Um dia ele ouviu que a Verdade era o maior tesouro que uma pessoa poderia encontrar... E saiu procurando esse tesouro, mas muitas vezes foi enganado porque percebeu que no mundo a Mentira se passa facilmente por Verdade enganando a muitos. Mas ele não desistiu, e andou por muitos lugares e por muitos anos procurando. E depois de ser muitas vezes enganado resolveu que não mais perguntaria por ela, porque muitos vendiam a Mentira pelas praças e templos, não porque fossem enganadores, mas porque foram eles mesmos enganados sem ter como evitar. E pensou uma parábola a respeito que alguém só pode ser um bom vendedor de veneno, se tanto vendedor como comprador são convencidos de que não é... E quando teve esse pensamento, foi que uma luz brilhou diante dos seus olhos, e ouviu uma voz muito clara dizendo:
“Sou eu a Verdade quem te mostra isso...”
Olhou ao redor, e descobriu de onde vinha a voz. Era algo brilhante diante dos seus olhos. E ele se abaixou e teve receio de tocar aquela preciosidade, mas novamente ouviu:
“Você me procurava e agora estou aqui ao alcance da sua mão”.
Então criou coragem e pegou a Verdade, e a segurou em sua mão. Levantou-se e saiu correndo com o coração saltitante de alegria. Mas chegando em casa não sabia o que fazer, e teve um pensamento estranho de que quem tem a Verdade é quase como um marginal nesse mundo de mentira... E receoso pensou que alguém pudesse roubá-la e a escondeu debaixo da cama. Mas mesmo com a Verdade escondida não conseguia dormir de tanta felicidade. Inquieto levantou-se e queria sair, mas não sabia o que fazer com o tesouro que tinha. Se a levasse o consigo, pensava, poderia perdê-la ou ser assaltado. Se a deixasse, poderia ser encontrada por alguém que o roubasse enquanto ausente. Então cavou um buraco no meio de sua casa, escondeu a Verdade, cimentou por cima, colocou uns móveis no lugar e saiu...
E como conhecia a Verdade, passou a ouvir os discursos proferidos nos púlpitos e palanques, e comparando com o que conhecia balançava negativamente a cabeça... Mas um dia quando ouvia um discurso alguém viu seu gesto e perguntou:
“Você não concorda?...”
Ele balançou a cabeça e sorriu sem graça, mas com medo não disse nada e saiu. E andou por muitos lugares, e visitou muitos templos, e ouviu mais discursos e viu que não havia quem conhecesse a Verdade que ele guardara. E assim viveu muitos anos e cansado de vir a Mentira passar-se pela Verdade todos os dias lembrou de olhar o seu tesouro. Tirou os móveis que já eram muito velhos. Quebrou com dificuldade o piso que estava já trincado, e cavou com dificuldade o chão, porque ele próprio já era velho... E com ansiedade abriu a caixa, mas a Verdade estava lá assim como havia deixado, porque só ela não envelhece... E o homem com o coração disparado de emoção pegou a pedra na mão, e contemplou o brilho que ela tinha, e uma lágrima rolou em cada face porque mais uma vez lembrou que a Mentira se fazia passar pela Verdade todos os dias, sem que os homens soubessem que são enganados.
Então disse em voz alta:
“Já sou velho, e escondi todos esses anos o tesouro que encontrei. Será que não perdi o meu tempo sem ter falado do que sei?... Será que não teria mudado o mundo se tivesse mostrado a Verdade?... Será que o meu nome não teria sido escrito nos livros eternos se eu não tivesse escondido esse tesouro que os homens pensam que conhecem, mas que na verdade só viram o seu arremedo?... Será que eu não perdi a minha vida escondendo a Verdade que me foi confiada?...”
Então ouviu a voz que ele conhecia muito bem:
“Sou mesmo um tesouro escondido... Não há como me mostrar senão aos que são da Verdade. Porque até hoje todos os que quiseram me mostrar ao mundo foram esfolados por ele. Mas saiba que está chegando o tempo em que não poderão mais resistir a mim. Está chegando o meu dia em que não mais ficarei escondida...”
Então o homem disse:
“Também está chegando o dia que não mais ficarei nesse mundo, pois já os meus dias são muitos. Que devo fazer desse tesouro”?
Ele ouviu em resposta:
“Não é você quem cuida de mim; sou eu quem cuida de você. Não é você quem me guarda; sou em quem guardo você. Não sou esta pedra que você tem na mão; sou o que ela significa... Já está chegando o momento em que me levantarei e altearei a minha voz e todos me ouvirão. Mas isso não depende de nenhum homem, mas somente de mim mesma. Porque fui eu quem permitiu que a Mentira tomasse meu lugar e enganasse somente os que os seus corações são inclinados para o engano”.
O homem olhou em sua mão e não havia pedra alguma. E pelo restante dos seus dias ficou em dúvida se tinha ou não encontrado a Verdade. Antes de sua morte eu o conheci, e conversei muito com ele. Estava já muito velho e não sabia dizer se foi um fato ou um sonho que aconteceu em sua vida...
Não sei porque não tive como dizer a ele que a pedra estava comigo...