INTRIGAS DE ESTADO
O diretor escocês Kevin Macdonald é um craque no sentido de conduzir seu trabalho sem apelos comerciais, primando, sobretudo,em instigar o espectador,como faz um documentarista genial.
No filme “O Último Rei da Escócia”,retratou magistralmente o folclórico Idi Amin Dada,penetrando na mente de um sujeito que,parecia,ele mesmo,personagem de ficção;infelizmente ,era humano,mesmo.Ou quase!
Em“Intrigas de Estado”(State of Play”),seu último filme,já no circuito,ele lida com personagens inventados;mas,os fatos,são extremamente verdadeiros e corriqueiros na chamada Grande Imprensa.
A eterna subserviência da imprensa, ao poder,principalmente as grandes redes, é um fato tão velho,quão nojento,desde que Gutemberg inventou este 4º Poder.
O filme trata de dois fatos principais: duas pessoas são assassinadas pela mesma pessoa,e no mesmo lugar;elas não se conheciam nem se relacionavam.
Na manhã seguinte,uma garota ,assessora de um senador republicano,morre numa estação de metrô e,tudo indicava suicídio.
Um repórter do “ Washington Globe”,interessa-se pelo caso e começa a investigar.
O personagem de Russell Crowe,veterano deste jornal,amigo desde a faculdade do senador,logo se defronta com uma jornalista,dona de um blog e com tendências para fofocas envolvendo celebridades.
Mas, as investigações começam a se cruzar e a conflitar umas com as outras.As coisas vão num crescendo até a descoberta de uma conspiração,orquestrada pela toda poderosa PointCorp,especializada em fornecer mercenários e armas para as Guerras do Afeganistão e Iraque.Qualquer semelhança com Blackwater,dos amigos do vice de Bush,Dick Cheney,não é mera coincidência.
Deste ponto em diante, a trama fica muito interessante e,as manobras,lícitas e ilícitas,para abafar o caso ou direcioná-lo para longe dos ex-militares donos da Corporação,tornam o filme uma verdadeira aula de bom cinema.
Tanto o excelente Russell Crowe como a novata Rachel McAdams,têm,para o diretor a mesma importância e são submetidos ás exigências do enredo,extraído de uma antiga série da BBC.
O diretor e seu roteirista,Tony Gilroy,enfocam,principalmente a crise dos jornais impressos,ameaçados pela Internet, onde estão on-line. Alguns nos seus últimos estertores, como o combalido New York Times,por exemplo.
A tensão latente entre a editora do jornal (Helen Mirren) e seus jornalistas,acuados pela necessidade de vender e o respeito á verdade,salta na tela;os jornais não tem fôlego,nem paciência para retratar as verdades que realmente interessam aos cidadãos que os lê,então,preocupam-se em postar notícias frescas, e maquiadas, sempre pressionados pelos políticos e corporações que não querem que a verdade dos fatos chegue ao leitor.
O filme termina de forma fantástica,mostrando as rotativas do jornal imprimindo a verdadeira estória como aconteceu,dando prioridade ao bom jornalismo e ,não,ao jornalismo de interesse.