Sexo e Erotismo
"Meninas, o dançarino já chegou?”
“Calma, ainda não. Mas já está a caminho.”
Melissa estava ansiosa. Não se continha de felicidade e apreensão. Quase todas as amigas já haviam chegado, Amélia foi uma das primeiras. Eram amigas de há muito tempo, estudaram juntas no segundo grau. Melissa continuou os estudos, formou-se em contabilidade e trabalha por conta própria em sua empresa. Já morou junto uma vez, teve dois filhos. Ela não aguentou por muito tempo os ciúmes e a preguiça do marido. Agora iria se casar só que desta vez era casamento de verdade, com vestido branco, igreja e convite para parentes e amigos.
As amigas organizaram a despedida de solteira. Preferiram a festa na casa de uma delas, ficaria mais privativo.
Enquanto o dançarino não chegava, foram bebendo vinho, comendo tira-gosto, rindo muito e falando de homens.
A primeira delas, uma moça de baixa estatura, cintura larga, vestido verde claro, disse que toda vez que bebia vinho tinha que fazer sexo.
“Não tem nada mais erótico que uma garrafa de vinho tinto na penumbra.”
Yasmin, a mais animada da turma e dona da casa, também falou da sua preferência:
“Meninas, não tem homem que me segure numa tarde chuvosa de domingo. Não tem hora melhor para namorar.”
Azaléia, que completava sua taça de champanhe, observou:
“Nem vem. Nada melhor como poder gritar. Por isso prefiro ir pro motel, lá eu me transformo, grito e berro a vontade. Saio renovada.”
A cada comentário umas e outras apoiavam com risos altos e a curiosidade aumentava para ouvir a próxima confissão.
Alguém provocou:
“E você Amélia, com essa cara de santa! Conta aí.”
“Falo mesmo. A melhor hora de transar é na hora de dormir. Nada melhor do que depois do gozo se jogar no peito dele e dormir abraçadinha. Poder ouvir as batidas do coração dele se desacelerando devagarzinho é tudo de bom. É a melhor trilha sonora para o sono e os sonhos."
"Amélia, isso é uma grande bobagem!" Disse Melissa, abusando da capacidade de dizer asneiras para a melhor amiga.
"Engano seu,"bobagem"é o que fazemos antes disso."
"Hummm, e o que seria?" Continuou Melissa enquanto as risadas aumentavam.
"Olha meninas, não gosto nenhum pouco de ficar falando das minhas intimidades, mas hoje vou abrir uma exceção. Tudo depende da "pegada" do cara. E pegada não está exatamente na maneira como ele te aperta ou te toca. Tem uma porção de coisas antes disso. Alguns alardeiam o que vão fazer ao pé do ouvido ou ao telefone, mas na hora `H` não mostram ao que vieram. Já disse Arnaldo Jabor num texto ótimo:
`Pele é um bicho traiçoeiro. Quando você tem pele com alguém, pode ser o papai com mamãe mais básico que é uma delícia. E às vezes você tem aquele sexo acrobata, mas que não te impressiona... Acho que o beijo é importante... e se o beijo bate... se joga... se não bate... mais um Martini, por favor... e vá dar uma volta.`
"Mas o que importa é o desmaio!"
"Desmaio???”
"Sim! O cara tem que ter intuição, coisa muito rara nos homens. Saber ler os sinais, de onde tocar, onde beijar, qual a pressão que tem que colocar no toque, na ponta dos dedos, adivinhar os códigos secretos do corpo feminino, senão vai acabar enganado. Cada mulher tem seu próprio manual, esta escrito em cada linha do corpo, movimento, respiração ou gemido. Os mais afoitos não conseguem ler nada disso, inventam até malabarismos achando que estão arrasando e a gente, se não está gostando, para se livrar finge logo um gozo fenomenal! Afinal mulher quando quer faz isso com maestria. E eles acreditam cegamente que se superaram, levados pelo excesso de vaidade que possuem ou por estarem ocupados demais em satisfazer apenas a si mesmos!"
"Ai, Amélia, você fala cada coisa, é até pecado isso"!
"Pecados e pecadilhos são particularidades de um casal, tem muitas cores e muitas formas. Pecados com alças, pecados com rendas, pecados com laços, pecados à flor da pele, pecados de toda cor. Todo pecado a dois, tem infinitas nuances de cor... Os meus, com certeza, sempre são essencialmente da cor do amor"!
"E o desmaio?"
"Esse é quando o cara lê seu manual. Aí está a tal pegada, sensibilidade, pura intuição, paixão, sintonia. Aí a gente até desmaia!"
Continuaram as trocas de confidências. Amélia foi a cozinha pegar um Martini, Melissa foi atrás e disparou:
"E essa coisa de desmaio foi com o cara que conheceu na viagem? Você já avisou do curso de reciclagem que vai fazer na semana que vem no hotel de praia do Nordeste? Uma semana inteirinha, na cidade onde ele mora, não vão se ver?"
"Melissa, minha irmã Camélia me enche tanto com essa mania de poesia de um tal JG que vou deixar pra vida resolver já que foi ela que começou sem sequer me perguntar. Tem um tal "destino mestre em dar nós " que ela diz que existe e comanda tudo. Estou até começando a acreditar que seja verdade depois de tudo que anda me acontecendo. `Coincidências demais`! Então quem sabe na barraca de água de coco na praia, num forró noite adentro ou num café qualquer num happy hour, dou de cara com ele por obra do destino? Se isso acontecer vou acreditar até em nó cego que não desata. Aí quem sabe desta vez, ele faça a minha leitura corporal linha por linha, traço por traço, tudo! E desta vez me faça desmaiar de verdade."
“E se isso não acontecer, logo vai aparecer um outro alguém para me falar de amor e, caso não seja tão bom em usar as palavras como ele, ao menos que conheça fluentemente a linguagem do sexo e erotismo!"
Colaboração: Ângela Fakir e Joao Rios Mendes
Desenho: Ângela Fakir
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