MILK,A VOZ DA IGUALDADE
O título prosaico deve ser levado em conta por causa da ignorância de muitos brasileiros a respeito de Harvey Milk,o primeiro gay a fazer parte do governo americano e mudar as regras do preconceito e da discriminação.
O perigo das biografias é, que,geralmente são escritas por confrades dos biografados e,assim,não mostram o lado “dark”,inerente a todo ser humano.Mas,o filme é bom e a interpretação de Sean Penn.espetacular.Ele é hoje,sem sombra de dúvida,o maior ator americano,não só pelo talento como pelas posições políticas desassombradas.
O filme narra,de um modo cru e irreverente a luta dos gays americanos pelo direito de viver como bem lhes aprouver sem ter que estar á toda hora se batendo com a policia ou com os fundamentalistas americanos de Bíblia na mão e a intolerância com os diferentes,na cabeça.A moral e a hipocrisia,já dizia Vargas Villa,escritor maldito,do início do século,são filhas gêmeas de uma mesma mãe:a Religião.Porém,elas são gêmeas siamesas;se separadas,morrem.
Mas,a luta de Milk,quase vitoriosa,durou pouco;foi assassinado,juntamente com o prefeito de San Francisco,a mais liberal das cidades americanas-talvez,devido á falha de Saint Andrés-deixando á mostra de todos a brevidade da vida-por um colega de cargo,um enrustido triste e infeliz,que não teve coragem de sair do armário.Um tipo meio ingênuo,meio recalcado.Eu o acho parecido com o “ordinary people”,sempre esmagado entre seus instintos e a idéia de pecado,que mama com o leite materno e que resulta em tantos psicopatas e assassinos sexuais.
Há cenas belíssimas,como a procissão de centenas de milhares de pessoas descendo as ladeiras de Frisco,carregando velas,no dia da morte de Milk;ou a resposta bem humorada e cínica que ele deu a uma ex- vendedora de laranja e fundamentalista convicta,uma espécie de Sarah Palin,da época,quando ela alega que gays não geram filhos,portanto,são uma aberração social e um perigo para as famílias:-mas,tentar,nós tentamos muitas vezes!...
Não precisa ser gay para adorar o filme;a interpretação de Penn(acho que ele daria um ótimo Lincoln,se alguém desejasse fazer um filme sobre ele),a direção segura e sem frescuras desnecessárias,de Gus Van Sant tornam este,um filme bom de se ver e pensar também na estupidez dos preconceitos e rótulos.
Bem,o recado está dado.