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Roteiro_de_Filme_ou_Novela-->ADEUS À INOCÊNCIA - CAP. 30 -- 03/07/2007 - 10:38 (Edmar Guedes Corrêa****) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
ADEUS À INOCÊNCIA - CAP. 30


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30


Normalmente são as mulheres quem sentem medo com facilidade, são elas quem se assustam com qualquer coisa, feito um animal arisco; contudo, era eu quem tremia, transpirava exageradamente e quase não conseguia andar de medo. Lembro-me que meu coração parecia quase rasgar o peito e ao mesmo tempo querer escapar pela boca enquanto seguia Luciana, que ia à minha frente com uma segurança incrível, como se o medo não fizesse parte de seus defeitos. Dir-se-ia liderar um passeio ecológico por caminhos trilhados dezena de vezes por aqueles pés. Ela parecia se preocupar mais em encontrar trilhas capazes de nos levar cada vez mais longe, floresta adentro do que procurar vestígios de algum grande animal.
A bem da verdade, acho que ela não acreditava nem um pouco nas minhas suspeitas e só engendrava em minha companhia naquela mata para provar que eu estava inventando toda aquela história para escapar de seu assédio. Aliás, talvez ela estivesse com algo em mente ao procurar me levar o mais longe possível das amigas. Mas eu não tenho como afirmar se isso era verdadeiro ou não, pois o que se passou mais tarde pode não ter sido planejado de antemão, pode ter sido apenas uma coisa de momento.
Eu a acompanhava com os olhos e ouvidos atentos, feito uma presa ciente da presença do predador. E qualquer som diferente me fazia estacar e perscrutar. E ao fazer isso, muitas vezes Luciana virava para trás e dizia:
-- Anda, seu medroso! É só um passarinho.
Então meio que envergonhado alargava o passo para alcançá-la.
Depois de alguns minutos caminhando com dificuldade por uma trilha, demos numa espécie de clareira. Era tão somente um pequeno espaço vazio, onde jaziam uns troncos de árvores caídos e reduzidos a pedaços.
Aquela visão acabou, por alguns instantes, aguçando minha imaginação. Achei estar ali a prova de que algo monstruoso vivia naquela mata. Mas quando comentei com Luciana, ela foi categórica:
-- Você não vê que foi um raio que fez isso?
Podia ser. Eu nunca vira o estrago causado por um raio numa árvore, contudo ela parecia não ter dúvida. Assim, diante de uma certeza como aquela, acabei vencido e admitindo que talvez estivesse com a razão. No meu íntimo porém aquela explicação não me convencia.
Sentamos num dos trocos para descansar.
Enquanto isso, procurei examinar o lugar minuciosamente, sem deixar escapar um único detalhe. De fato não havia nada além de pedaços de madeira estilhaçada. Não havia marcas de pegadas ou traços capazes de indicar a passagem de um animal de grandes proporções. Aliás, isso acabou por me deixar menos tenso e mais à vontade.
Luciana também girava a cabeça procurando examinar tudo ao seu redor, mas não a procura de algo estranho; apenas admirava a beleza do lugar. Às vezes ela erguia os olhos para o céu e contemplava o azul sobre nossas cabeças. Foi num momento desses que comentou:
-- Lindo isso aqui, né!? Parece que estamos no paraíso.
-- Não acho – discordei prontamente. -- Esse lugar me causa medo.
Ela virou o rosto em minha direção e exclamou:
-- Deixa de ser bobo. Viu como não tinha nada? Você é quem anda imaginando coisas. Se tivesse alguma coisa aqui nessa ilha a gente já teria encontrado ela. Nunca vimos uma marca de pisada, um uivado ou coisa parecida.
-- Eu sei, tinha certeza de que tinha visto algo anteontem e hoje mais cedo.
-- Não, mas não tem, seu panaca! -- afirmou ela com desdém. Levantou-se em seguida e acrescentou: -- Vamos seguir por aquela trilha; deve dar do outro lado da ilha.
-- Não é melhor a gente voltar? -- sugeri ainda inseguro; embora já não sentisse tanto medo quanto antes.
Luciana discordou e minha única alternativa foi segui-la.
Poucos metros depois a trilha fez um ângulo de noventa graus e tornou-se íngreme – o que não passou despercebido aos meus olhos atentos.
-- Acho que a gente está indo é mais para o meio – comentei.
-- Que diferença faz? Essa ilha não é tão grande assim. Já contornamos ela toda no primeiro dia. Lembra-se? Então, essa trilha só pode terminar na praia novamente.
De fato ela tinha um pouco de razão. A ilha não tinha grandes proporções e por qualquer direção que fôssemos mais cedo ou mais tarde chegaríamos à praia.
O que achei estranho foi que, à medida que subíamos, a trilha tornava-se mais bem definida, como se fosse usada com freqüência. Isso aliás me fez parar alguns metros a frente, curvar, aproximar os olhos do chão e procurar atentamente se não havia sinais de pegada. Não encontrei nada, obviamente; apenas o solo ainda meio úmido da chuva do dia anterior.
“Será que estou cismado à toa?”, cheguei a duvidar. “Será que não tem nada mesmo? Mas parecia que existia alguma coisa lá na praia. Talvez eu tenha me enganado. Ela disse que não viu nem ouviu nada. Pode ser... Talvez eu esteja com medo, talvez isso tenha me feito imaginar coisas”, concluir.
Andamos por mais cinco minutos até que deparamos com uma nova clareira, porém bem maior que a anterior. Era um espaço sem árvores, formado por uma vegetação rasteira e onde se podiam ver enormes pedras. Não havia dúvida que se tratava do ponto mais alto da ilha.
E quando subimos mais alguns passos e chegamos ao cume, foi possível avistar toda a ilha.
Era uma visão esplêndida. Por algum tempo deixei de lado meus temores e apreciei a beleza que surgia diante de meus olhos. Olhando ao redor, pude constatar que a ilha não era circular como imaginava. A extensão entre o norte o e sul parecia ser o dobro da distância entre o leste e o oeste. Além do mais, na parte sul, havia uma pequena baia que avançava para o interior. Embora não tenha percebido isso na primeira vez que passamos por ali, agora ela era evidente.
Outra coisa que pude constatar foi de que a maior parte da ilha estava coberta por uma densa floresta. Não havia árvores somente nas proximidades da faixa de areia, que formava uma faixa branca ao longo de toda a ilha.
Enquanto meus olhos corriam ao redor da ilha, procurei avistar onde estava a cabana. Fui encontrá-la do lado oeste na parte sul, onde subia um pequeno fio branco de fumaça. Não dava para ver as meninas, mas era possível distinguir com facilidade a nossa morada.
-- Olha lá, onde está a cabana! -- exclamei, apontando.
-- Onde? -- quis saber Luciana, aproximando-se e se apoiando nos meus ombros.
-- Ali, naquele quadrado coberto de folhas, onde está saindo aquela fumaça – mostrei.
-- Nunca imaginei que estivéssemos naquele ponto – disse ela em seguida.
Concordei.
Admiramos a paisagem por quase meia hora. Procuramos olhar através do mar para ver se não víamos um navio ou mesmo um barco de pesca; mas nada, nada além da imensidão do mar.
-- Por que a gente não vem morar aqui em cima? A gente poderia construir a cabana aqui?
-- O quê? -- foi o que consegui dizer; ou melhor, gritar. Foi com se tivesse visto alguma algo monstruoso e assustador.
-- O que tem? Aqui é um lugar tão bonito; é alto; a gente pode ver quando passar algum navio e fazer sinal para ele – disse ela com empolgação.
Discordei imediatamente. Não que ela não estivesse com a razão, mas eu não podia aceitar uma proposta daquelas. Morar ali, bem no meio da ilha, cercado pela mata? “Não, isso não!”, foi o que pensei. “Vamos nos tornar presa fácil aqui em cima”, continuei a pensar.



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