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Roteiro_de_Filme_ou_Novela-->A História do Cinema em Araras (SP) -- 01/11/2009 - 11:01 (LUIZ ROBERTO TURATTI) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos




A História do Cinema em Araras (SP)

Belle Époque, a Sétima Arte de volta ao passado

A lanterna mágica em tempos idos iluminou as noites ararenses e deixou muita lembrança na mente tanto dos mais idosos, como nas últimas gerações. Como as brumas do passado apagaram os primórdios de um século do cinema em Araras, vamos reavivar a nossa memória a partir do saudoso Theatro Apollo, que por mais de 20 anos ainda é lembrança para os mais idosos. O saudoso jornalista e radialista Cardoso Silva, numa antiga publicação do século passado detalhava as noites ararenses da famosa casa de espetáculos, quando seu último proprietário, Clementino Zacharias, às 19h30, soltava três rojões para avisar que a sessão ia começar.

O Theatro Apollo exibia a pompa das grandes casas de espetáculos da Capital, pois as artes estavam na fase de ouro da Belle Époque. Uma grande porta dava entrada ao salão e as janelas laterais todas enfeitadas nas bordas das molduras com lâmpadas, uma ao lado da outra, já eram um convite para os espetáculos. O salão tinha 26 frisas e 400 cadeiras voltadas para a tela grande e alva, onde o Juca França molhava com um balde antes do início da sessão. Os músicos ficavam na frente, logo abaixo da tela e formavam a Orchestra do Theatro Apollo, enquanto os rolos de filmes mudos eram projetados sobe a regência do maestro Francisco Paulo Russo, o qual hoje empresta seu nome para o nosso Teatro Estadual. Cardoso cita alguns nomes dos que tocavam na orquestra: Albertina Quenzer, Odete Quenzer, Isaura Scian, Noêmia Luz e Ângelo Consentino tocavam violino e Rosa Chagas piano. Manuel Mathias Figueiredo (Manéco), tocava violoncelo.

No saxofone, Eugênio Rüegger e, no clarinete, João Russolo; meu tio Oswaldo da Luz tocava piano, mas às vezes revezava no pistom com seu irmão Aristides Luz e um músico chamado Anselmo. Na bateria, Paulo Américo Russo e, mais tarde, seu irmão Aldo Russo. O pai Francisco Paulo Russo, também era mestre do contrabaixo e fazia as vezes de maestro e o Adriano Lépore, conhecido por Nuche, tocava flauta. Para esticar a tela, torná-la alva, quando ia começar a fita as luzes eram apagadas e a lanterna mágica começava a projeção, inicialmente com o cast escrito em inglês.

Durante a semana os músicos assistiam ao filme antes da projeção e ensaiavam as partituras conforme o desenrolar das cenas, pois as mesmas eram mudas. Assim, em cenas românticas tocavam músicas lentas, como La Traviatta, por exemplo. Nas cenas de ação, as músicas eram vibrantes e rápidas, como Cavalleria Ligeira. Como as fitas vinham em partes, as luzes acendiam para um rápido intervalo, quando o projecionista fazia a troca dos rolos, pois na época só havia um projetor, mas a orquestra não parava.

Tempos depois, Oswaldo da Luz tornou-se maestro, casou-se com minha tia Áurea Dardes, de Piraju, e formou sua própria banda para tocar num grande cinema em Espírito Santo do Pinhal, levando consigo o irmão Aristides e Paulo Américo Russo.

Cardoso Silva acrescenta, ainda, que o Clementino Zacharias era pluriapto, uma vez que abria o cinema, soltava os rojões, vendia os ingressos e fechava o prédio após o término da exibição. Diz, ainda, que era o último cinéfilo a deixar o salão, quando acompanhado da esposa voltava a pé para casa, levando uma valise com o dinheiro e os ingressos que sobraram. Os idosos de Araras e região ainda se lembram dos galãs Rodolfo Valentino, Ramon Navarro, Theda Bara, Póla Negri, Tom Mix, Me West, Arold Loyd e muitos outros. Os velhos saudosistas devem se lembrar de Valentino em Sangue e Areia, Os Quatro Cavaleiros do Apocalipse e muitos outros de Chaplin O Garoto, Vida de Cachorro etc.

Mas o Theatro Apollo, mesmo fechado em 1929, com a chegada do cinema sonoro não parou suas atividades. O maestro Francisco Paulo Russo era incessante tanto na regência de orquestras e bandas, atuava também em teatro amador, companhias de revistas, eventos solenes etc. Continuou trazendo público para o velho cinema com bailes que marcaram época. Bem mais tarde, foi rinque de patinação e o Restaurante Tio Patinhas.

Os músicos do Apollo foram embora e a maioria mudou-se de cidade para tocar em bailes e saraus. Agora, todo mundo só comentava sobre em cinema falado e com a falta das exibições do Apollo o público aguardava a conclusão do grande cinema chamado Theatro Santa Helena, que estava com as obras no final, graças ao empresário Gerólamo Gaino. Sua inauguração ocorreu no ano de 1930, mesmo com o mundo passando por uma grave recessão que abalou a economia em 1929. Contudo, um novo tempo estava começando e muita novidade estava por vir na sétima arte.


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Theatro Santa Helena, o Cinema Paradiso

Na noite de 30 de novembro de 1930, graças ao dinamismo do Sr. Gerólamo Gaino o novo cinema batizado como Theatro Santa Helena tem a sua noite de estréia às 20h00 com o filme “Alvorada do Amor”. Era um dos famosos musicais de Hollywood com Maurice Chevalier e Jeannette Mac Donald. Gerólamo, para atrair o publico troca os rojões por uma sereia estridente avisando que a sessão vai começar. A Rua Benedita Nogueira ficou totalmente tomada pela multidão e muita gente de fora veio ver o novo cinema.

O prédio, em arquitetura eclética, tem sua fachada ainda mantida em 90%, apesar do abandono que se pode notar. O interior exibia uma mescla do estilo eclético com detalhes da Belle Époque. Numa antiga fotografia de 1934, quando foi criado o Ginásio do Estado (depois Cesário Coimbra), o salão do cinema foi alugado para um banquete e posterior baile com a presença do interventor Dr. Armando de Sales Oliveira. A festa foi organizada pelo famoso Buffet Palhaço, da Capital, com a presença de grande número de personalidades da alta sociedade paulistana e ararense. Gerólamo era, além de empresário, um grande idealista e não poupou esforços para o fino acabamento do salão, típico das grandes casas de espetáculo da Capital e outros países.

No fundo, o mezanino − um andar pouco elevado na parte superior, chamada galeria, a qual era sustentada por colunas de madeira torneada com fino acabamento no apoio. Abaixo, entre as colunas ficavam as frisas, isto é, o camarote quase ao nível da plateia. O parapeito formava uma espécie de balcão de madeira envernizado com a superfície graciosamente abaulada. Tais frisas eram normalmente usadas por chefes de família e autoridades.

Tudo fora construído com muito bom gosto. Na galeria ficavam as poltronas dispostas em níveis, com as que eram colocadas no fundo mais altas que as da frente, de modo a facilitar a visão da tela. No centro desta, ficava a cabine de projeção − uma pequena sala onde foram instalados os aparelhos e o foco de luz do projetor. Por ali era emitido através de duas janelinhas quadradas. A galeria era protegida na parte anterior por um parapeito construído com grades de ferro, delineadas em curvas. O arremate de apoio era de madeira envernizada e, na parte inferior, havia um friso com arabescos, com a base apoiada sobre as colunas de sustentação. Com o tempo a galeria tornou-se o local preferido dos casaizinhos que procuravam o escurinho do cinema. As paredes eram pintadas e decoradas com motivos florais. O forro era de madeira esmaltada e a grande tela ficava logo acima de um grande palco com uma ampla cortina que se abria lateralmente, a partir do centro, quando um gongo soava duas vezes e as luzes gradativamente iam sendo apagadas.

Dos anos 30 aos 60 o Theatro Santa Helena, viveu seu período áureo do glamour do cinema, com Hollywood no auge das grandes produções. Foi a época em que os atores eram minuciosamente escolhidos para seus papéis e cada produção era trabalhada com esmero. Sem formos citar os grandes astros dessa fase, mais de duzentos nomes seriam mencionados, mas, quem não se lembra de Gregory Peck, Burt Lancaster, John Wayne, Kirk Douglas, James Stewart, Marylin Monroe, Elizabeth Taylor, Vivian Leigh, Dorothy Lammour, Ava Gardner, Kim Novak e uma legião de outros? A criançada de meu tempo também não se esquece do Tarzan Johnny Weissmuller, dos ídolos das matinês Rocky Lane, Gene Autry, Hoppalong Cassidy, Rodolph Scott, dentre outros, os seriados do Zorro, Perigos de Nioka, Charlie Chan e as gargalhadas com o Gordo e o Magro. Depois, vieram os filmes franceses, geralmente proibidos para menores de 18 anos (por causa de um busto nu ou menos), mas a rapaziada encontrava um jeitinho de falsificar sua idade na caderneta escolar para conseguir enganar o porteiro e assistir o filme.

Hoje, o cinema não tem o mesmo glamour daqueles tempos. A TV, o videocassete, o DVD concorrem com o telão e, mesmo com a moderna tecnologia, os filmes em sua grande maioria deixam muito a desejar. Surgiram as escolas de cinema, as produções independentes feitas às pressas para suprir o mercado e o amadorismo hoje é o maior responsável pela péssima qualidade que salta das telas diretamente para as locadoras. Hollywood ainda é o grande mentor do cinema, graças aos efeitos especiais e produções esmeradas como Parque dos Dinossauros, O Resgate do Soldado Ryan, Piratas do Caribe, Titanic, A Troca e uma centena de outras esmeradas produções, permanecendo a Disney na liderança, graças à nova tecnologia. Contudo, o pornô, a violência, o terror e os golpes para a vida fácil hoje saturam as prateleiras e os adeptos da sétima arte que já começam a ficar mais exigentes frente ao grande número de péssimas produções. O Oscar deixou de ser referência de bom filme, pois parece enveredar para tendências em ganhar a simpatia de outros países e o termômetro para julgar um bom filme, hoje, parece ser os índices apontados na internet e os lançamentos nos grandes shoppings.

O Santa Helena dos anos 70 a 90 arriscou períodos de sobrevivência, mas passou por fases de abandono e descaso, sendo hoje uma lástima. Depois que funcionou como Igreja Evangélica, ninguém mais ligou. Com tristeza, tive acesso às fotos do excelente fotógrafo Cristiano Leite e as imagens são as de uma tumba egípcia abandonada: o forro caindo, as frisas e a galeria praticamente fechadas por sujas paredes erguidas sobre os detalhes artísticos da Belle Époque descritas, a tela rasgada e as laterais do palco cobertas, pretas e borradas pela umidade e bolor. Do que ainda resta, lixo acumulado, poltronas cobertas por fungos, trincas nas paredes, infiltração de água, sujeira e uma escuridão total, muito diferente do escurinho do cinema de outrora onde a luz da tela era convertida em sessões de sonhos e beleza. A nostalgia do que fora durante anos alegria, sonhos, o beijo na namorada, lamentavelmente ainda mofa no coração da cidade. O calçadão com suas árvores velhas e retorcidas, escuro e com pouca gente, ao lado do Solar Benedita Nogueira, também fechado, parece ser a moldura para aumentar ainda mais a nossa tristeza. Tal abandono hoje só deixa lembranças. O prédio parece estar aguardando a demolição e até o momento ninguém fala em restauração nem o seu aproveitamento em escola de arte, museu, arquivo, pinacoteca ou mesmo salas menores da sétima arte. Mas... quando?


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O Cine Araruna, o maior de uma época de ouro

Nos anos 50, o cinema estava no auge em todo o País. Só para se ter uma ideia, o Centro de São Paulo era chamado “Cinelândia Paulista” e ostentava os cinemas: Ipiranga, Marabá, Paissandu, República e outros. Mas na Avenida São João concentravam-se os mais elitizantes como Olido, Metro, Regina, Paratodos, Jussara e Art-Palácio. Todavia, se formos citar os dos bairros, esse número chegaria talvez próximo a uma centena.

Nessa época, Hollywood era a Meca da sétima arte e outros países também davam a sua contribuição. Em Araras, a Sociedade Ararense de Melhoramentos, construída por uma legião de homens dinâmicos, lançou a proposta para construção de um grande cinema na altura dos existentes na Capital. A semente foi lançada e a partir de 1955 e no ano seguinte teve início a construção do cinema com nome provisório Cine Ararense, alterado depois para Cine Araruna. A construção seguia em ritmo acelerado e falava-se em tela panorâmica e 1.100 poltronas Cimo. Uma das últimas etapas da construção foi o saguão de entrada, de beleza ímpar, com linhas arquitetônicas arrojadas e um magnífico mural colorido, construído em pastilhas vitrificadas exibindo a figura de uma araruna. O piso, de granito polido, com lâminas douradas encravadas no interior, formava figuras geométricas em linhas modernas. A rampa, acarpetada em azul, era curva e levava o espectador à esquerda para a sala de estar e bombonière. À frente, abria-se a pesada cortina azul, que dava entrada à sala de exibição.

As obras terminaram com a pintura interna, fiação, instalação de caixas acústicas. A aparelhagem Simplex era a marca do que havia de mais moderno em imagem e som, sendo pioneiro na sua instalação o técnico Pedrinho Alberto, seguido por Orlandinho Zaniboni que acompanhou toda a epopeia do Araruna como projecionista e ulterior arrendatário. O primeiro gerente foi Waldemar Boldrin, sucedido por Ney Ramos do Rego, que viveria neste cinema por vinte e seis anos.

Como já foi dito na cronologia dessas casas de espetáculos, o Cine Araruna é inaugurado em 1958 com o filme Assim Caminha a Humanidade, estrelado por Rock Hudson, Elizabeth Taylor e James Dean. As sessões eram diárias e noturnas e para os homens, durante muitos anos, era exigido paletó obrigatório e não era permitido entrarem com sandálias, sendo imprescindível o uso de sapatos. Habitualmente, nas paredes envidraçadas do saguão eram afixados posters anunciando os próximos lançamentos e à direita da porta principal ficavam os cartazes com fotos do filme em exibição. Grandes produções como Os Dez Mandamentos, Ben-Hur e Spartacus eram anunciadas com gigantescas pinturas sobre a marquise do cinema, como nos famosos espetáculos da Capital e da Broadway americana. De tempos em tempos, o Ney promovia uma sessão Tom & Jerry aos domingos de manhã, onde os filhos “levavam” os pais. Seguiam-se às tardes as matinês e, à noite, duas sessões. Quando passavam filmes de Mazzaropi, as filas dobravam o quarteirão e era comum haver cinco sessões apinhadas de gente, com muitos assistindo sentados no chão.

O namoro no cinema, para os sessentões, foi um marco importante e muitos chegaram ao altar graças aos beijos roubados no escurinho do Araruna, sob a fiscalização do lanterninha que soltava um facho na cara dos amantes mais afoitos.

Contudo, tudo é lembrança e nostalgia. A TV, o vídeo, o carro, os cursos noturnos e as atuais baladas esvaziaram o cinema. Na década de 80, com a liberação da censura, o pornô voltou a trazer parte de um público às salas de exibição, mas foi por pouco tempo. A televisão colorida e as locadoras multiplicaram-se pela cidade e o Araruna, sem público, à semelhança dos cinemas anteriores, acabou fechando na fria noite de 31 de outubro de 1989. O resto vocês já sabem... Não só Araras, mas a Capital, os cinemas do Interior e em outros países, o fim foi o mesmo. Surgiram os grandes shoppings e neles a nova geração volta a curtir o telão, mas não mais em salas com 1.100 lugares. Contudo, com uma vantagem de várias sessões em exibições diárias. A Broadway de Nova Iorque insiste nos grandes espetáculos e lá o cinema ainda mantém índices significativos. Tudo indica que tal tendência começa a chegar no Brasil, mas ainda é cedo para apostar no retorno de grandes salas com telão e pipocas. O tempo dirá...

Por Alcyr Matthiesen, biólogo, professor universitário aposentado e historiador de Araras, sua cidade natal.


Fonte: OPINIÃO JORNAL, Araras (SP), Sábado, 10, 17 e 24/10/2009, Página 1B.


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“Fora da VERDADE não existe CARIDADE nem, muito menos, SALVAÇÃO!”

LUIZ ROBERTO TURATTI.




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