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Poesias-->AUTO-RETRATO -- 17/11/2004 - 17:21 (ANTONIO MIRANDA)
AUTO-RETRATO Antonio Miranda Para Sofia Vivo Às vezes sou um, às vezes sou outro: todo mundo é assim, ou é assado. Eu, sem fugir à regra, transgredi. Fui, ao mesmo tempo, eu e o outro - um para dentro, outro para os outros mas, confesso, sou igual a todos num disfarce que é a outra face de uma falsa dicotomia. Mainiqueismos? Planger ou prazer? Nem religioso eu sou, nem romântico, muito menos ideólogo ou assumido de qualquer coisa, na minha infidelidade, falta de fé. E, no entanto, obstinado quase otimista porque realista - na reversão da contradição. Sou um pouco o Orlando da Virginia Woolf o Patinho Feio disfarçado de Dorian Gray fui herói de histórias em quadrinhos namorei estrelas de Hollywood ou, mais terrestre, da Vera Cruz e da Atlântida ganhei o Prêmio Nobel, a Comenda Maior da Confraria dos Poetas Ególatras e Suicidas. Li uma montanha inexpugnável de livros tentei reescrevê-los, sem qualquer humildade subi, letra a letra, degraus estonteantes delirantes, construindo arquiteturas etéreas no círculo vicioso das virtualidades banais. Deveria rasgar todas as frases deletéreas todas as imprecações, todas as contrafações verbais e venais que produzi - lixo execrável. Deveria envergonhar-me de minha falsa polidez de minha insensatez, minhas impropriedades mas tenho a firmeza dos inseguros enquanto os crédulos, os convictos não resistem às próprias contradições. Transgredi mas, juro, apenas verbalmente. No mais, sou casto na minha perversidade. Sou beato na minha mais íntima heresia. E mais despretensioso do que a minha soberba. Quero dizer: no fundo sou inseguro e fiel a princípios de que nem participo. Deu para entender? Nem Deus pressente aquela dor que finjo que deveras sinto ao plagiar aquele poeta que nem mesmo venero. Vou na contra-mão da ordem estabelecida mas, disfarçando, eu vou é de costas e não vou sozinho, participando assim de uma nova modalidade olímpica ou acadêmica. Os que são de Bacabal que me sigam os que usam botas de ferro, brinco de osso que rezam constrangidos, os desamados os sem-bibliotecas, ou sem sentido. --- Este poema faz parte do livro RETRATOS & POESIA REUNIDA (Thesaurus, 2004) e da antologia 25 POEMAS DE ANTONIO MIRANDA (Campo Grande: Editora Uniderp, 2004). www.antoniomiranda.com.br