiótica de tua cultura
Para ficares exposta a meus olhos
Sempre presente à minha análise
E ao meu desejo de ver a tua luz
Espelhada no teu rosto
Ver-te-ei sempre na imagem luminosa do corpo
Na máscara imediata ou na lembrança de ontem
E na saudade transmitida pela memória
Ficarás em mim se gostares de ser tratada
Pelo pincel da arte
Se gostares de ser devassada
Pelo olho clínico da observação
Ficarás jazerás
Num duo coral sem cansaço
Ficarás até que esgotemos nossa relação
De conhecimento e prazer
Nossa relação moralizante e ética
Nossa moral de lealdade
E de reciprocidade
Ficarás
E abrirás tua escola de iniciação
Serás mãe filha irmã
Trocarás funções ensinarás dirás
Rirás apreciarás gostarás não desistirás
Levarás até ao fim a modelagem
Eu serei tua criatura
Tu serás minha tinta
Puliremos nossa vontade
No caminho de um grande sonho
Seremos os moradores da nossa idéia
Os íncolas da grande margem
Onde tomaremos o nosso sol
Realimentaremos nossa respiração
Seremos dois em devir para o um
Nas águas do rio de Heráclito
Inteligentes no recreio e no prazer
Buscaremos a arte combinatória
Nos campos da razão e da paixão
Tomaremos o grande lençol de Descartes e de Freud
Temperando razão com libido e emoção
Passaremos à galeria da Natureza
Na catábase da Noite
Contando estrelas e metendo o pé no escuro
Passearemos pelas avenidas enluaradas
Olhando os gatos pardos e ouvindo o piar dos mochos
No tronco enigmático da vida
Dormiremos sem despertar
No leito do sonho romântico
Sem tirarmos o pé do chão
E assim, ora tu ora eu, na avenida
Nas balsas atravessando o rio
Nas florestas verdes e expandidas
Nas florestas dos seringais
Com tua mão abrindo cortes
No desejo branco do látex
Caminharemos doados
Entrelaçados na vontade da travessia
Vestidos de cambraia
De chapéu persa na cabeça
Com recados doutrinais
Descidos da lua
Mataremos a fome das crianças vizinhas
Do nosso in-gloo
Seremos sempre viadores pelas ruas da vida ampla
Que nos deu a mão
E abriremos o templo da história que cavalgará nossa mente
Teremos tempo para bisbilhotar o destino
As amarras hereditárias de nosso sangue
E o que Luís XV fez com Madame de Pompadour
Impediremos a ciência de entrar em nossos televisores
Ficaremos no lago manso
No descanso e na contemplação
Cantando a bela estrela que nos abriu o sonho
Para a nova galáxia
Que eternizará nossa comunhão.
©Jan Muá
1 de setembro de 1995- 5 de novembro de 2000 |
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