OS PECADOS DA TRIBO (2)
Roteiro de Coelho De Moraes, sobre a obra de José J. Veiga
Personagens: O Herói (H), Rudêncio (R), Consulesa (Ca), Cônsul (C), Pessoa (P), Pessoa 2 (P2), grupo de festeiros, Mamãe (M), Zulta (Z),
CENA 2
R: Contanto que não esfumacem os rios, tá tudo bom?
H: Você só liga pra isso. A Casa do Couro não vai funcionar mais.
R: É... aé acaba aquela baderna... Ah! O Cônsul está aí. Quer falar com você.
(H entra e vê o C olhando as plantas na varanda)
H: O senhor Cônsul deseja?
C: Ora, ora, eu vinha andando e por coincidência passei pela sua casa...
H: Como vão as viagens a Altamata?
C: Ainda bem que tocou no assunto. Um fracasso.
H: Mas por que?
C: Por causa da senhora Consulesa. Ela queria parar a todo instante para invocar a história do local. Ela acha um lugar bonito, párea e começa a sua invocação. Depois que descobriu esse processo de invocar a história ela não serve mais para companhia de viagens com prazo marcado.
H: Deve ser fascinante. Reconstituir os acontecimentos passado em um lugar partindo da paisagem, das marcas deixadas pelas pessoas que os viveram. Funciona mesmo?
C: Parece que funciona. Mas em viagem é um estorvo.
H: Ela deve saber coisas que ninguém sabe. Gostaria de conversar com ela.
C: Quer mesmo?
H: Muito.
C: Então... por que não a recebe aqui por algum tempo? Ela passava uns dias aqui instruindo e distraindo vocês e eu aproveitava para completar minha viagem. Que tal? (H fica espantado. O C se levanta) Então está combinado (apertando a mão de H). Amanhã cedo ela vem.
(Corte para os pés de Ca. Tomada subindo dos pés ao rosto. Bela mulher. Ar irônico. Cortes sucessivos para suas tralhas. Corte para o sorriso da mulher. Funde com cena de jantar com M e Z e H. Felizes. Divertidos. Corte para passeios de H e Ca. Passeio sobre ponte e lago. Ca carrega um embornal).
H: Então a senhora invoca a história...
Ca: Você... eu já disse... invoco sim.
H: Isso não é brincadeira ou engano seu?
Ca: (não liga) Não, não é.
H: Um tipo de delírio.
Ca: Não. Não é nenhuma fantasia.
H: Então mostra.
(param perto do lago. Ca se posiciona para meditar. Fala coisas, estremece, rodopia. H não tira os olhos de seus pés).
Ca: A concentração não está boa (tenta) Falta um pouco de sintonia. (tenta) Há muita interferência aqui. E vOcê não para de olhar para meus pés. (Ca sorri ao ver H sem jeito) Gosta deles? (de repente ela começa a entrar em sinjtonia e fala sobre a história de quem vivia por. Ca vai ao chão e H só se preocupa em tovcar os pés dela. Ela para de falar e ele nem percebe).
Ca: Você só está pensando em meus pés. Você está com vontade pegá-los.
H: Sim. Seus pés estão me tirando o sossego. (Ca molha os pés no lago e põe sobre o colo de H).
Ca: Se quiser, pode alisa-los ( Ca se deita. H está aturdido e começa a pegar os pés com certa força). Você não tem um pouco de mel, por aí? Ou calda de ameixas?
H: (procurando no embornal) Tenho geléia de morango, serve?
Ca: Serve. (H acaricia os pés com geléia e Ca geme cada vez mais intensamente. De repente). Chega. Não sou de ferro.
H: Só mais um pouco.
Ca: ( se levantando) Não senhor. É chega mesmo.
H: Estava tão bom...
Ca: Outro dia. O mundo não vai acabar hoje. Já é tarde e eu estou com sono.
(Seguem caminhando pela borda e do outro lado do lago tem um festeiros com tochas, fantasias e reco-recos e pandeiros. Eles se aproximam.)
H: vamos lá, dar uma olhada? Dançar um pouco?
Ca: Enquanto meu marido estiver fora eu não quero ser vista em festas.
H: Muito sensato...e... tem notícia do senhor Cônsul... quando volta?
Ca: (encarando) Por que? Está com medo ou com remorsos?
H: Com remorsos... não digo... estou é com medo mesmo...
Ca: Eu sabia Você tremia o tempo todo. Quando vocês tremem assim é porque estão morrendo de medo (H fica espantado e sem graça, olhando para o chão )
H: Então eu não sou o único que acariciei... (levanta os olhos e vê que Ca se juntou aos dançarinos e levantou as saias, desceu o decote, canta e dança e vai se afastando com o grupo. H observa). Mulheres! ( Volta sozinho. Finda cena no grupo ao longe em festa, com reflexos dos archotes nas águas do lago).