ADEUS À INOCÊNCIA - CAP. 31
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31
-- Vamos voltar – chamei ao me aperceber que o sol começava a se pôr. Não queria de forma alguma atravessar a floresta ao anoitecer. Só a possibilidade disso acontecer era o suficiente para me causar arrepios.
-- Ah. Vamos ficar mais um pouco – declarou Luciana. Ela estava apoiada numa pedra olhando para a imensidão do mar.
-- Não – respondi. -- Já está querendo anoitecer e as meninas podem ficar preocupadas com a nossa demora.
-- Mentira! -- Luciana virou em minha direção, contudo manteve-se recostada à pedra. -- Você está é com medo. Medroso... Medroso... -- repetiu ela rindo e caçoando.
Lembro-me de ficar extremamente desconcertado. A minha reação foi negar, dizer-lhe que não estava com medo coisa nenhuma, que só me sentia preocupado com as meninas. Entretanto isso não a convenceu. Ela continuou a insistir e a me chamar de medroso. E em dado momento, provocou-me ainda mais. Apontou o dedo em direção aos meus quadris e acrescentou:
-- Pra que tem isso aí se você não é homem?
Eu não sabia se saia correndo dali de vergonha ou se fazia alguma coisa para provar o contrário. Enquanto era tomado pela indecisão, a minha única reação foi afirmar minha masculinidade. E ao fazê-lo não deixei de acrescentar que uma coisa não tinha nada haver com outra, que sentir medo qualquer um pode sentir independentemente do sexo. Entretanto isso não a convenceu. Estava disposta a ir até o fim.
-- Então prove que você é homem – pediu ela, ainda mantendo-se aquele sorriso de triunfo, como se tivesse me feito cair numa armadilha.
Eu não precisava provar-lhe nada, essa era verdade. Contudo, um garoto da minha idade não pensa assim. Ao sermos desafiados, a primeira reação é aceitar o desafio, ainda mais quando se é desafiado por uma mulher; ai então é que precisamos urgentemente e de forma incontestável provar nossa superioridade. E eu sabia perfeitamente disso. Não só minha masculinidade como a minha autoridade naquele grupo estava em jogo naquele momento. Tudo dependia de uma decisão urgente, de um ato que não lhe restasse mais dúvidas a meu respeito. Mas o que fazer? Ceder a seu jogo? Porque eu sabia quais eram suas intenções. O problema era: ceder também não constituia um sinal de fraqueza? Eu sabia aonde ela queria chegar. Só que eu tinha vergonha e medo. Vergonha porque eu me sentia um brinquedinho nas mãos dela. Luciana fazia o que bem entendia de mim e isso me constrangia. E medo porque minha inocência e minha fé em Deus faziam-me acreditar que praticar um ato daqueles era algo pecaminoso. Só de fantasiá-los era motivos de culpas intensas, quanto mais praticá-los. E eu acreditava indubitavelmente que Deus estava a espreita lá do céu, vendo e anotando todos os meus pecados para apresentar-me no dia do juízo final. E até então, o que eu ouvira acerca da ira impiedosa de Deus, dos castigos horrendos do inferno só podiam me amedrontar. Estava aí o motivo pelos quais eu procurava fugir do assédio de Luciana como o diabo foge da cruz.
-- Eu não quero provar nada! -- proferi com rispidez, como se deixasse bem claro o quanto me desagradava seus modos. Em seguida, dando um ou dois passos para trás, acrescentei: -- Vamos voltar.
-- Não. Eu não vou voltar, seu bichinha. Se tiver coragem, volte sozinho. -- Ela foi categórica e não se moveu; continuou recostada à grande pedra, com se soubesse que eu não teria coragem de ir sem ela.
Cheguei a virar em direção à trilha que nos levaria de volta e dar alguns passos. Mas por um momento o medo tomou conta de mim e fiquei como que paralisado, como se alguma coisa me imobilizara.
Nisso, com a maior naturalidade, Luciana despiu-se da única peça de roupa e inteiramente nua ficou a minha espera.
-- Vem cá. Tire a roupa – ordenou ela.
-- Eu não quero – asseverei, como última tentativa de fazê-la desistir.
-- Por que você não quer? Vai, me diga?
-- Porque é pecado.
-- Pecado? -- Luciana soltou uma gargalhada. -- Onde foi que você tirou isso?
-- Aprendi na igreja – respondi imediatamente.
No dia anterior ao acidente havia ido a mais uma das aulas de catecismo. E o padre palestrara justamente acerca da castidade, de como Deus todo poderoso está atento ao nossos pecados da carne. E isso me deixara deveras impressionado, pois vivia no seio de uma familia bastante religiosa. E a agora essas palavras ecoavam na minha cabeça feito um alerta, um lembrete.
Luciana se aproximou, puxou-me pelo braço, fazendo com que ficássemos frente a frente e disse:
-- E você acreditou? Se fosse pecado as pessoas não transavam, seu idiota! Pois eu sempre aprendi que Deus não existe, que é apenas uma invenção humana, uma forma de fazer medo nas pessoas. E parece que é verdade, pois você está aí morrendo de medo. Pense bem: Existem bilhões de pessoas na terra. Você acha que se mesmo que Deus existisse, ele ia estar vigiando o que cada um estava fazendo?
-- Não sei.
-- E aqueles que tem outras religiões, que não acreditam nesse Deus? Então estão todos condenados?
De fato eu nunca havia pensado acerca disso; aliás, eu via Deus da mesma forma que os acontecimentos do dia-a-dia, como algo inseparável da existência humana. E aquela pergunta fez brotar um ponto de interrogação na minha cabeça, como uma ranhura no espelho que provoca uma falha na imagem refletida, quando olhamos para a nossa própria imagem.
-- Não sei – tornei a responder.
-- Deixe de ser bobo! Mesmo que Deus exista, ele vai estar preocupado com muitas outras coisas do que com nós dois. Olha para meus peitos – disse Luciana, apertando-os com as mãos – Você não acha eles bonitos?
Levantei a cabeça, pois a mantinha abaixada como se olhasse para o chão, e, depois de fitá-los por alguns segundos, menei-a em sinal de concordância.
-- Então? Vem cá! Pega neles.
Obedeci.
Comecei a apalpá-los com certa curiosidade, embora a vergonha não me deixasse sentir prazer naquilo. Nisso, usando de toda a sua esperteza, Luciana levou a mão abaixo do meu umbigo e a escorregou por dentro da veste, agarrando-me o falo em seguida. Este por sua vez ainda permanecia encolhido, como que adormecido, como se o que acontecia do lado de fora não lhe dissesse respeito.
As mãos ágeis de Luciana souberam arrancá-lo do esconderijo e animá-lo. Em poucos instantes ele jazia ereto, incapaz de obedecer meu consciente. Aliás, não era só sobre ele que eu perdera o comando, mas sobre meus pensamentos e meu corpo por inteiro. Com algumas carícias, Luciana conseguira florescer os mais primitivos instintos.
Luciana me puxou para junto de si. Fui parar no meio de suas pernas. E consumido por aquela chama, que de repente surgira não sei de onde e a qual me fazia sentir coisas com uma intensidade que jamais sentira, deixei que tudo acontecesse.
Lembro-me tão somente de chupar-lhe os seios e beijá-la de quando em quando. Lembro-me também de ouvi-la soltar um gritinho, como se algo lhe tivesse espetado, quando a penetrei. Aliás, eu nem fazia idéia que a tinha penetrado; apenas sentia um certo desconforto no pênis, como se algo o apertasse. Só fui ter consciência disso quando ela me explicou ao retornarmos para juntos das meninas. Inclusive quis saber porque eu tinha parando depois que “aquilo” (foi a palavra que ela usou) saiu de mim. Eu perguntei se não era para parar e ela disse que gostaria que eu tivesse continuado, pois estava ficando cada vez melhor. Disse-lhe que de repente fiquei sem forças e com vontade de parar.
Quando finalmente chegamos à faixa de areia, Luciana disse que precisava ir à água se lavar.
-- Vou indo na frente – falei. Disse-lhe isso porque me sentia envergonhado na sua presença. Desde o momento em que a chama do desejo apagou-se, a vergonha cresceu feito um monstro mitológico. E permanecer junto de Luciana era quase uma tortura. Era como se ela fosse a prova viva de que meu pecado não escapara aos olhos atentos do criador.
Foi como um alívio quando me vi livre dela.
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