Eu sai de casa para sustentar os meus outros irmãos menores.
Vendi bijuteria,
Fiz carretos na ferinha,capinei quintais e rezei muitas Ave-Marias.
Dos amigos que arranjei muitos se perderam,
muitos morreram e muitos ainda estão no mesmo lugar.
Crescendo,crescendo,as cinco e meia da manhã me tornava jornaleiro, fui soldado e bem mais tarde carpinteiro.
Quando eu voltei para casa fumava e bebia.Conhecia dos vícios ilegais e vivia.
Minha mãe já estava bem idosa e o meu pai já não existia.Os meus irmãos mais novos já estavam no dia-a-dia e eu de canudo e anel nas mãos procurava na nostalgia o penhor para fazer a esperança vencer a covardia do sistema que nos deixa desempregados,por nossa raça,por nossa idade ou por essa sina de cria.
Quando enfim me empreguei,de canudo nas mãos me tornei um continuo,fui moto-boy, fui entregador de pizza, fui motorista e cobrador.Profissão que deixei quando me casei com Maria.
Com Maria conseguimos um terreno, quando invadimos as terras do senhor Agenor.Depois, que a luz e a água no novo bairro chegou,consegui um emprego de carteiro.Foi esse que me deu aval para ser quem hoje sou...pai de muitos filhos,e de professor,sou agora desembargador.
Quando eu volto para casa,me deito na rede como senhor e conto histórias para doutor.