Gervásio, nordestino, 35 anos, chega a São Paulo com a idéia de
enriquecer, trabalhando na cidade grande. Tentando fugir da seca
e da fome, partiu de Arararipina, pequena cidade do interior do
Estado de Pernambuco, em companhia da esposa e de mais três filhos
menores. O mais novo, tinha apenas três meses de vida.
Viajaram muitos dias em cima de um caminhão, até chegar a grande
metrópole. Fôra trabalhar na construção civil, como servente de
pedreiro, de onde mal tirava seu próprio sustento e dos seus.
Moravam em um barracão abandonado, e era ali que guardavam suas
poucas roupas e algumas latas, nas quais sua pobre mulher, quando
tinha, preparava o que comer.
Mas Gervásio tinha um sonho: comprar um terreno, pequeno que fosse
e construir sua casinha, para abrigar os filhos e a mulher e poder
viver com um pouco de dignidade. Por isso, incansável, trabalhava
de sol a sol e até nos finais de semana, fazendo biscates para
aumentar sua renda.
Porém, a sorte não lhe favoreceu e um dia, Gervásio caiu de um
andaime, na construção em que trabalhava e quebrou uma das pernas.
Teria que ficar parado por três meses, até se recuperar e poder
voltar a ativa.
A empreiteira que o havia empregado, não o registrara, portanto o
sofrido nordestino, estava totalmente desamparado. Sem poder
trabalhar e com família para sustentar, não sabia mais o que
fazer. Não poderia nem pensar em voltar para sua cidade natal, já
que não possuía meios financeiros para tal. O jeito era ficar por
ali e ver o que Deus havia reservado para ele. O tempo foi
passando e a comida acabando até que não lhes restavam mais
nada para comer. A única saída para Gervásio e sua família,
seria mendigar na rua, para não morrerem de fome. Mas como
moravam muito longe da cidade, tinha que levantar muito cedo para
chegar até lá e Gervásio, com a perna quebrada, mal poderia
caminhar.
Tentaram por alguns dias, mas o produto da caridade alheia, mal
dava para que um se alimentasse, quanto mais quatro pessoas e um
bebê.
Assim só lhe restava uma saída: roubar para não perecer.
Perto dali onde estavam alojados, existia um grande depósito de
uma rede de supermercados. Muito bem vigiado durante o dia, mas
apenas com um guarda durante a noite. Era uma construção bastante
sólida, com janelas altas e protegidas por grades e com apenas um
portão de acesso. Era praticamente impenetrável.
Gervásio observa de longe, durante dois dias, todo o movimento do
depósito até que descobre a maneira de adentrar no recinto.
No final daquela tarde, aquele homem desesperado, se dirige para o
depósito.
Chega bem perto da cerca que limitava o terreno e aguarda a
passagem de algum caminhão que iria descarregar. As entregas dos
fornecedores eram feitas, sempre nos finais de tarde e os
caminhões carregados, passavam bem devagar por aquele trecho, pois
a estrada que dava acesso ao depósito, não tinha boa pavimentação.
E foi num desses caminhões, que Gervásio pegou carona, logicamente
sem que o motorista visse. Subiu furtivamente por trás do
transporte e conseguindo soltar a lona que cobria a carga,
colocou-se dentro da carroceria em meio as caixas, e lá ficou, até
que o caminhão estivesse dentro do depósito. Enquanto o motorista
reunia os descarregadores para efetuarem a descarga, o
furtivo homem, desceu e se embrenhou em meio as pilhas de caixas,
ficando lá até o anoitecer.
Escurece rapidamente e Gervásio, ouve apenas o eco dos passos do
guarda a ressoar pelo grande recinto. Todos já tinham ido embora.
De posse de uma saca vazia de açúcar, o homem sai de seu
esconderijo e caminha com o firme propósito de conseguir seu
intento. E vai colocando alguns produtos que julga necessário para
a alimentação de sua família. Retorna ao local do esconderijo e
espera até o dia seguinte, enquanto pensa em uma maneira de sair
de lá, sem ser visto.
Já eram três horas da madrugada, e o homem cochilava, quando foi
despertado pelo barulho do grande portão se abrindo. Levanta-se e
com cautela, corre até a porta. Vê ao longe o guarda, caminhando
em direção da portaria. Não pensa duas vezes. Corre até o
esconderijo, com dificuldades coloca nos ombros o saco cheio de
alimentos e arrastando a perna quebrada, chega a porta. O guarda
ainda permanecia lá na guarita da portaria. Gervásio caminha em
silêncio rente a parede e pela sombra, para não ser visto, mas
pelo lado oposto de onde se encontrava o vigia. Chega até a cerca,
escalando-a com dificuldades. Ganha o lado de fora do terreno do
depósito e segue feliz em direção à sua casa. Por alguns dias sua
família estaria salva.
A semana transcorre tranqüila para Gervásio e os seus. Trouxera
alimentos para uma semana e enquanto eles durassem, estavam
salvos da fome.
Mas a semana passa depressa e novamente Gervásio ter que ir
novamente efetuar outro furto. E assim o faz. Só que desta vez não
tem tanta sorte como da primeira. Entra no depósito como da
primeira vez e espera o momento ideal para o ato mas, no momento
em que estava colocando os alimentos no saco, distrai-se por um
segundo e é surpreendido pelo guarda que, de arma em punho o
rende. Gervásio obedece a voz do velho vigia e não esboça nenhuma
reação. Segue na frente do homem que, de arma em punho o conduz
até o escritório com o propósito de prendê-lo lá e chamar a
polícia. Mas Gervásio sabia que, se isso acontecesse, ele e sua
família estariam perdidos para sempre.
Chegam ao escritório. Uma pequena sala somente com uma porta.
Gervásio olha para o homem e este, firme, aponta a arma para o
ladrão.
Este último, tenta explicar sua situação ao velho vigia e pede que
não chame a polícia, mas o guarda não lhe da ouvidos. Diz-lhe para
entrar no escritório e Gervásio, lentamente, caminha em direção a
saleta.
Mas no momento em que o guarda, troca a arma de mão para pegar as
chaves que estavam no outro bolso da calça, o desesperado homem
salta sobre o velho e ambos rolam pelo chão, engalfinhados, em
luta corporal. O guarda se apodera novamente da arma, enquanto
Gervásio segura sua mão, quando então, o pior acontece:
A arma dispara e fere mortalmente o guarda que fica estirado no
chão sem vida.
Rapidamente, o nordestino pega as chaves e corre em direção ao
portão de entrada. Recolhe ainda algumas coisas, coloca-as no saco
e segue para fora do depósito, deixando lá, o infeliz vigia.
Desta vez vai em direção da guarita da portaria, carregando nos
ombros o pesado produto do furto. Mas no trajeto de volta para
casa, a policia o surpreende e, de posse dos alimentos roubados,
confessa o furto e é detido.
Gervásio é preso e, por ter cometido o bárbaro crime de
latrocínio, é enquadrado pelo nosso Código Penal nos crime contra
a vida, pois havia cometido um homicídio, com o propósito de roubar
e assim será julgado por júri popular...
A pergunta:
1ª - Deverá o réu ser condenado pelo júri, por ter cometido o tal
crime de latrocínio, e também por não ter pensado nas
conseqüências de ter invadido uma propriedade particular com o
propósito de roubo. Se ele não tivesse, entrado lá pela segunda
vez, não teria sido surpreendido e não teria ocorrido nenhum
homicídio. Assim o réu deveria ser condenado pelo júri, pois além
reincidir no crime, também havia tirado a vida de um pai de
família, trabalhador e que também como ele, tinha família para
sustentar...
ou
2ª - Deveria ser levado em conta, todas as dificuldades que o réu
havia passado, seu desespero em ver sua família passando
necessidades, o fato de não estar podendo trabalhar, e também o
fato de ter ido até lá somente com o propósito de conseguir
sustento para ele e sua família. A morte do vigia, deveria ser
considerado somente como um acidente, já que o disparo saiu de sua
arma, pois Gervásio entrara no depósito desarmado. O réu, num
momento de desespero, tentou impedir que o guarda chamasse os
policiais.
Dessa forma deveria considerar-se a situação do réu, as condições
em que vivia com a sua família, seus antecedentes criminais e o
fato de que ele só havia furtado, por não ter mais condições de
trabalhar durante aquele período.
Idéia para o Desfecho:
Se a mais votada fosse a 1ª opção, Gervásio seria condenado, mas
pegaria uma pena mais branda, devido as condições de sua família.
Sua mulher e filhos, seriam encaminhados para um centro de apoio,
onde teriam toda a assistência, enquanto Gervásio estivesse preso.
Em pouco tempo seria solto, e se mudaria para o Porto Alegre
juntamente com sua família, onde consegue trabalho em um grande
supermercado, como guarda no depósito de alimentos.
Se a opção fosse a 2ª, Gervásio não seria condenado, mas deveria
por um tempo prestar serviços para a comunidade em um hospital,
onde teria um ganho mínimo e alimentação para ele e sua família.
Posteriormente, após cumprir a pena, seria efetivado como
funcionário, já que era trabalhador incansável e nunca medira
esforços, em toda a sua estada naquele estabelecimento.