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Poesias-->Eta Represa Danada! -- 09/11/2000 - 09:57 (Fabio Natal Santana e Silva) |
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Eta Represa Danada!
(ou Lamentos de um sertanejo que saiu do seu meio ambiente, expulso por uma grande represa.)
As águas começaram a subir...
Os córregos engrossam e começam a rugir,
O rio aos poucos vai se amontoando.
Milhares de metros cúbicos de água
Vão se juntando a toda a minha mágoa
E a represa, sem trégua, vai se formando.
Todos aqueles prados por onde eu galopava de manhã
São agora o fundo do oceano de amanhã
E lá não poderei mais passear.
Da mangueira que tocava e arranhava o céu
E onde eu gostava tanto de trepar, ao léu,
Só aparecem alguns galhos à tona do mar.
O córrego onde eu ia pescar aos domingos
Estourou com tanto volume de água em pingos.
Lá não posso mais parar para descansar.
O monjolo que batia e descascava o meu arroz
Já deve estar coberto de algas que depois
Em minha mente irão se embaraçar.
Meus currais que guardavam meu rebanho
Agora apodrecem junto aos peixes que apanho,
Esse foi da represa o único benefício.
A ponte em que passava para ir à cidade
Só dá passagem para peixe - Que maldade!
A sua construção foi tão custosa e difícil.
Minhas plantações tão bem cuidadas
Serão alimento aos peixes, desperdiçadas
Mas muito delas eu vou comigo levar.
Meu gado não trilhará o mesmo caminho
Dos pastos, dos abrigos. Nem os do vizinho,
Pois lá somente os peixes vão passar.
Mas a casa onde morei por tantos anos
Não será habitada pelos peixes ciganos,
Esta eu pude mudar para um lugar distante.
E a terra que me dava tudo que eu queria
Está mais úmida do que quando por muitos dias chovia,
Está agora afogada, como estou nesse instante.
Tudo cai em mágoas no meu interno
E esse meu paraíso torna-se num inferno
E eu só consigo é chorar, chorar, chorar...
Não vejo e nem quero compreender
Que minha mágoa o mar vai sorver
E o seu volume assim vai aumentar.
A hidrelétrica da represa antes que seja tarde
Já começa a produzir a necessária eletricidade
Para suprir esse nosso país sedento de energia.
E eu, sentado à beira desse oceano,
Vejo-o subir e todo meu mundo ir afundan o,
Fico aqui, calado, até o final do dia.
Mudo-me para outra fazenda, desiludido,
Pensando que para sempre serei perseguido
Pelas lembranças, pela saudade, pela tristeza.
E o pior será se quando estiver me acostumado
Com esse novo chão me vier um recado:
Vão fazer aqui uma nova represa!...
- Poesia premiada como 2ª colocada no concurso de Redação da CTBC Telecom (Uberlândia - MG) - Você faz parte do meio ambiente - set/1997
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