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Poesias-->Hoje o roer das questões -- 13/11/2000 - 15:58 (Erbon Elbsocaierbe de Araújo) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Hoje o roer das questões devasta o meu ser.

Nunca as tive sob jugo, nunca fui senhor.;

Eis-me sob jugo de mim mesmo,

Eis-me, a própria questão.

E sem importância tanto, que

Não me atrevo a dizer que sou

O que quer que seja

O X.



Em sendo uma a mais, ou

Menos, nenhuma,

Cedo ou tarde há de ser resolvida.

Por mal ou bem, há de um dia

Ser mais uma dissolvida.;

Eis-me, enfim, em questão.



Qual, pois, a razão da existência?



Vejo em volta muitos, muitos de mim,

E ao redor, passiva,

Ua turba de miseráveis,

Espelho de mim próprio,

Eu próprio, conturbado,

A miséria humana.



Ah, vil existência!

A maior abjeção para a qual

Não acho solução.

Mais eu fosse, alem do que sou

- reles curandeiro e chefe de família

-, não seria mais ou menos miserável.;

Ainda assim o seria, um

Pobre diabo sem alma,

Justa alma que me falta.



A pequenez e a própria ausência

Torna-me um dos iguais.

E os somos, sob o que quer que seja

Engendrador de almas,

Sob os viadutos, nas calçadas,

Nas torres dos castelos

E casinhas decoradas,

Pobres desalmados.



Nenhuma moça,

Em cujo alvo colo, ou moreno, e

Macio, eu possa repousar ‘ste peso,

Minha consciência, me fará feliz

- eu não sou feliz, não tenho alma.



-Na sacada da varanda, onde estou,

Do meu quarto de dormir,

Donde observo a cidade morta,

Contemplo o interminável éter,

E, ao mesmo tempo, o precipício

P’ra onde eu devo atirar-me.



-Ah, min’álma e asas p’ra voar.

Ah, inércia que a miséria impõe,

E me faz parar -, e não me atiro.;

Nego-me ao precipício.



Do alto vejo a morena a caminhar.

Sonho como sonham os inocentes.;

Suspiro, ora, como o fazem os remidos, e,

Miserável, agarro o prêmio.;

Despejo minha torpe lascívia

Sobre os seios da mulher a caminhar.



- Nem vôo de condor,

Nem o salto p’ra o inferno.



- O peso da covardia atou-me

À mesquinhez.;

Aceito o prêmio.



Um a mais, um miserável,

A seguir, infame, preso à escravidão

De sua própria imperfeição

- A grande imperfeição humana.

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