Quetzacoatl, a Serpente Emplumada, mirava azougue o horizonte de Nova York, à procura da vista tão ansiada - o retorno da gaivota.
"Perdeu-se de tanto rastejar no carpete", atinou Eva Perón, acenando com uma perna de cordeiro entre os dentes - dantes ocupados com a Primavera.
"Gnomos são punks, nunca concordam com você", retrucava um contrariado Adam Clayton, não sem antes apontar que "Nova York é o lugar onde você pode se surpreender, até mesmo com gnomos".
As barbas da Fantasia haviam de ter deixado rastro em alguma esquina da Big Apple, 53rd & 3rd?
"Gnomos dão asas à imaginação muito fácil, já dizia Fernão Capelo. Não duvido que tenha trocado a Fantasia por uma gaivota"
Condor ou gaivota? Adam Clayton calculava a distância entre as Torres Gêmeas nas cordas de seu baixo, enquanto Evita cantava uma ária de Madonna.
"Quer saber o que tem lá embaixo"? O som de bronze, de fazer corar frade de pedra ou tremer os Andes, não assustou o baixista do U2. Evita já tinha jogado seus restos de cordeiro lá embaixo, na Broadway, para deleite dos poucos gatos pingados a saquearem as urnas da urbes.
"Lembro dos hotéis Blue Tree, os únicos com ar condicionado em Kuala Lumpur". Adam, incorporando o humanitarismo de seu colega de banda, queria conhecer o Terceiro Mundo no coração da Wall Street. Uma massagem cardíaca de bons bofes.
Mução, ao longe, se perdia em meio à multidão da capital do Ocidente. Não era uma segunda-feira das mais felizes.
De relance, o gnomo via, por dentre os E s, o espectro de Paulo Francis tangendo uma lira enquanto Manhattan se conectava com o Inferno.
"Diabo, conseguiu plagiar Nero e Dante de uma só feita", pensava Grimble Gromble com seus botões.
Antes ou depois de Francis, que a consciência só tem constância, Genivalda aparecia em todo seu esplendor, vestida como a noite, incluindo um véu carbonizado. Do suor noturno do gnomo brotavam fios de fumaça. De repente, viu-se fendido num elevador, ascendendo em eflúvios buliçosos, apenas para desmoronar no pó.