Meu nome é Tomé.
Tenho muitas histórias pra contar, como testemunha que sou do que vi e vivi junto com uns amigos, e do que presenciamos junto ao homem mais impressionante que já pisou sobre a terra. Embora fosse mais jovem que a maioria de nós, tanto eu como os meus companheiros o chamamos de Mestre.
Já foi dito muita coisa a seu respeito. Muita verdade, mas uma quantidade infinitamente maior de mentiras. Isso porque somente uma pessoa da estatura do homem que conheci, pode inspirar tanta lenda em torno de si como ele inspirou.
Mas aquilo que mais parece falso sobre ele é justamente a verdade que presenciei e que hoje tanto tempo depois, fico a imaginar se não foi uma ilusão de ótica, ou um truque da mente. É que a minha mente é assim turvada por tantos acontecimentos presenciados por mim e meus companheiros...
Eu disse que tenho muitas histórias e vou contar uma só como exemplo...
Um dia nós estávamos no barco, atravessando o braço de mar, e o Mestre havia ficado na praia ainda atendendo a multidão como sempre fazia. Ele havia dito que nós pudéssemos ir “andando”, porque nos alcançaria. E ele não tinha barco para nos alcançar, mas como nós tínhamos muitas vezes presenciando coisas estranhas que fazia, resolvemos obedecer sem questionar. E fomos. Quando já estávamos distantes da praia vimos ao longe um vulto como que suspenso acima das águas. Alguns de nós ficamos apavorados e nossas mentes jogaram com todas as possibilidades do que pudesse estar acontecendo. Poderia ser um fantasma como alguém sugeriu, e num tumulto como esse até isso era de se acreditar, porque nada de lógico poderia explicar o vulto de um homem andando tranqüilamente sobre as águas, como se fosse em terra.
Quando o vulto estava a uma pouca distância de nós, ouvimos a sua voz. Era a voz do Mestre, e tudo se explicava para o grupo, mas confesso que menos pra mim. Eu duvidei e pensei que fosse um truque, e disse isso a Pedro que estava ao meu lado. E ele como sempre foi muito afoito, gritou em direção ao Mestre que se de fato era ele, que ordenasse que fosse encontrá-lo também andando sobre as águas. E ele ordenou que fosse, e nós vimos com os nossos próprios olhos, quando o nosso companheiro andou um pouco e, e um instante depois começou a afundar. O Mestre estendeu a mão e não deixou que ele afundasse de todo. Em seguida os dois subiram ao barco.
Dentro do barco havia um homem que perguntou a Pedro:
“Como é que faz esse truque, Simão?”
Pedro respondeu:
“Não é um truque. É fé... Tenha fé, e ande quando quiser”.
O Mestre que estava do outro lado e que parecia não estar ouvindo a conversa porque estava longe para isso, gritou de lá:
“Pedro, ensine ao homem uma coisa mais útil!...”
Hoje, quase dois mil anos depois estou aqui nesse mundo observando que existem muitos discípulos de Pedro que ganham a vida ensinando às pessoas a fazerem truques com o nome do Mestre como andar sobre as águas e outros milagres terrenos...
