Dalva: mulher de 24 anos não tem, artista plástica , educação conservadora e machista , fechada.
Ulisses ,Marido , pai : 28 anos , desatento , narcisista.
Clarice: 35 anos artista plástica , ativa , comunicativa.
SINOPSE
Início; Curitiba , fleshes da vida de Dalva , seu casamento , carro de recém casados preso em engarrafamento. Corta. Pontal do sul; praia deserta. Dalva e Ulisses têm uma bar. Ela trabalha na cozinha , faz as compras de comida , deixou para trás a pintura. No mercado , comprando camarões encontra Clarice , pintora que traz à tona seu desejo reprimido pela pintura. Angustiada Dalva procura Clarice. Não encontra.
No bar , Ulisses despreza os gostos de Dalva.
Em casa , Dalva conversa com Ulisses sobre o que sente. Ele não a leva a sério. Ela sai correndo para a praia.
ROTEIRO
CENA 01
Cenas rápidas , como em um clip. Fim de tarde , exterior
Dalva (feições de menina) andando pela rua xv com uma pasta de desenho em baixo do braço. Corta.
Cena 02
exterior - fim de tarde
Placa da Escola de Belas Artes. Corta.
Cena 03
sala de aula - interior - fim de tarde
Sala de aula , visão total do fundo para a frente. Alunos de pé diante de tela. No tablado , na frente , um modelo pousa nú para os estudantes. Zoom em Dalva. Compenetrada e fascinada. Corta.
Cena 04
rua - exterior - noite
Vista aérea da rua . Vai aproximando . Zoom em edifício. Zoom na entrada do edifício. Entra Dalva . Corta .
Cena 05
edifício - interior - noite
Dalva saindo do elevador. Zoom no número do ap.(29).Abre-se a porta. Corta.
Cena 06
interior do quarto de Dalva - noite
Visão do todo; telas espalhadas pelo quarto , na parede quadros de Bosh e Dali , moveis tradicionais de moça de família. Fecha em um porta-retrato onde aparece Dalva abraçada a um homem( Ulisses). Corta.
Cena 07
rua - exterior - dia
Dia claro , Ulisses o homem da foto com jornal na mão andando na rua . Zoom no jornal; anúncios de emprego circulados. Corta.
Cena 08
rua xv - exterior - fim de tarde
visão área da rua xv , fecha nas mesas que ficam na calçada . Zoom em Ulisses que toma chope sozinho , pensativo. Em cima da mesa o jornal com os anúncios de emprego circulados , que agora aparecem riscados com um X .Corta.
Cena 09
igreja - interior - dia
Igreja. Zoom na porta ( música estilo Carmina Burana )
mostrando seu interior , casal de noivos andando do altar em direção à porta.(Dalva e Ulisses). Câmera vai se aproximando , passa pelos noivos , até fechar na imagem do calvário de Cristo atrás do altar ,( explosão as música ) imagem vai escurecendo até ficar preta. Corta.
Cena 10
exterior - início da noite
Zoom no teto do carro dos noivos , que é preto. Abre a imagem , subindo. Vista aérea; O carro está todo escrito e ornamentado como os de recém casados. A imagem continua a subir , é noite e a rua está congestionada. Barulho de carros e buzinas. Corta.
Cena 11
praia - exterior - dia
Cessa a música , barulho do mar . Dia claro e ensolarado . Praia deserta de Pontal do sul. Corta.
CENA 12
bar - interior - dia
Como uma continuação do barulho do mar: Barulho de engradados de cerveja sendo empilhados
Tudo escuro , preto , vai clareando vagarosamente até que se possa ver - luz normal - engradados de cerveja sendo empilhados. Zoom out ; bar , Ulisses empilha os engradados e Dalva atende pescadores nas mesas que conversam sobre a pescaria do dia , futebol e coisas assim... Os quadros que estavam pendurados na parede do quarto de Dalva estão agora no bar. Dalva entra na cozinha - porta atrás do balcão.
Pescador pergunta sobre o seu pedido a Ulisses que está atrás do balcão. Este olha para a janela de comunicação entre o balcão e a cozinha e fala “Dalva?”. A câmera vai aproximando da janela até “entrar por ela”. Zoom nos pratos que Dalva prepara para servir - a comida está arrumada nos pratos de forma estética. Zoom nos olhos de Dalva. Os pratos aparecem refletidos em seus olhos como se fossem telas. Corta.
CENA 13
Mercado Municipal(?) .Mulheres de pescadores vendem camarão , peixe. Várias bancas. Dalva está em uma delas escolhendo camarão para o bar. Ao seu lado uma mulher , Clarice , também escolhe camarão. Clarice puxa papo com Dalva.
Clarice: Que camarão bonito !
Dalva: Você não vai encontrar melhor em lugar nenhum.
Clarice: Você trabalha nesta banca? ( rindo - tom de brincadeira )
Dalva: Não , É que eu e meu marido temos um bar aqui em Pontal .
Clarice: ( olhando Dalva atentamente ) Puxa , você não tem cara de moradora daqui!
Dalva: É , na verdade faz pouco tempo que nós viemos para cá. Eu morava em Curitiba , depois que casei , como meu marido não conseguia arrumar trabalho , decidiu vir para cá e montar alguma coisa.
Clarice: hum... Não deve ser fácil mudar de uma cidade grande para um lugar como este.
Dalva: Que remédio! A gente acaba acostumando.
Dalva abaixa a cabeça.
Clarice: ( percebe o desassossego de Dalva e volta-se para a banca de camarão ) Moça ( dirigindo-se à mulher da banca) veja para mim 2 quilos deste camarão aqui. (à Dalva ) Eu sabia que não deveria vir aqui. Essas tentações (referindo-se ao camarão) me desconcentram do meu trabalho.
Dalva: Você está aqui a trabalho?
Clarice: Na verdade eu vim atrás de silêncio . Quem sabe assim eu consigo pintar alguma coisa. (pausa) Além disso tenho que aproveitar a brecha que meus filhos deram , sabe como é , adolescentes! Tomaram conta do apto.
Dalva: ( seus brilhavam , mudança na fisionomia que estava um pouco apática) Você é artista plástica?
Clarice: Sou. Você se interessa?
Cena 14
prédio de Clarice - interior - dia
Clarice e Dalva sobem as escadas. Clarice leva à mão a maçaneta. Zoom no número do apartamento ( 29) . A porta se abre.
Cena 15
apartamento de Clarice - interior - dia
Decoração praiana. Cavalete com tela no centro da sala , pincéis e tintas espalhados sobre a mesa. ( Música : Estudo em Mi Maior Opus 10 - Andre Kostelanetz )Dalva aproxima-se vagarosamente do cavalete , Olha a tela por alguns instantes para em seguida tocá-la , como se tocasse o corpo do ser amado. Clarice grita da cozinha se ela aceita um café. (cessa a música) Como se acordasse de um transe , assustada , tira a mão da tela. “ Aceito sim . “ Dalva olha ao redor examinando a sala. Vê algumas telas no canto da sala e dirige-se à elas , examinando-as. Clarice entra com o café.
Dalva: (assustada) Desculpe ir mexendo assim nas suas coisas.(larga as telas)
Clarice: Tudo bem , só que essas telas não estão lá grande coisa.
Dalva: Você vive só da pintura?
Clarice: Heroicamente sim. (rindo) Aliás , viver de acordo com o próprio desejo é sempre um ato heróico.
( é visível a angústia criada em Dalva pelas palavras de Clarice. )
Dalva caminha até a janela. Visão de Dalva da janela: praia , mar. Barulho das ondas quebrando.
Cena 16
Bar - interior - fim de tarde
Dalva chega no bar , pára na porta fica olhando , pensativa. As mesas estão todas ocupadas. Barulho de pratos , talhares e conversa. Ulisses atende uma mesa de costas para ela. Quando a vê diz:
Ulisses: (irritado)Porra mulher onde é que você se enfiou! ( Dalva permanece parada e em silêncio olhando-o ) Se mexa! Está cheio de pedidos por fazer!
Zoom no rosto de Dalva - triste e distante.
Cena 17
Bar - exterior - fim da noite
Dalva e Ulisses fecham o bar. Andam pela rua ( indo para casa)lado a lado. A rua está deserta , só se ouve o barulho de seus passos e o som do mar ao longe.
Ulisses: Onde você se enfiou o dia todo?
Dalva: Fiquei conversando com uma mulher que conheci no mercado .
Ulisses: (olha para Dalva indignado , surpreso) Que é isso Dalva! Deu agora para dar trela para gente estranha?
Silêncio
Ulisses: Que tanto você falou com essa mulher?(irritado )
Dalva: Não sei por que tantas perguntas.
Ulisses: Não sabe! ( irônico) Você some o dia todo , me deixa sozinho no bar feito louco para atender todo mundo , chega com uma cara esquisita . Daí essa história que conheceu uma mulher no mercado... Nem o camarão você trouxe!
Dalva: ( num rebento) Ai Ulisses me deixa em paz! Não basta viver aqui neste fim de mundo ! Me deixa pelo menos conversar , de vez em quando , com gente como eu.
Ulisses: Conversa comigo! Por um acaso eu não sou como você!?
Chegam no portão de casa. O barulho do mar aumenta. Os dois entram.
Cena 18
Quarto de Dalva e Ulisses - interior - noite
Dalva e Ulisses estão deitados na cama. Ulisses virado para a parede dorme. Dalva , meio sentada olha as coisas dentro do quarto. Ponto de vista de Dalva: Paredes nuas , móveis simples. Pára o olhar atrás da porta onde se vê algumas de suas telas antigas . Dalva pisca e a imagem escurece.
Cena 19
Sonho de Dalva
Dia , praia deserta. Toca a mesma Música da cena 09 - Casamento. Dalva de Frente para o mar pintando uma tela , em nenhum momento olha para a tela , apenas para o mar ( Não aparece o que ela está pintando) Clarice aparece e caminha até ela.
Clarice: O que você está pintando?
Dalva: (olhando para Clarice ) A minha morte.
Clarice: (olha para a tela) Eu vejo o amor de outra forma.. ( a tela é a reprodução fiel do casamento de Dalva - cena 09 )
Pela primeira vez Dalva olha para a tela , explosão da música , expressão de surpresa e horror no rosto de Dalva.
Cena 20
Quarto de Dalva e Ulisses - interior - dia
Dalva acorda num sobressalto., desorientada , assustada. Olha Ulisses dormindo ao seu lado , novamente seu olhos param nas telas atrás da porta , decepcionada percebe que nada mudou. Ouve-se o barulho do mar , forte.
Cena 21
Dia - Dalva vai a procura de Clarice
21.1. Dalva aperta o interfone - zoom na mão e no botão ( n.º 29 ).
21.2. Cozinha .Barulho de interfone tocando. Silêncio. Sobre a mesa garrafas de cerveja (muitas ) , cinzeiros cheios - cara de dia após festa. Na sala tudo está quieto , os materiais de Clarice ( tintas , telas) não estão mais lá. O interfone toca novamente demoradamente.
21.3. Dalva , na garagem do prédio , em frente ao interfone , ansiosa.
21.4. De um dos quartos sai um rapaz , 20 anos , cara de sono e ressaca. Vai até a cozinha e atende o interfone.
Rapaz: O que é ? (irritado)
21.5. Garagem - Dalva
Dalva: Eu queria falar com a Clarice.
21.6. Interior do apto.
Rapaz: Não tem ninguém com esse nome aqui minha senhora. (irritado)
O rapaz coloca o interfone no gancho e volta dormir.
21.7. Dalva - garagem do prédio
Expressão de dúvida em seu rosto , olha a sua volta e vê as telas de Clarice encostadas em um canto da garagem. Volta a apertar o interfone.
21.8. Interior do apto.
Barulho do Interfone
Aparece outro rapaz , só de cueca , também com cara de sono e ressaca . Atende o interfone.
Rapaz 2: Alô! ( ríspido)
21.9. Garagem do Prédio
Dalva: Por favor a Clarice.
21.10. Interior do apto.
Rapaz: ( suspiro) Morreu.
21.11. Garagem do Prédio
Dalva: Como? Alô!
21.12. Interior do apto.
Tudo quieto e vazio.
21.13. Garagem do Prédio
Dalva , expressão de vazio e desconsolo.
Cena 22
Interior - começo de noite - bar
Apenas uma mesa está ocupada. Dalva está atrás do balcão , expressão distante. Ulisses está sentado com os fregueses conversando. Estes têm um aspecto rude.
Freguês 1: Porra Ulisses você é um viado! ( risos) Olha para esse bar. (pausa) Agora me diga o que é que é esses quadros na parede?(O assunto chama a atenção de Dalva que passa a prestar atenção na conversa) Pelo amor de Deus né Ulisses , cria vergonha na cara !
Ulisses: Isso é coisa da Mulher! Ela gosta dessas frescuras , coitada , precisa se divertir! ( com desprezo )
A conversa continua , enquanto Dalva mantém o olhar sobre Ulisses - pensativa.
Cena 23
Varanda da casa de Dalva e Ulisses - Noite
Dalva (agora com feições de mulher) e Ulisses estão sentados , aperitivando e tomando cerveja.
Dalva: Você acha mesmo que meu gosto pela arte , pela pintura , é frescura?
Ulisses: (pausa) Isso é bobagem mulher , eu falei brincando. ( descaso)
Dalva: Eu sinto falta de pintar , a vida parece sem sentido (pausa) sem cor...
Ulisses: Mulher deixa de loucura , arte não enche barriga de ninguém. Você devia se preocupar mais com o bar , é ali que está nosso futuro.
Silêncio. Nada acontece - nenhum carro passa na rua , nem mesmo o vento movimenta as árvores. Permanecem assim , estáticos . Ulisses se levanta.
Ulisses: Vou dormir. Você vem?
Dalva: Eu fico...
Dalva permanece ali , sentada , aonde nada acontece. Seu olhar está distante. O dia começa a amanhecer.
Cena 24
Interior da casa de Ulisses e Dalva - caminho que leva até a praia - dia
24.1. Ulisses acorda , o lado de Dalva está arrumado dando a entender que ela não foi dormir. Corta.
24.2. Dalva percorre o caminho de terra que leva até a praia , ouve-se o som de pássaros e um tênue barulho do mar.
24.3. Ulisses sai do quarto já de roupa. Procura Dalva pela casa chamando seu nome. A porta que dá para a varanda está aberta , ele vai até a varanda , tudo está quieto e vazio , o dia está claro e ensolarado. Ele olha em direção a praia.
24.4. Forte barulho do mar. Dalva parada na frente do mar , nua. Ulisses , um pouco distante grita seu nome. Ela não o ouve mais. Dalva começa a correr , beirando o mar. Música: ESTRELA DALVA
Ulisses: Ficou louca! Põe a roupa! Mulher! Volta aqui!