TATUAGENS
Andei viajando por mundos entrelaçados, com garras que seguram o passado e atiram-se
ao futuro, mas também sentem a dor do presente. Não consegui carregar tudo; fui deixando num e noutro, coisas e toques, tudo que acompanha um ser qualquer enquanto existe.
Larguei tudo que foi possível deixar, porque as cargas pesam demais para os voos, e alguns baús não passam pelas fechaduras. Minha certeza de não esquecer, é que tudo que estava dentro da bagagem, tudo sem exceção...deixou marcas como tatuagens em diversos lados de mim, que nunca vão se perder...então, como aqueles olhares que marcam a alma da gente, ou o cheiro de alguns jardins na primavera de vinte anos atrás...levo comigo tudo que parece ter ficado para trás mas que faz e fará parte (para sempre) de mim. E você : tem muitos baús? Consegue voar com eles? Se consegue, conte aí, diga como, porque eu gostaria de alguns retratos que ficam amareladoscom o tempo e nas tatuagens não costumam aparecer… A materialidade não é nada desprezível,ao contrario: é filha da Realidade, insubstituível, cruel em sua verdade e nunca mente.
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