Usina de Letras
Usina de Letras
301 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62175 )

Cartas ( 21334)

Contos (13260)

Cordel (10449)

Cronicas (22531)

Discursos (3238)

Ensaios - (10349)

Erótico (13567)

Frases (50580)

Humor (20028)

Infantil (5424)

Infanto Juvenil (4756)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140791)

Redação (3302)

Roteiro de Filme ou Novela (1062)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1959)

Textos Religiosos/Sermões (6183)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
Roteiro_de_Filme_ou_Novela-->Pedidos do coração também podem ser atendidos -- 27/09/2016 - 10:36 (Jeanne Martins Nascimento) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Pedidos do coração sempre podem ser atendidos

Éramos adolescentes quando José da Silva e eu começamos a namorar. Foi paixão a primeira vista. A primeira vez que ele foi a minha casa foi na festa dos meus 15 anos. Dancei com ele uma música só nossa, linda, romântica. Nosso namoro ainda não estava assumido perante a família. O apresentei como um amigo.

Essa paixão foi crescendo e se transformou em amor. O namoro amadureceu. Ternura, carinho e amor, muito amor. Assim eram nossos dias. José me despertava um calor no corpo e vontades que eu nem sabia explicar. Desejo de tocar sua pele, morder suas carnes, me entranhar naquele corpo cheiroso. Não demorou muito. Nunca fui dessas que esperam em demasia pra se lançar ao desconhecido, especialmente quando o tal desconhecido acena de longe com um turbilhão de promessas de prazeres.

Menino ainda, inseguro, ele tinha muitos ciúmes dos amigos do colégio, da nossa rua e até do tempo que passava com Camélia ele reclamava. Exigia que estivesse sempre em função dele. Eu travava uma luta dentro de mim entre o desejo de fazer ele feliz e meu desejo de ser mais do que a mulher de alguém. A vontade de manter meus lugares, minha identidade, meus vínculos. Foi num dia de conflito que disse a ele que estava grávida. Ele arregalou os olhos, sorriu, chorou, vibramos juntos abraçados e rodopiando pela sala. E nos perdoamos das desavenças dos últimos dias. Segunda pessoa que soube da chegada do meu filho foi Camélia que entre risos nervosos soube dizer “Quando Pai souber vai ficar puto, Amélia... Vai ter muita confusão, mas não esquece que a confusão vai ser passageira, mas o amor que vamos sentir pelo seu neném esse não vai passar nunquinha.”.
Quando pai soube, a confusão foi mesmo grande. Brigas, exigência de casamento, choro e lamentação. Mas na semana que mudei pra casa que o José alugou para nós morarmos, Pai trouxe um berço e uma cômoda que comprou a prestação. Montou os móveis e na hora de se despedir, deu tchau ao neném colocando as mãos graúdas na minha barriga: “Fica Tranquilo, meu neto. Sua mãe é uma sem juízo, mas tem vovô e vovó pra te acudir...”

José fazia planos, se fosse menino ensinaria a acertar o chute numa bola para fazer dela uma extensão do seu pensamento, guiar a bola na direção que quisesse, se fosse menina ia ensinar a acertar um chute nos bagos dos guris atrevidos quando fosse necessário. Não passava um dia sequer sem conversar com a minha barriga. Dava conselhos uteis ao ser que se formava.

Só que os ciúmes não diminuíam. Ele se queixava, dizia que via as coisas, que não queria ser traído. Eu só fazia dizer que não tinha cabimento. Jurava amor eterno... No fundo ele sabia que era verdade. Nunca entendi porque ele desconfiava tanto da minha fidelidade.

Teve um dia que amigos da escola vieram nos visitar. Um dos meninos, o Francisco pegou o violão e sentou-se na calçada de casa com a turma nossos amigos e amigas, todos velhos conhecidos. Como ele tocava muito bem e cantava que encantava fiz besteira e elogiei a beleza e a alegria do artista. José teve uma crise de ciúmes na frente de todo mundo. Me envergonhou, me humilhou, perdeu a razão.
Quando os amigos foram embora constrangidos, ele entrou, eu estava no quarto juntando roupas pra ir embora. Tudo que eu queria era estar longe dele naquele momento, perto da minha mãe, perto de Camélia. Ele quando viu que estava me preparando pra sair ficou furioso. Me bateu com muita força no rosto. Senti a face em brasa e entre lágrimas falei que ele não era homem era um covarde. Ele me empurrou.

A voz embargada de Amélia ao telefone me deu um nó na garganta! Que será que tinha acontecido? Sai tão apressada que perdi o casaco pelo caminho. Só lembrava do seu soluço do outro lado da linha. Saí chamando Pai e Mãe para acudir.

O portão entreaberto da casinha branca de janelas azuis me assustou ainda mais. Corri casa adentro e empurrei a porta do quarto devagar! Quando a vi meus olhos encheram-se de lágrimas! Sentada no chão, com as mãos sobre o ventre, sangrando, encostada no sofá! Corri até ela, seu semblante era da mais pura dor!

"Amélia querida, o que aconteceu?"

"O José me empurrou. Cai sobre a mesinha de centro! Estou com muita dor na barriga! Não quero perder meu bebê!"

"Calma, vou arrumar uma carona e vamos já para o pronto socorro".

Poucas pessoas tinham carro em Pazamor naquela época. Os vizinhos da rua de baixo tinham. Corri pra pedir que a levassem ao Hospital. Seu Armando e dona Neuza correram para ajudar.

Os enfermeiros a levaram para dentro. A espera me pareceu uma eternidade!

Quando a enfermeira disse que eu podia entrar, corri apressada. Meio sedada, olhos vermelhos de chorar, olheiras profundas.

Peguei na sua mão e apertei firme: "Tô aqui"!
"E meu sobrinho?"

“Não sei, deixa o médico voltar!”

Passado um tempo, o doutor veio, sério, olhos baixos. Li na sua testa que a notícia era ruim!

"Amélia, fizemos o possível, mas não conseguimos segurar a gravidez. Você é jovem, terá novas oportunidades".

O ciúme tece monstros disformes ao nosso redor! Um sorriso vira oferecimento, um aceno consentimento. Toma vultos tão desproporcionais, que transformam um homem apaixonado em um monstro que espalha dor em volta de si.

Ainda fiquei casada com José um longo tempo, sem filho e infértil. Fiquei até o dia em que me chamou de lixo e eu resolvi botar o lixo pra fora e sai da vida dele. Hoje tudo que eu queria era ser chamada de mãe. Uma voz de criança a me pedir colo, peito, aconchego. Não tenho. Por incrível que pareça não tenho mágoas de José. Nunca fui atrás dele, nunca soube notícias, mudou-se da cidade. Rapaz novo, mas de capricho, sabia do erro que cometera.

O ciúme é fantasma que vagueia nossos juízos. Cega nossos olhos, se infiltra nas nossas palavras e nos faz dizer e fazer coisas terríveis a quem amamos. O ciumento é tão egoísta que não olha para si, não vê sua mediocridade, sua agressão. Constrói cenas horrorosas em seu imaginário doentio. Tudo infundado, na grande maioria das vezes. Quantas pessoas estão chorando hoje por causa de ciúmes doentios?
Não foi a música, com seu poder de sedução, não foi o amigo com seu vozeirão, o que transformou José num animal foi a distorção da visão dele. Tudo fruto de imaginação deturpada.

Superei José. Não superei a vontade de ser mãe. Sem o filho que perdi me sinto incompleta. Acalento no fundo do peito a vontade de ser chamada de mãe. Por vezes sonho com ele no meu ventre. Nessas ocasiões apareço plena cercada de flores imensas, descomunais como a alegria que sentia por ele morar em mim.

Quando recebi alta, indo para casa sem meu filho, alma vazia, passando pela recepção a enfermeira de plantão ouvia em seu celular uma música linda, profunda, penetrante. Amparada pela minha irmã ouvi a música até o fim. Quando a música terminou perguntei que música era aquela. “Carmina Burana”, respondeu a enfermeira com um sorriso.
Hoje, tantos anos depois, não sei porque D. Helena uma hóspede do hotel, mulher de fibra, engenheira aposentada da Rede Ferroviária Federal, perguntou qual minha idade, se era casada...

“Tem filhos?”

“Não senhora”

“Pois não demore, ventre de mulher pede filhos!”

Eu sorri e fiquei pensando que ventre pede filhos, mas que quando não há meios de se atender esse pedido o coração passa a pedir também. Pedidos do coração sempre podem ser atendidos.

Jeanne Martins

Colaboração de João Rios Mendes e Ângela Fakir
Desenho de Ângela Fakir
Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui