STORY LINE:
Uma prostituta acorda na cama de um quarto de motel e, irónica e tragicamente, vê-se a si própria morta, na banheira.
............................
ARGUMENTO:
Anais acorda às 11 horas da manhã. Entre cansaço e vigília. Entre concreto e vazio. Esforça-se mas não consegue recordar a noite madrugada. Percebe-se nua, sob a cama de um motel. Alguns quadros afixados na parede reproduzem casais em êxtase e a televisão exibe filmes porno-eróticos.
O espelho revela a cena: lençóis desarrumados. Sujos. De cerveja. De cinzas de cigarro. O ambiente é enfumaçado. O silêncio interior de Anaís é uma sombra a perseguir-lhe a velocidade de seus pensamentos. Até onde pode ver-se por dentro? Anaís tenta manter o controle da situação, mas sente náusea por estar num lugar repugnante. Acaricia o corpo como quem o protege da penetração mundana. Desliza com suavidade as mãos sobre o ventre. Esvai-se por entre energias de corpos suados, acelerados, no vai e vem de coisas inexplicáveis, pensamentos aleatórios.
Anaís tem a sensação de ausentar-se da matéria, como se estivesse em transe. O orgasmo é intenso, maior que a eternidade. Excitada com a finitude e embriagada pela viagem quase transcendental, Anaís olha-se mas não se reflecte no espelho. Anaís não se vê sobre a cama e só então percebe um rasto de sangue que vai do quarto até a casa de banho. Anaís levanta-se, vai até a banheira e percebe um corpo flutuando. Anaís retorna à cama, acende um cigarro e mal acaba de fumar, cria coragem para ver o corpo que flutua na banheira, mas é ela própria que está morta.
FADE-IN
INTERIOR. QUARTO DE MOTEL – DIA
PLANO GERAL:
Anaís está a dormir na cama. Ouve-se o ruído dos filmes eróticos do canal interno de TV.
FADE-OUT
FADE-IN
GRANDE PLANO – PERFIL DE ANAÍS:
Anaís abre os olhos, esfrega-os, e olha para cima (para o espelho).
FADE-OUT
FADE-IN
PLANO GERAL:
Anaís (através do espelho) pega no controle remoto liga o rádio. Ouve-se a canção Je táime, moi nos plus, junto com o som da televisão. Anaís começa a se masturbar, tocando, primeiro nos seios.
FADE-OUT
FADE-IN
SEQUÉNCIA DE PLANOS PORMENORES:
Mãos de Anáis a percorrer-lhe o corpo (seios, pernas, ventre). Esta cena será encadeada com imagens de sexo explícito vindas da televisão. A canção encerra com o fim da cena.
FADE-OUT
FADE-IN
O DESESPERO DE ANAÍS
FADE-OUT
FADE-IN
INTERIOR. QUARTO DE MOTEL – DIA
GRANDE PLANO – PERFIL DE ANAÍS:
Anaís olha para cima (para o espelho) e assusta-se.
PLANO GERAL:
Através do espelho, vê-se a cama do quarto de motel, sem Anaís mas com algumas manchas de sangue, que escorrem em direcção ao banheiro.
PLANO PORMENOR:
Mãos de Anaís a passar por sobre o sangue da cama.
PLANO GERAL:
Anaís (através do espelho) passa a mão no sangue espalhado pela cama, sempre olhando para baixo. Levanta-se e sai do enquadramento.
TRAVELLING:
Pés de Anaís a caminhar em direcção a casa de banho. Vê o rasto de sangue.
TRAVELLING:
Costas de Anaís a caminhar em direcção a casa de banho.
SUBJECTIVA:
Entrada da casa de banho mostra pernas de uma mulher a flutuar na banheira. Vê-se também sangue espalhado pela banheira.
FADE-OUT
FADE-IN
A MORTE DE ANAÍS
FADE-OUT
FADE-IN
INTERIOR. QUARTO DE MOTEL – DIA
GRANDE PLANO – PERFIL DE ANAÍS:
Anaís fuma um cigarro, de olhos fechados. Sua mão está sujas de sangue.
FADE-OUT
FADE-IN
PLANO GERAL seguido de PANORÂMICA:
Anaís levanta-se e segue em direcção ao banheiro.
FADE-OUT
FADE-IN
PLANO PORMENOR:
Mãos sujas de sangue de Anaís, ainda a fumar, a abrir definitivamente a banheira.
FADE-OUT
FADE-IN
PLANO GERAL:
Anaís morta na banheira.
FADE-OUT
FIM
Porto, 2000
ZENITO,
Carpinteiro de Poesia e de Cinema
.................................
ANAIS
SINOPSIS:
« Anaís » já nasceu poesia. Foi um sonho que se
tornou conto e filme.
Ela não existia como realidade e quase não se
realizou como ficção fílmica. Errei nas contas
diafragmáticas e revelei a película às escuras.
Anaís é este real que só é real quando já não o é.
Esse estado de inércia que é também movimento na
matéria e alma humanas.
De uma vida não se sabe,
só de seu destino, que é a morte, a nossa morte.
É só quando morre que Anaís se nos mostra em seu
sonho.
É através dessa passagem que a vejo surgir no
espelho da memória.
Anaís a deixar manchas de sangue nos lençóis do quarto
e rastos do corredor à banheira em que sempre estivera
morta.
Anaís tem a ver com todas as mulheres que amo e desejo.
É a minha vida, esta vida que sonho ser o que penso ser o que talvez ela nem seja, esta vida criada que sou eu, deus na obra.
Agora me sinto dominado por esta obsessão que se me escapa e foge com suas asas, Anaís.
.....................................
FICHA TÉCNICA E ARTÍSTICA:
ARGUMENTO: ZENITO
ACTRIZ: CÉLIA GOMES
MAQUIAGEM: WALTER PANTOJA
FOTOGRAFIA DE CENA: SARA COELHO
CÂMARA: JOÃO AMORIM E FRANCISCO DE BRAGANÇA WEYL
DIRECÇÃO DE FOTOGRAFIA: JOSÉ ALBERTO PINTO
ASSISTENTES DE FOTOGRAFIA: SALOMÉ ARIEIRA E SARA COELHO
CENOGRAFIA: SALOMÉ ARIEIRA
DIRECÇÃO DE ARTE: JOÃO TRINDADE
PRODUÇÃO: ANA TINOCO
DIRECÇÃO DE PRODUÇÃO: CRISTINA TASQUEIRA
REALIZAÇÃO:
LUIS MIRANDA
RICARDO LEITE
ZENITO
FILMADO EM VILA NOVA DE GAIA, PORTUGAL
ANO DE PRODUÇÃO: 2000
SUPORTE: PELÍCULA – SUPER - 8
CÂMARA: NIKON-SUPER 8
PELÍCULA: ADF - 100 ASA – P/B – SUPER 8
LABORATÓRIO DE IMAGEM: ADF BRUXELAS
TEMPO DE DURAÇÃO: 15 MINUTOS