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Poesias-->Máquina Rangente -- 06/11/2000 - 05:41 (Georgina Albuquerque) |
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O que é o futuro, senão uma máquina rangente
a qual se propõe besuntar com o óleo da misericórdia?
– Deus salva, Deus guarda, Deus acolhe!
A incerteza de sobreviver ao pranto,
e até mesmo à ingênua alegria de um fim de tarde...
– O arco-íris, o assalto à mão-armada...
O que é o presente senão vislumbrar no espelho
um desconhecido daquele que ontem fui?
Hoje a pele inunda em rugas
e alastram-se, epidêmicas, as manchas senis.
O olhar, no entanto, pareceria o mesmo,
não fosse a imagem evitada e vista de soslaio.
Medo da inércia (ou será paz?)
que a ausência da paixão desperta.
O relógio não tem mais cuco ou badalo
A vida, esta sim, permanece implacável...
O que é o futuro senão esse tremor incontrolável
que lubrifico com suor noturno?
Acordo na madrugada
e revejo os pesados armários da infância.
Não importa onde eu esteja,
ali está o assustador paletó, cobrindo a cadeira.
Mas a manhã, ainda que demore, chega
e a máquina rangendo, forte e estúpida...
Necessito ser untado com óleo morno,
acariciado e acalentado por mãos finas e canto macio.
Que a misericórdia não me deixe só na noite...
Permita ainda uma medíocre luz acesa,
suficiente para afastar fantasmas.
Não me dê conta, suplico, ser eu mesmo
os seres que temo, assombrado.
O mofo da pele não dá mais pra atenuar,
nem sacudir o pó das entranhas.
Finalmente adormeço, abatido,
aos primeiros sopros da manhã...
mgalbuquerque@ig.com.br
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