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Roteiro_de_Filme_ou_Novela-->Baú de Memórias -- 24/03/2001 - 11:59 (Maria Dalva Junqueira Guimarães) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos






baú de memórias









Maria Dalva Junqueira Guimarães



baú de memórias



Revisão: Joilson Portocalvo




1999





“Sim, os extraviados um dia regressam
ou nunca, ou pode ser, ou ontem.”
(Carlos Drummond de Andrade

“O galo pigarra seu canto insólito em corda de sol
fiando a manhã.”
Dinovaldo Gillioli

(Dinovaldo Gillio
“O pássaro voa trans abismos.”
(Ave, Palavra)
João Guimarães Rosa


“Nada é mais seguro do que as coisas incertas.”
François Villon

“Minhas mãos nasceram para amansar cavalos
e segurar bois.
Procuram, no entanto, amansar as palavras.
....................................................
Nasceram as minhas mãos para as tetas da vaca
e a feitura do queijo. E reprimem e apertam
e buscam tirar o leite das palavras.
Estas mãos nasceram para derrubar madeira,
para rachar lenha, esticar arame,
levantar cercas.
Mas lutam com as palavras, dividem as palavras,
puxam as palavras e acabam erguendo cercas
entre elas e as palavras.”
Antônio Vítor Dias Filho












































Ao meu pai
José Junqueira de Souza (in memoriam)
e à minha mãe
Maria Sebastiana Guimarães de Souza — Lia










Uma explosão silenciosa
Delermando Vieira












O
s trunfos de uma narrativa está, às vezes, no aspecto da condução, no maneirismo natural, criativo e ardiloso do autor. Nem sempre confundir simplicidade com vulgaridade, feito este que muitos narradores, buscando edificar algo verdadeiro, belo, sábio, incorrem sobremaneira desditosos. Às vezes, pode o narrador enveredar-se pelas veredas insensatas da repetição, como pode, também abrir lacunas, fechar caminhos, tão necessários à construção de uma boa narrativa. O fato, esmero coerente, faz parte, essencial, de uma narrativa notável, interessante. No caso de muitos, e isso é freqüente, ocorre distorções, ambigüidades, irrelevâncias, ou seja, desvios de momentos importantes, algo assim. A concisão, para muitos é de suma importância; para outros, é preciso que se alongue, detalhe, faça-se presente na minúcia do enredo, da trama, da imagética, fazendo valer, desse modo, a riqueza de todo um emaranhado singular, sério e evidente.

Cientes disso, podemos afirmar que em baú de memórias faz-se presente uma narrativa natural, linear, discreta, tendo, porém, no animus de sua história, a realização de fatos, diálogos, imagens, imbuídos de simplicidade, mas retóricos no seu estar, sem contudo, deixarem transparecer uma inverosimilhança fatal, longe da sincera criação da autora.

A narração, aqui levada aos ícones do regional, dá-se por inteira, muito embora tenha, enquanto estilo, a direção una de todo um apanhado real, onde, por certo, viajam as figuras, o som, o odor, o imaginar, da terra, das águas, do chão haurindo-se forte, ousado, distanciando-se às interporeis da natureza vibrante, tempestuosa, grave, em sua razão de viver, fazer da vida uma explosão (silenciosa) inerente aos engenhos e ardis de seus personagens.

Aqui, neste baú de memórias, nota-se que a autora, preocupou-se em erguer o mundo, o modus vivendi, de um tempo que, perdido no tempo, ainda vive, rumina e assombra, na sua própria memória; é, talvez, o tempo dela mesma, a autora, uma certa representação, revivência, de seu único orbe, a fantasia emocional, rediviva, de casos, imagens e personagens erigidos em sua memória, como uma galeria de águas, de seres, currais, sertão, luz e sombra, rumorejando em si mesmos.

Por isso, então, toda a natureza textual desta narrativa nada mais é que uma fotografia, um registro de vidas, de personagens, tais como Rafaela, Eugênia, Caetana, Matilde, Juvenal... nada mais que um movimentar-se, transido, irrequieto, de cada vida, cada instante, circulando, revivendo, agindo. Todo o aparato, por sinal poeticamente erguido pela autora, traz, no seu cerne, a propriedade, o suor, o viço, o cheiro da terra, com seus costumes, suas crenças, sua força natural, enraizada até os ossos, completa na sua seqüência de ser.

Os personagens, aqui, se misturam, sem se confundirem, como num jogo de espelhos unos, refletindo e refletidos em si, como cacos e resquícios de lembranças, saudades e destinos efêmeros.
A autora, embora tentando concatenar, figurar e desfigurar imagens, tema, anuências de seus personagens, cria, sobretudo, um todo de testemunho de vida sertaneja, telúrica, com seus carros de boi, seus frutos, suas panelas, seus temperos, suas mezinhas. É sem dúvida, toda esta narrativa, uma espécie de fatos, que têm por sentido um eco nos tempos, na origem de antanho.

Como uma cantiga que, lentamente, vai se espraiando, saindo, docilmente, dos furos, do sopro de uma flauta mágica, vão os fatos se desenvolvendo, ganhando corpo, alma, dentro de um conduzir limpo, simples, verdadeiro, humanamente belo em detalhes concisos; e a mãe natureza é, sem resquícios de mistério, a figura mais constante nesta narrativa; daí, enfim, o título baú de memórias ter como cenário Vazante, o centro de tudo.

Daí, então, ser, aqui, a natureza o personagem maior, e, naturalmente, não nos cabe, por assim dizer, traçar, às claras, o enredo, pois, assim sendo, certamente o leitor perderá o interesse de viajar por esta narrativa; por isso, preferimos deixar, no ar, o que vai, de modo tão sublime e terral tirado do fundo do baú de memórias.

Primavera, 1997
D.V.


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