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Roteiro_de_Filme_ou_Novela-->A vida como um projeto-cap.16 a 20 -- 17/04/2000 - 09:39 (gilberto luis lima barral) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Cap. 16

Eu nunca fui uma pessoa indicada para essas situações práticas da vida. Olívia foi quem tomou a frente dos negócios. Ela não conhecia Louie, e nem podia, mas fez as coisas certas. Ligou para todos os lugares. Eu já estava mais calmo, mas a cabeça estava tomada pelas emoções. E a droga do Robbie estava demorando. Eu não queria que a polícia chegasse antes dele e de Baldim com a esposa. Era melhor que Sofia estivesse logo ali, para dar a sua versão. Vocês sabem como são esses policiais. Eles iriam achar estranho serem os últimos a chegarem. Mas a verdade é que eles sempre o são. E já chegam querendo impor os seus pontos de vista, e os seus tipos de organização. Eu detesto envolvimento com policiais, por isso, às vezes, prefiro que eles cheguem logo, façam o que tenham de fazer e vão embora. Pelo menos eles são pessoas bastante frias para lidar com essas coisas. A presença de Robbie e os outros ali, quando de sua chegada ajudaria bastante no caso.

E o cheiro estava ficando cada vez mais forte. Minha barriga que já estava doendo muito, piorou. Tinha que descer e procurar alguma bebida. Somente um whiskey me salvaria numa hora dessas. A descida de elevador demorou pelo menos uns quinhentos anos. Foi a descida mais demorada da minha vida. Parecia que o elevador estava indo para andares subterrâneos, que eu tenho a certeza, não haviam naquele prédio. Eu conhecia toda aquela construção, fôra meu primeiro apartamento comprado com dinheiro do teatro. Ali eu e Louie fomos em parte felizes.

Nos domingos à tarde eu e ela costumávamos subir ao último andar daquele prédio e ficávamos ali cantando as nossas músicas. Eu levava minha velha guitarra e o amplificador e ficava fazendo um som. Louie ajudava com sua doce voz e eterno ânimo. Às vezes reuníamos os amigos ali para uma farra. Mas eram melhores os domingos quando estávamos sozinhos. Naqueles domingos em que os amigos vinham Louie aparecia com a velha mania, que eu detestava e que me desconcentrava no instrumento, de fazer apostas com os outros de quem conseguiria andar maior distância pelo beiral da construção. Uns quarenta e cinco metros de altura. Era um negócio horrível de se ver. Eu próprio tive que me submeter ao sacrifício do tal concurso. Não sei como não morri, pois tão logo subi, naquele beiral de uns quatorze centímetros de largura, e me pus de pé minhas vistas se turvaram e eu não vi mais nada. Só sei que acordei uns cinco minutos depois, com os amigos, alguns morrendo de rir, outros com caras de assustados ao meu lado. Ainda bem que caí para o lado de dentro. Foi o último concurso naquela categoria que ela organizou, pelo menos enquanto eu estava ali com ela.

Mas o meu problema com a polícia, voltando ao assunto, é que não tenho boas recordações dela, principalmente por um fato que ocorreu numa noite de natal quando eu, Louie, e mais dois conhecidos, que não me lembro os nomes agora, fomos passear no Love Love, depois da ceia natalina, para vermos como estava o movimento. Não tinha quase ninguém lá e quem estava não deve gostar de relembrar o que aconteceu.

Andava tudo muito calmo. Quem estava naquela noite ali pôde presenciar a bizarra cena do policial que chegou completamente endemoniado, possuído pela droga maldita da sua ignorância intrínseca. Este policial não estava sozinho. Ele chegou num carro da polícia, mas somente ele desceu. O outro policial ficou ao volante do veículo, talvez para, se preciso fosse, saírem em retirada ou no encalço de alguém. Tão logo desceu do carro, com um bastão enorme de madeira na mão, pôs-se a bater com aquele cacete nos poucos notívagos. Na verdade, primeiro, ele começou dando com o porrete sobre as mesas e nas costas das cadeiras e gritando que queria saber da cocaína. Como essa sua performance, amedrontadora e estabanada, não surtira efeito ele passou a espancar as pessoas.

Me lembro que o Allison e alguns outros poucos garçons que estavam lá tentaram uma conversa, mas o policial não queria moleza. E no estado que se encontrava dificultava uma aproximação. Ele estava completamente alucinado, drogado. Para além da brutalidade que existe normalmente num policial. E os gestos e palavras, na tentativa de acalmá-lo ou coisa parecida, pareciam surtir um efeito contrário. Eu e meus amigos, que estávamos numa mesa do lado de fora do bar, assistíamos a tudo, mas não podíamos fazer nada. Éramos os únicos que ainda não tinham sido alcançados pela visão da fera besta ainda.

O policial que ficara dentro do carro também nada fazia para amenizar a situação. Nós pensamos em ir falar com ele, mas logo percebemos que ele não era a pessoa indicada no momento. Ele parecia tão endemoniado quanto o outro, ou senão mais, pois estava numa mesma posição acompanhando todo o espetáculo sem dar nem ao menos uma piscadela. Segurava o volante com uma firmeza tal, que poderia ser até dado por morto, se desse modo posso lhe explicar sua imagem.

Entramos todos numa situação de extremo risco. Se apenas com aquele cacete o policial já estava nas alturas, imaginem quando ele se lembrasse que trazia uma arma no coldre. Ia ser o fim para muita gente ali, pois o cara, eu não sei como explicar o seu estado, não estava para brincadeiras. Vocês já devem terem visto episódios assim na t.v., mas na vida real é mais pesado. Quero dizer, me desculpem, na virtual também as coisas são pesadas.

Nessas horas a gente consegue, às vezes, uma solução. Nem sempre é assim. Na maioria das vezes a coisa caminha para uma tragédia. Mas conseguimos, pelo menos nós quatro, disfarçadamente nos arrancarmos dali. O policial tinha pulado no lugar certo, mas na hora errada. Ninguém teria drogas ali numa noite de natal. Somente ele era tão doido de pensar isso.

No primeiro aparelho de telefone público paramos e ligamos para o 190, gesto meio patético, mas, não voltamos ao local para vermos no que deu. A gente já tinha perdido a fé com o espírito natalino. O melhor foi irmos para casa esta noite. Todos sabem que o natal não é um dia bento, basta consultar os dados das delegacias, etc.



Cap. 17

Parte de meu projeto estava se afundando. Louie estava morta. E eu ali tomando minhas cervejas. Do lugar onde estava dava para ver quem quer que chegasse. Esse bar fui eu que com muita insistência consegui estabelecer. Na verdade não é um bar, mas uma espécie de “secos e molhados”. Ele fica na quadra 407. Como não tem nome eu o apelidei de 407 mesmo. Não é uma paisagem fantástica como a do Love Love, mas como fica em frente ao bloco de apartamentos de Louie, eu o adotei. Há muito eu não vinha aqui. Este é um lugar das lembranças também. No entanto é daqueles lugares que se você pensar um pouco não o escolhe para morar. Era o apartamento de meus primeiros trocados com o teatro. Depois de nossa separação Louie ficara com ele, mas também, ela nunca gostou muito desse lugar. Caso tenha se suicidado, como parece a cena, esse lugar deve ter tido uma influência enorme, pode acreditar!

Por dentro o apartamento é muito bom, tem até varanda. A sala é enorme, dois quartos e outros cômodos. É um desses tipos de construções que estão por aí no atacado. Daqueles conjuntos de prédios, em blocos, não muito altos compostos com um play-ground e duas vagas na garagem. Não existem muros entre os conjuntos e o asfalto é contornado por gramados. Tomada a palavra apenas em sua acepção poderíamos dizer que se trata de um condomínio. Fomos felizes ali durante um certo tempo. Mas não conseguimos realizar o sonho de morrermos juntos. Ninguém consegue isso mais, isso é uma constatação, apenas. Talvez o lugar tenha tido novamente alguma influência.

Para mim era um lugar, que distando 15 quilômetros do centro, não era compatível com minha vida. Os amigos gostavam muito desse lugar, mas na verdade é um lugar chato e quase deserto.

Essa venda de “secos e molhados” que transformei, por insistência, em bar era o único lugar que eu frequentava. E sempre sentado nesse banquinho, que é do mesmo modelo do banquinho lá do Centro, mas sem o forrinho de renda branca, é que eu tomava as minhas cervejas.

E foi sentado nele que eu vi chegar os primeiros carros de polícia, dos civis e dos militares. A entrada do prédio estava tomada de carros e gente. Mas nada de Robbie. Faziam duas horas e pouco que ele tinha saído. O dono da venda estava louco para fechar e ir para o meio da confusão. O que caracteriza um dono de uma loja de “secos e molhados” é sua curiosidade com as coisas de sua comunidade. E até por isso, ou seja por me conhecer um pouco, ele não poderia, numa hora destas, me deixar de boca seca. Mas uma cerveja apenas, lhe prometi. Eu precisava, de qualquer modo, subir e ver como andavam as coisas, embora não tivesse o mínimo interesse em ver Louie naquele estado. Também eu tinha que ir dar atenção para Olívia, afinal ela estava se virando sozinha no caso. Foi muita gentileza e presteza sua, eu nunca saberei como recompensá-la por esse momento. Espírita de religião, como Olívia é, adora ajudar nesses casos extremos. A sua presença foi uma dádiva dos céus.

Antes mesmo de eu subir a polícia já vinha descendo com o corpo na bandeja do rabecão. A curiosidade é uma coisa engraçada. Nessa história, que eu resolvi contar para aliviar o peso, foi a primeira vez que me aconteceu de eu precisar de uma palavra e não tê-la. Eu tentei no Departamento de Homicídios, na Medicina Legal, no Departamento de Transplantes de Órgãos e, cegamente no dicionário, um sinônimo para esta tal bandeja onde estava o corpo de Louie. Falaram em gaveta, em padiola, em maca, mas eu sei que o nome não é esse. Usei o termo bandeja porque esse foi o indicado pelo motorista de um rabecão, mas tenho certeza que não é.

Cheguei e me apresentei como o ex-namorado, o ex-marido e tudo. Um possível suspeito, talvez, mas eu não era. E também não fui tratado como tal. Foi a primeira vez que vi gentileza nos gorilas. Eu e o responsável pelo caso conversamos o de praxe. O corpo seria levado à Medicina Legal, pela manhã sairia o laudo pericial com a causa mortis e o atestado de óbito para continuarmos com os procedimentos usuais.

Na partida do último carro policial tudo voltou ao normal no local. Tudo voltou a ser um deserto. Eu e Olívia subimos, demos alguns poucos telefonemas e descemos. Nada de Robbie chegar. Pedi a ela que me acompanhasse em uma cerveja no Love Love antes de irmos para casa. Ela aceitou. A gente tinha que acertar a coisa da jukebox, que a Olívia destruiu, com o pessoal do bar.



Cap. 18

Chegamos e fomos direto para o reservado. Allison veio logo com a cerveja. Ele era o único garçom que me atendia ali. Eu gostava do seu atendimento e de sua amizade. Ele conhecia vários clientes. Conhecia mesmo, sabia da vida e das confusões da vida de cada um dos que frequentavam o Love Love. O negócio da jukebox, por exemplo, ele não quis nem falar. Ele sabia que alguma merda tinha provocado aquilo e que não era culpa nossa mesmo. Somente quis receber o reparo porque não tinha como cobrir do próprio bolso. Isso ele repetiu umas três mil vezes me dando daqueles seus abraços apertados. Ele realmente é uma figuraça. E de tanto todos falarem, quer dizer, usarem esse adjetivo para com ele, Allison vem aprimorando esses seus modos.
Depois dos primeiros goles vieram uma enxurrada de perguntas e questões sobre Louie. Olívia até esqueceu o seu problema, graças a deus. Mas eu estava com muita fome e ela também. A cerveja fizera um buraco na minha barriga. Precisava urgente de comida, pois o problema com meu estômago é sério, quando fico com esse tipo de fome ele dói muito mais do que no normal.

Pedimos dois espaguetes ao sugo. Eles vieram no ponto, com todos os ingredientes que a nossa culinária introduziu no seu preparo. Allison trouxe duas canecas de vinho tinto para acompanhar a refeição. Ele sabe como ninguém levantar os ânimos das pessoas.

Mas no meio da refeição, daquele molho avermelhado de tomates e do gosto amargo do vinho me veio vindo todo o terror da morte de Louie, o sangue, a tesoura enfiada no pescoço, o rim de almofada. A coisa aparecia no écran que se formava do fundo do prato. E quanto mais eu ia mexendo o garfo mais aquele macarrão ia tomando a forma de glândulas, de veias, de tripas. E as lágrimas começaram a jorrar e foram inundando o prato e enralecendo o caldo do molho que ia ficando transparente e mais imagem deitava no tal écran. Devo ter mais de um milhão de minutos dentro desse cenário dos infernos. A única coisa que me prendia a esse mundo era a mão de Olívia que segurava a minha com toda a forca do seu espírito espírita. Perdi a fome e a vontade de comer, além de tudo o que eu já tinha perdido. Não fosse o sonho de montar o filme a minha vida poderia terminar ali mesmo que eu me daria por satisfeito. Fui ao banheiro, lavei o rosto, molhei os cabelos e voltei para o reservado. A mesa já tinha sido recolhida.

Olívia me deu o sorriso mais lindo do mundo, com os olhos cheios de um brilho que poucas vezes vi, trocou de poltrona e veio sentar-se ao meu lado, bem coladinha, sem dizer uma única palavra. Apenas me abraçou. Ficamos assim por uma eternidade. Allien que desde sempre conhecera as melhores garotas tinha me apresentado uma raridade, agora eu tinha certeza disso. A diferença entre ela e Louie é que ela não tem aquele cheiro agridoce que sempre me vem às ventas quando penso em Louie.



Cap. 19

Estava pedindo a cerveja saideira quando chegou Elise trazendo na mão um envelope pardo. Não devia ainda estar sabendo da metade dos acontecimentos, pois trazia no rosto a expressão costumeira. Com um sinal ela pediu um copo ao Allison e me entregou o envelope que trazia consigo.

D. Inês, a minha professora de redação, tinha razão, quando eu viajo para fora do tema eu perco as estribeiras. Eu pude descobrir agora que minha gramática, ao contrário do que eu pensava, vale mais do que o meu texto. Aquele negócio de eu colocar algumas imagens instantâneas no ensaio sobre teatro para salas de bate-papo tinha sido um equívoco sem tamanho. O ensaio foi devolvido. Os sinais da minha amiga e editora indicavam absurdos por todo o texto.

A minha teoria é que a minha primeira incursão pela categoria - era o meu primeiro ensaio para jornal- inebriou os meus sentidos e os ensinamentos de D. Inês, talvez. Eu viajei para além do aceitável no tema. O conteúdo gramatical estava ótimo, mas o textual era um caos total.

Uma outra hipótese é a questão de eu escrever sem revisar. Talvez , nessa minha viagem, fosse importante introduzir esse procedimento da revisão. Para um escritor mediano de peças teatrais é um perigo esse negócio de escrever. Pode ser que um autor passe a sua vida escrevendo sobre coisas sem nenhum valor estético, artístico ou cultural até. Quem é que sabe ? Mas triste é o escritor que, enfim, não escreve. Esse é o pior da espécie, porque como dizem os tarados a coisa sobe para a cabeça.

Elise, editora que no momento deixara a velha amizade de lado, dizia que o texto era enorme, confuso e difuso (bem diferente do que aquele escritor-pensador propunha para a literatura do próximo milênio e que ainda não me veio o nome à cabeça). Que o texto falava de tudo e de nada. Me chamou disso e daquilo. Por fim disse que eu estava louco e que eu bebia mais do que escrevia e isso e aquilo. Terminou por enveredar num discurso que me ofendeu profundamente.

O soco que lhe dei foi o suficiente para fazê-la atravessar o vidro que separava os reservados. Também se eu não tivesse feito isto na certa ouviria muito mais. E talvez até mesmo Olívia tomasse as minhas dores, o que seria pior porque briga de mulheres, eu acredito, são piores que as de homens. Com esse golpe resolvi de bate pronto o problema, pelo menos parcialmente. Ficava ainda o problema do meu texto por resolver.

Não houve tempo nem necessidade de envolver a polícia no caso. Elise saiu dali numa carreira enorme, gritando que eu tinha ficado louco, que eu era um merda e que a minha vida estava acabada. Ela não sabia nem da metade. O pior é que eu contava com ela para o projeto do filme. E nem tinha ainda lhe dado as últimas notícias. Talvez se tivéssemos começado a conversa pelo o caso de Louie ela saberia o estado em que eu me encontrava e teria deixado para outro momento os seus conhecimentos críticos.

Sem me consultarem Olívia e Allison decidiram que já estava na hora de eu ir para casa. E eu quase fui mesmo. Não fosse o tumulto causado no local pela notícia que vinha do telejornal eu estaria em casa nos próximos minutos. Realmente eu tinha tido um dia dos infernos e já estava ficando meio alto. Mas aquele notícia era como que um coroamento para as minhas desgraças. Por isso acredito muito em ditados, em lendas populares e até em intuicões. Notícia ruim vem em bloco.



Cap. 20

Um acidente sério envolvendo Robbie. Todos no bar ficaram estupefatos e incrédulos. Não podia ser, a poucos horas Robbie estava ali, vivo e são, desfilando pelo salão aquelas suas passadas clássicas. A chamada no telejornal falava em um acidente sério envolvendo o belo jovem filho do ex-deputado Dr. Dornelles. Tinha mais gente envolvida, mas o repórter não sabia ainda de quem se tratava, e eu nem quis esperar. Saímos num carro, agora não me lembro com quem, no mesmo segundo, para a estrada onde acontecera o acidente. Não demoramos um hora para chegar. Era na estradinha de terra para a casa de Baldim. Ele não tinha nem mesmo conseguido chegar até à casa de nosso amigo. Logo avistei Sofia que também me viu e veio correndo na minha direção em prantos. Toda a imprensa já estava no local. Aquela estradinha erma e bucólica, onde poucas vezes passava algum veículo, estava tomada de gente. E já eram quase 02:00 horas.

O acidente era naquele mesmo ponto onde encontramos Baldim da última vez. De frente para a mata do Jambreiro. Naquela descida que dá para um despenhadeiro. Uma estradinha simples, mas por isso mesmo perigosa. E o outro envolvido era exatamente Baldim, por isso também Sofia chorava tanto. O negócio, ninguém soube explicar exatamente como aconteceu, pois somente os dois estavam no local na hora e agora estavam mortos e os mortos, nesse mundo, não se comunicam.

Segundo Sofia, Baldim impaciente com o acontecido com Louie, e tendo recebido um recado para que fosse urgentemente me telefonar, resolveu ir até o posto telefônico ligar. Uma idiotice absurda, mais que uma coisa de destino. Se eu pedi que ficasse em casa estava certo do que falava. Saíra em sua bicicleta e naquele ponto ali da estrada os dois veículos se encontraram e se chocaram. Pode ter sido a má visibilidade da noite ou qualquer outra falha. O certo é que o carro de Robbie estava lá embaixo no final do despenhadeiro todo destruído e a bicicleta de Baldim ainda não havia sido encontrada, apenas o seu corpo estraçalhado e preso entre uns daqueles pés de jambreiros. Ou talvez seja coisa do destino mesmo. A movimentação toda se estendeu por pelo menos uma hora.

Terminado tudo ali tivemos, eu e Olívia, que acompanhar Sofia até sua casa. Eu e Olívia tínhamos tido um dia pesado, mas não podíamos faltar com alma tão irmã. Fomos à pé. As crianças de Sofia tinham ficado com a vizinha amiga, inclusive, o que reclamava uma nossa ajuda até física mesmo no trato com a ocasião: carregar as crianças, carregar alguma sacola ou qualquer outra coisa. Estávamos de qualquer modo bem próximos da casa dela. A gente poderia fazer um chocolate quente para as crianças ou para todo mundo.

E foi o que fizemos. Já eram quase 04:00 horas quando ficou pronto. Na minha caneca eu acrescentei cinqüenta ml de conhaque e umas trinta de licor. Isso levanta todo mundo que bebe e adormece todos os que não bebem. Foi feito por e para mim. Melhorou um pouco as coisas, essa bebida.


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