LEGENDAS |
(
* )-
Texto com Registro de Direito Autoral ) |
(
! )-
Texto com Comentários |
| |
|
Poesias-->POVOAMENTO E CRUZAMENTO RACIAL -- 19/11/2004 - 14:37 (ANTONIO MIRANDA) |
|
|
| |
POVOAMENTO E CRUZAMENTO RACIAL
Poema de Antonio Miranda
Viver com muitas mulheres
- brancas, negras, índias –
podiam os bandeirantes
os senhores-de-engenho
os militares e – por que não? –
ainda que por exceção
também os clérigos
em seu ardoroso empenho
de prazer e povoar.
Pois a terra era vasta e vazia
e havia que multiplicar
e garantir a serventia.
Uma poligamia enrustida
(de linhagens mozárabes
ou de origens tupiniquins
correndo nas veias)
culturalmente consentida
como moeda corrente.
Uma poligamia dividida
entre o refúgio social
da casa-grande
e o subterfúgio da senzala.
Mulatos, cafuzos, mamelucos
numa multiplicação sincrética
e geomética avançando
e povoando sesmarias.
Havia naqueles cruzamentos
inter-raciais
de classes sociais distantes.;
naquela fornicação descarada
protegida pelos estamentos.;
naqueles coitos sem os devidos
sacramentos
um pacto de silêncio
e de não reconhecimento.
Filho de branco com negra
o que era: era negro.
Filho de branco com índia
o que era: era índio
e virava propriedade.
E podia o dono vender
ou esconder sob o manto
protetor
sem nenhum espanto
ou pudor,
a prole.
Até mesmo tê-los como filhos
adotivos
e educá-los
ou domesticá-los como servos
sem nenhum embaraço.
Tudo podia ser
naquela bastardia que a lei
protegia pela omissão
e que a religião ignorava
quando nada podia fazer.
O resultado já sabemos:
a morenidade de uma meta-raça
- base de toda diversidade
de nossa unidade racial
origem de nosso sincretismo
e a capacidade final
de nossa santidade
sem nenhuma beatitude.
-------
Este poema faz parte do livro-ensaio TERRA BRASILIS, em processo de criação via internet. Para ler os textos completos do projeto, acesse
www.antoniomiranda.com.br
|
|