Os nossos olhares encontraram-se, pela primeira vez, num acaso.
Naquele instante, tudo parou... o tempo, o espaço era só aquele que distanciava os nossos olhares... e num murmúrio, anunciávamos os nossos nomes um ao outro, como ventríloquos... chegamos à sensação, que tal coisa não tinha importância.... tudo se centrava no espaço entre os nossos olhos, e não no som pelo qual a memória nos fazia mover.... como dois samurais... um à espera do movimento do outro... cada um ansiando pelo movimento do outro.... nós, os dois, em duelo mortal... os dois em defesa, pela memória... os dois à espera da faúlha que nos iria incendiar, em silêncio... e todo o espaço soturno existente entre os nossos olhares transfigurava-se em campo aberto, num vale verdejante.... entre nós, penduravam-se gotas de orvalho nos inúmeros ramos castanhos negros, que gritavam mudos para o céu e ao vento, pertencentes a uma árvore entroncada pelo tempo, com rugas e raízes salientes, e no entanto, nua... pura.
Sentíamos o vento desse vale na boca....
Gretavam os lábios de tanta sede... queria beber-nos.; tragar a sede, travar a dor do cieiro de uma eternidade....
E ali permanecíamos... um a tentar degolar o outro... bastava um ameaçar de toque, e anunciávamos o fogo de Roma, aos oito ventos... tensos, movimentávamos no espaço dos demais... a aproximação pela música deu-se... de costas te puseste, mostrando o pescoço... entre o beijar e morder, um ápice... mas vi que era manha... resisti.
Teus olhos lançam a chance de um lance de lince... penso, entretanto.
Surpreendendo-me com os teus laivos de sereia, quando soltaste uivos da tua harpa....
Quis tentar ser Homero, mas senti que mesmo o mais destemido marinheiro acredita na sua âncora....