http://www1.folha.uol.com.br/paineldoleitor/agendafolha/1131331-documentario-marighella-tera-pre-estreia-gratuita-na-segunda.shtml
03/08/2012 - 17h33
Documentário 'Marighella' terá pré-estreia gratuita na segunda
EUCLIDES SANTOS MENDES
DE SÃO PAULO
Inimigo público número um do regime militar brasileiro, o militante político baiano Carlos Marighella (1911-1969) é o foco do documentário dirigido por Isa Grinspum Ferraz. AFolha e o Espaço Itaú de Cinema do shopping Frei Caneca promovem na segunda-feira (6), às 20h, pré-estreia do filme, com entrada gratuita e debate com a participação da diretora (que é sobrinha de Marighella), Clara Charf (viúva do militante comunista), e da jornalista da Folha Laura Capriglione.
Senhas serão distribuídas uma hora antes da sessão, no Espaço Itaú de Cinema do shopping Frei Caneca (rua Frei Caneca, 569, sala 6; tel. 0/xx/11/3472-2359).
Narrado pelo ator Lázaro Ramos e com canção original de Mano Brown, o filme pontua a vida de Marighella a partir de depoimentos de Clara Charf, de Carlos Augusto Marighella (filho do militante) e de Antonio Candido (que avalia a trajetória de Marighella como heroica), entre outras pessoas.
O filme também usa documentos e fotos para contar a trajetória do militante, o seu gosto pelo estudo, a sua atuação política no PCB, a vida na clandestinidade, a luta armada durante o regime militar e a morte trágica numa rua de São Paulo, em 1969.
'Marighella' estreia em 10 de agosto, em São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador e Brasília.
http://www.youtube.com/watch?v=6Hc7HeRY264&feature=player_embedded
Em entrevista à Folha, a diretora Isa Grinspum Ferraz diz que seu tio não deixou muitas pistas. 'Não há uma única imagem em movimento de Marighella vivo, e olhe que nossa pesquisa foi bastante aprofundada', revela.
Ela ainda declara que o filme não pretende ser neutro, o que explicaria a afetividade narrativa que permeia o documentário. 'O que eu quis mostrar foi um lado que poucos conhecem, e que é muito mais complexo e interessante do que apenas o desenho de um homem que ficou mundialmente conhecido por ter pego em armas na segunda metade dos anos 60 para combater a ditadura', avalia.
Leia, a seguir, entrevista pingue-pongue com a diretora.
FOLHA - Carlos Marighella ainda é um enigma?
ISA GRINSPUM FERRAZ - Sim, o enigma continua. Qualquer biografia é sempre parcial, incompleta. Pode revelar partes, facetas, mas não há nunca um todo que se desenhe.
No caso de Carlos Marighella, a dificuldade é ainda maior. Não apenas porque ele é um personagem complexo, cuja vida foi densa e intensa --e poderia, portanto, ser olhada por ângulos muito diversos--, como porque ele viveu quase 40 anos na clandestinidade, e sem deixar muitas pistas.
Não há uma única imagem em movimento de Marighella vivo, e olhe que nossa pesquisa foi bastante aprofundada. Ele foi perseguido como 'a caça mais cobiçada', no dizer do sociólogo Florestan Fernandes, e assumiu a clandestinidade de forma radical, tentando apagar seus traços e rastros.
E mais: o que havia terminou se perdendo nas numerosas prisões e invasões das casas em que viveu. Assim, o filme que fiz tem um caráter quase arqueológico, é um quebra-cabeça de aproximações.
FOLHA - Você não teme que o público crítico às ações da luta armada considere o filme laudatório demais?
ISA GRINSPUM FERRAZ - Não acho que a palavra seja 'laudatório'. O Marighella que está ali é um Marighella, desenhado a partir da memória de quem o conheceu, filtrada pelo tempo. O meu é um filme investigativo, sim, mas não se pretende um filme jornalístico, e nem neutro (se é que isso existe). Eu assumo isso desde a primeira cena.
Enquanto eu fazia o filme, muita gente me perguntou se eu não iria ouvir 'o outro lado'. O 'outro lado' tem falado há décadas, seja omitindo o nome de Marighella, seja detratando sua figura, seja por meio das perseguições que ele sofreu, dos longos anos de prisão, das torturas a que foi submetido, dos tiros que quase o mataram em 1964 e de seu assassinato.
O que eu quis mostrar foi um lado que poucos conhecem, e que é muito mais complexo e interessante do que apenas o desenho de um homem que ficou mundialmente conhecido por ter pego em armas na segunda metade dos anos 60 para combater a ditadura.
A atividade política de Marighella é muito mais extensa, começa em 1932, e já de forma vigorosa. Ele era um mulato pobre, que vivia na Baixa do Sapateiro, descrita por Jorge Amado, era poeta, escrevia, foi deputado, conhecia e amava profundamente o Brasil profundo e se fantasiava de mulher para dançar no Carnaval, mesmo clandestino.
Enfim, Marighella são muitos, e eu acho que temos de conhecê-lo melhor.
MARIGHELLA
DIREÇÃO Isa Grinspum Ferraz
QUANDO Segunda-feira (6), às 20h
PRODUÇÃO Brasil, 2011
CLASSIFICAÇÃO 10 anos
ENTRADA Gratuita
DURAÇÃO 100 min.
ONDE Espaço Itaú de Cinema do shopping Frei Caneca
ENDEREÇO rua Frei Caneca, 569, sala 6
TEL. 0/xx/11/3472-2359