OS PECADOS DA TRIBO (9)
Roteiro de Coelho De Moraes, sobre a obra de José J. Veiga
Personagens: O Herói (H), Rudêncio (R), Consulesa (Ca), Cônsul (C), Pessoa (P), Pessoa 2 (P2), grupo de festeiros, Mamãe (M), Zulta (Z), Edualdo (E), Turunxa (T), turunxas, dois rapazes, dois garotos,
CENA 13
(garotos aparecem na casa de H com alguns artefatos. H recolhe alguns)
H: É que não estamos pegando mais isso. Podem ficar. (ficam alegres)
1: Ó! Nós sabemos de um lugar que se pode pegar muita caiara quase sem leite. Se quiser a gente te leva lá.
H: Opa! Caira grande e quase sem leite...é outra conversa. ( H toma do cesto) vamos então!
(Corte para o mato e brejo, por onde eles caminham)
2: O senhor fica sentado aí. Me dá o cesto que a gente volta com ele cheio. Não vaio demorar. ( H espera, bate nuns borrachudo, pega um cigarro e vai assistindo. Alternar imagens com os garotos pegando bambu, indo à beira do brejo e dando lambadas aqui e ali pegando uns negócios do chão e botando no saco. H de vez em quando ri. Sempre se ouve uns gemidinhos de criança fraquinha. Quando os garotos chegam com as caira H pergunta)
H: Que chorinho é esse, meninos?
1: É assim mesmo. Chorim de caira. Da primeira vez a gente fica com pena.
2: Meu pai diz que elas fazem isso de propósito, pra comover a gente. Liga não. É malandragem delas.
1: Elas deviam agradecer quem as pega, isso sim. Que alegri pode ter um bicho que veve nos brejos.
H: É. Bobagem minha. Vamos embora que está ficando tarde.
2: Vam’pegá as coisas.
H: Eu me arrumo por aqui. (barulho de passos mais além. H olha. De repente um turunxa. Ele olhou o que carregávamos, mas não vê que os garotos se escondem)
T: Fazendo o que?
H: Pegando caira.
T: Caira é? ‘Xeu ver. (H abre o cesto e o T se assusta) Isso é caira? Cor-de-rosa?
H: As daqui são assim. (T olha de novo)
T: Levante uma pra eu ver melhor. (quando H enfia a mão para pegar, ela geme) Epa! Que foi isso?
H: Chiou.
T: Chiou não. Gemeu!
H: Ó chiado dela é um gemido.
T: Pegue outra. (H mexe no saco e ela geme outra vez e o T me olha com cara de autoridade competente. T empurra os sacos com o pé) E aí dentro? Caira também?
H: Também.
T: Pegou tudo sozinho? (dúvida de H) É melhor não dizer nada. Quanto mais falar mais encalacrado fica.
H: Por que vou me encalacrar?
T: Tão inocente! (debochando) O que eu fiz para me encalacrar?
H: Pegar caira não é proibido. (T fica meio em dúvida. Nisso H se prepara para ir embora, pegando os sacos).
T: Pear aí. Está resolvido não. Você sabe de cor tudo o que é proibido?
H: isso não. Ninguém sabe.
T: Está vendo? Pegar caira pode não ser proibido, mas só caira comum. Essas aí são diferentes. Tem que ser proibido.
H: E se não for?
T: Se não for, mais tarde a gente vê. É muita sopa um paisano sozinho encher um cesto grande e vários embornais de cairas cor-de-rosa sem estar desrespeitando alguma lei.
H: O senhor é quem manda. O que é que eu faço com elas.
T: Jogue no brejo, ora.
H: Já devem estar mortas.
T: Então enterre, pra não ficarem fedendo por aí. (Fecha em H balançando a cabeça. Desvanece).