Seq. 01 : Porque sim : int/dia
O trem vem vindo... A sensação do vento zunindo, fazendo um barulho de metal retorcendo. O vento vai ficando mais forte, o metal faz um barulho agudo como uma cuica de aço, tudo indica que o trem vem vindo. Chegando sem muita cerimônia, sem pedir licensa, nem de avisar com antecedência. Este trem é um trem cargueiro, ele carrega seres humanos pelo interior do concreto, como uma toupeira numa viagem ao centro da terra. As pessoas se locomovem através das toupeiras, indo em direção à seus medos e anseios. Onde vamos todos nós ? Nós vamos seguir este metrô e seus passageiros até o destino final. A campainha da porta se abre, os viajantes se agrupam dentro do trem, que guarda seus tripulantes avisando ao selar as portas. Haviam poucos passageiros a entrarem no vagão, que parecia mais cheio antes da parada, muita gente havia deixado o trem, eles chegaram em seu destino, mas entrou agora a pouco um senhor limpando seus óculos e muito distraido como se não fizesse parte de um todo. A viagem tem seu início com um solavanco, que arremata seus passageiros para trás e logo depois para frente. O senhor que estava se sentando havia deixado seus óculos cairem ao som do solavanco. Ele estava tentando encontra-los em vão, quanto uma moça bonita, com seus 28 anos, mas com uma carga de maturidade de uns 4 anos sentado ao lado no assento. O menino apanha os óculos no chão e entrega à sua mãe, uma moça de cabelos negros, olhos castanhos e muito bem apresentável. A moça entrega os óculos ao seu dono, o senhor do assento ao lado.
MÃE
Esse óculos é do senhor ?
SENHOR
Muito obrigado... Não estava vendo nada.
MENINO
Você é cego ?
MÃE
Que isso Lucas ? - beliscando o menino sem muita convicção.
Desculpe senhor ?!!!!
SENHOR
Não é nada.
LUCAS
Mããe, mãããe, mããããee !!!!!!!
MÃE
Quê ?
LUCAS
Por que a maconha é proibida ?
Neste mesmo momento, todos os outros passageiros que estavam entretidos em suas pequenas e insignificantes conversas, voltaram sua atenção para o menino e sua questão primordial. Uma questão de vida ou morte, pois é sabido que as crianças quando fazem uma pergunta impertinente, esperam de um adulto uma resposta compreensível e coerente ao invés de uma simples afirmação de que não iriam entender a resposta em questão.
MÃE
Porque sim ! Você não ia entender...
Dizendo isso a mãe reprova a impertinência do menino ao impor tal rigoroso questionamento. O menino, não satisfeito com a resposta, pois logo se vê que a questão de vida ou morte é outra, volta a questionar sua mãe sob os olhos atentos de toda a tripulação.
LUCAS
Mãe, se a maconha é proibida ?...
Seq. 02 : Porque sim não é resposta : int/dia
A mãe se lembra de todos os seus pecados, quando numa reunião de amigos, seu filho Lucas acordou com o barulho dos convidados, flagrando-os numa celebração muito estranha, uma comunhão com um cachimbo da paz. Flashes da memória são sempre assim, eles vêem como uma imagem borrada, meio sem foco. As situações eram de puro entorpecimento devido ao alcóol da bebida consumida e da canabis inspirada. Seu filho não poderia saber naquele momento, que todos os amigos de sua mãe, incluindo a própria, fumavam aquilo que ele tanto ouvia pela televisão. Como poderia ele saber que aquele cheiro que predominava na sala, era o cheiro de maconha.... A mãe se lembra do olhar que o menino havia lançado naquele dia ou noite, se bem que já era dia. O menido deixou um olhar de reprovação que havia sido interpretado como:
LUCAS
Mãe... Eu quero dormir...
Poderia ter sido aquele um olhar de reprovação ?
LUCAS
Mãe, se a maconha é proibida ?...
Seq. 03 : Se a maconha é proibida ? : int/dia
Os rostos dentro do metrô, todos olhavam fixamente para mãe e seu filho. A conversa dentro do metrô parece se resumir nas questões do menino, e na coitada de sua mãe que além de estar em um metrô, está contra a parede, acuada pela impertinência do filho.
LUCAS
...Porque é que todo dia aquele cara passa lá em casa ?...
Seq. 04 : A humilhação : int/dia
A mãe se desespera, parece tudo caminhar para um fim inevitável. Ela olha para o senhor sentado ao lado, seu rosto é de desaprovação. Parece que todos os outros passageiros compartilham do sentimento do senhor sentado ao lado.
SENHOR
Você não tem vergonha do exemplo que dá ao menino !
PASSAGEIRO 1
O vai ser dele quando crescer ?
Seq. 05 : O barão de canabis : int/dia
Dentro da casa a mãe brinca com seu filho enquanto escuta o sinal da campainha avisando que tem alguém no protão da frente. A mãe se levanta para atender a porta, deixando o menino à brincar sozinho. O menino vê sua mãe sair pela porta, sem tirar os olhos da mesma a fim de avistar sua mãe ao retornar para que os dois possam continuar a brincadeira. A mãe reaparece, porém enfia suas mãos na bolsa, que se encontrava na prateleira ao pé da porta, apanha um punhado de dinheiro e sai novamente pela porta. O menino desta vez, não se contém, e sai em direção à janela da casa, a fim de ver o que sua mãe se ocupa tanto do lado de fora, a ponto de acabar a brincadeira. O menino vê sua mãe entregando o dinheiro à um homem desconhecido, e recebendo um saco de lixo bem embrulhado de volta.
Seq. 06 : A humilhação 2 : int/dia
A mãe não sabe o que fazer diante de tal situação imprevisível, ela olha para os lados novamente e vê as mesmas pessoas a reprovando.
PASSAGEIRO 2
Isso é exemplo que se dê ?
PASSAGEIRO 3
Desse jeito esse menino vai ser um maconheiro quando crescer.
PASSAGEIRO 4
É esse o exemplo que você quer que ele tenha ?
Nisso, ela avista a porta da campainha se abrir, dois policiais entram no trem para seu desespero.
POLICIAL 1
Você não tem vergonha do que faz ?
POLICIAL 2
Que tal se nós te levarmos na delegacia pra acariação ?
A mãe olha para seu filho, ela está mais assustada do que a criança já esteve algum dia. Seu filho, olha para ela com um olhar malicioso e ao mesmo tempo sarcástico, rindo da situação. Um olhar com conotação de que aquele menino sabe que esta fazendo travessura.
OFF LUCAS
...Porque é que todo dia aquele cara passa lá em casa ?...
Seq. 07 : Olha a pamonha : int/dia
Todos dentro do metrô continuam a olharem fixamente para o menino e sua mãe, exeto pelos dois policiais que acabaram de entrar no trem e ainda não sabem da questão primordial. Os policiais continuam em pé, mesmo após a saída do metrô, mesmo tendo assento sobrando.
LUCAS
...Porque é que todo dia aquele cara passa lá em casa ?... gritando : Olha a maconha, olha a maconha, olha a maconha...
Neste momento todos riem, inclusive os dois policiais, para o alívio da mãe, que viu todos seus temores desaparecerem, e ainda viu surgir uma resposta coerente para a curiosidade do menino.
Seq. 08 : Graças à pamonha : ext/dia
O alívio da mãe é tão grande, que ela se sente como se estivesse em um lugar com as graminhas verdes, céu bem azul e uma brisa suave soprando em seus cabelos.
OFF MÃE
Meu filho... Aquele é o caminhão da pamonha. Pamonha não é proibido.
Quando o vento começa a soprar em seus cabelos, ela lava seu baseado à boca e da uma tragada como a muito tempo não dava. Uma tragada de felicidade, alívio frescor e liberdade.
