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Roteiro_de_Filme_ou_Novela-->A vida como um projeto- cap. 3 e 4 -- 14/02/2000 - 11:10 (gilberto luis lima barral) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
cap. 3

Meu nome é Vernon Madruga. Antes era um nome maior, Eustáquio Carmelo Vernon Madruga, mas pôr sugestão de Inês, a professora de redação eu o reduzi a isso, Vernon Madruga. Mas nunca precisei de um nome, juro. Nas ruas e entre amigos não há necessidade de se Ter um, pode ocorrer de você Ter um apelido ou outro chamado qualquer que lhe caia muito melhor. Um dos nossos amigos, pôr exemplo, tinha recebido de seus pais, na verdade de sua mãe, em homenagem a um profeta, o nome de Nicodemus. Queria vê-lo furioso era chamá-lo assim, principalmente, quando ele estava com alguma garota ou coisa que o valha e encontrava os mais chegados. Numa dessas vezes ele estava com a Sofia Arles, a garota das pernas mais bonitas da escola, cheio de histórias e já quase nos amassos, quando eu o encontrei. Somente eu sabia seu nome entretanto, ali naquelas imediações, ele não era um colega da escola, era um amigo. E estava ali pelas redondezas esperando pôr mim ou pêlos outros, ou pôr alguma das garotas. Eu o cumprimentei assim, como um chapa meu, pelo nome, sem me dar conta do enorme acidente que causaria. Quando a gente não pensa, acaba complicando alguém.
Sofia ria tanto que, perdendo um pouco as estribeiras, babou um pouco pelos ares, mas não conseguiu parar. Continuou suas gargalhadas e elas foram ficando cada vez mais altas, e como era hora da saída o portão da escola estava aberto e cheio, aquele riso se espraiou e tomou conta do ambiente, eu não pude segurar ! E pôr Ter causado tal transtorno a um amigo, eu juro que não poderia Ter me deixado dominar pôr aquela histeria coletiva. Era só um nome, mais nada. Mas ninguém sabia de nada, só riam aos montes. Essa coisa idiota que acontece muito no cinema, pôr exemplo, principalmente quando o filme não é muito retardado, como diria Louie. As coisas boas para ela eram chamadas de retardadas, é melhor explicar logo.
Meu amigo piorou tudo quando começou a chorar e a correr desesperadamente. Se ele tivesse entrado no embalo e dado um bocado de gargalhadas ninguém iria notar o evento. E acredito que Sofia também não conseguiria articular um som qualquer que explicasse o motivo de suas risadas, parecido com Nicodemus, talvez saísse um Xenofontes ou um Riobaldo, sei lá. O negócio foi assim, ela ouviu o nome, começou a sorrir, o troço se espalhou e depois de um tempo, com as pessoas se cansando a coisa foi descendo para uma respiração ofegante, com alguns enxugando lágrimas ainda, e caiu para um “ai, ai, isso é muito engraçado...” Em tempo: o que sai do riso pode ser também chamado de lágrima ? Depois tudo ficou num silêncio abissal, ninguém parecia entender nada. Sofia não se lembraria nunca do nome de meu amigo Baldim, ou se quisermos, Nicodemus, que só voltou a circular pôr ali umas três semanas após o acontecido. Se eu fosse ele não voltaria nunca mais. Mas como não o sou, ele continuou sendo o cara bacana de sempre, com o seu feio nome impresso nos documentos. Até a Sofia ele perdoou. Ou ela perdoou a mãe dele, se quiserem. Ele continuou tocando comigo e fazendo parte da turma normalmente, mas as nossas relações ficaram abaladas. Se ele quisesse podia armar alguma para mim, com o mesmo mote, pois onde já se viu chamar Eustáquio Carmelo. Esses pais são todos uns doidos egoístas. Pôr isso se eu tiver um filho ele irá se chamar João e se for filha Maria. Se ele quiseram depois complementam com alguma coisa ou assumem um codinome. Como eu o fiz.

Cap. 4

A professora Inês achava-me um tremendo escritor de redações. Me dava dez em todas, ou nove, às vezes, quando eu viajava demais no tema ou para fora dele. De qualquer modo era a minha salvação na escola as suas notas para somar ao currículo nos resistentes exames de chá com biscoito e óculos que os colegiados promoviam para nos policiar.
E policiava mesmo. Se o estudante era um bolsista de algum dos programas da escola ele tinha obrigação de tirar sempre um dez, e no mínimo nove. Longe de preconceitos e mais pela estrutura econômica mesmo, apenas de vez em quando se via um negro ou um pobre nesses programas de bolsas. O tipo ideal eram os caras franzinos, de óculos, branquelas e com algum sobrenome bacana, daqueles tradicionais ou impronunciávies. As moças, eu não conheço bem as suas competências, mas elas tem alguma chance também, afinal a estrutura machista acaba se revelando aqui e ali nas escolhas. Sem dúvida a beleza conta bastante, mas que elas andam com mais chances isto é verdade. Principalmente as que tem alguma personalidade.
Mas também é certo que dar alguma bolsa para algum de nossa turma era perigoso, afinal não andávamos em consonância com a podreira que emergia das instituições. Talvez fazíamos a coisa com muito desejo e disposição apenas pôr diversão, ou contra o tédio, quem é que sabe ? O certo é que a escola, de uma maneira geral, nunca foi mais a mesma depois que inventaram umas regras malucas para afundar ainda mais a cabeça dos rapazes na lama. Isso sem nenhum saudosismo, basta olhar.
Também hoje, ninguém esta precisando assim de escolas, ou pelo menos dessas que estão aí.
Engolir cacos de vidros, se estrebuchar em praça pública, mostrar a bunda ou apenas se tornar um cordeiro manso, vestindo a camisa de uma empresa, pode render muito mais fortuna e prestígio a uma pessoa. Pode lhe dar o caminho para o sucesso. Aquele que Warhol, a velha bicha antenada, já nos tinha prevenido e preparado. Mas eu tenho certeza que ele, assim como a minha ingênua e querida professora Inês, jamais pensariam que o espetáculo humano tomaria estas proporções. Ou seja que o espetáculo humano se tornaria, mesmo com todos os avanços tecnológicos, tão fuleiro, tão nojento e brutalizado. Não que eu não goste de uma sacanagem, não é isto. Mas a coisa piorou muito.
Até as velhinhas que naqueles dias da névoa amarga se mobilizavam junto ao emblemáticos movimentos e marchas da família pôr alguma moral, contra até mesmo um biquini ou uma sunga, hoje se deliciam com a putaria e o desleixo que toma conta de todos os espaços públicos. Tenho um dó de imaginar a minha querida professora, toda pura e casta, sendo obrigada, do alto de sua aposentadoria, a assistir esse espetáculo. Tomara que ela já tenha conseguido se livrar desta vida.
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